Monique Lopes Lima, diretora de projetos especiais da Africa, será parte do júri do Cannes Lions de 2019 na categoria Print & Publishing. Em 2018, sua agência faturou um Grand Prix na área para o Brasil com a premiada campanha Tagwords, para Budweiser (foi um dos dois GPs brasileiros naquele ano, o outro foi em Mobile, conquistado pela Grey para o Reclame Aqui). O troféu reiterou a tradição do país no setor. Na entrevista a seguir, a profissional elenca as principais características de um bom print, fala sobre a importância do festival e comenta suas expectativas. “Eu quero ver propósito e inovação”, diz a diretora sobre os trabalhos que espera julgar.

Reação
Recebi a notícia e fiquei superfeliz e honrada, claro. Acho que é um momento incrível para mim e para minha carreira. Minhas expectativas são as maiores possíveis. Eu espero ver uma inovação. Trabalhos que transcendam o print. Todo ano que vamos para Cannes a gente aprende.

Off e On
Um bom print você bate o olho e já entende, mas eu acho muito bacana quando você consegue colocar uma interatividade nisso também, como fizemos na campanha Tagwords, para Budweiser. Nós realmente conseguimos fazer a campanha com os maiores astros da música sem pagar um real de cachê. Conseguimos hackear totalmente o sistema. Quando a presidente do júri, Kate Stanners, chairwoman & global chief creative officer da Saatchi & Saatchi Global foi entregar o prêmio, ela disse: ‘Eu odeio vocês’. Perguntei o motivo e ela completou: ‘Porque essa era a ideia que eu queria ter tido’. Nós dissemos: ‘Bom, a gente te ama, você reconheceu e premiou o nosso trabalho com o Grand Prix’. Eu acho que print realmente tira a gente da zona de conforto. É isso que eu espero ver por lá. Eu espero também ver print com propósito. Isso também é transcender. Você colocar o Bill Gates como Billie Gates na capa da Forbes e dizer que ela estaria em quarto lugar no ranking de bilionários porque nos Estados Unidos as mulheres ganham 20% a menos, isso consegue agregar um propósito dentro da sua marca.

O festival
Eu acredito que ainda é o Festival mais importante de todos. Ele ainda dita o caminho que a gente está seguindo. Todos os anos vemos trabalhos incríveis, com qualidade absurda e inovadora. Ainda estamos com a barra alta quando falamos em Cannes. O festival consegue se manter todo ano num nível alto de padrão e de qualidade nos trabalhos que vemos sendo premiados.

Dicas
Eu quero ver propósito e inovação. A gente não tem de pensar em fazer print para nós, publicitários. Precisamos pensar em fazer para todos. Para o tio dentista, o pai advogado etc. Para que eles vejam a peça e pensem: ‘que boa essa mensagem’. Acho que a dica é inovar com o velho simples e bom.

Avaliação
A gente ainda não começou. Print é só lá em Cannes. São vários prós e contras. O positivo é que vamos ver tudo de uma vez, mas contra porque não é tão eficiente você chegar lá e ainda não tirou o trabalho que não é o crème de la crème. Vai ter de cortar lá. Fora da avaliação, particularmente, tem alguns trabalhos.Print é uma categoria muito específica, não é algo que chega na nossa frente de uma maneira muito grande. Não é um filme que você vai colocar mídia e o Brasil inteiro vê. Tem alguns trabalhos, sim, que gostei. Tem um da DDB Equador que questiona muito o plástico no oceano. A peça mostra brinquedos feitos do material apontado armas para animais marinhos, como uma foca, por exemplo. É triste mas é muito bom. Tem também um outro trabalho da DDB que são animais sufocados por um saco plástico. Estamos vendo muita coisa nesse sentido por causa de dados como aquele que falaz que os oceanos terão mais plástico do que peixes em 2050. Então, são muitas pessoas se movimentando nesse sentido. Tem um trabalho da Almap também muito legal de guaraná que são os anúncios que viram canudos de papel e a tinta é comestível.