Apesar de uma ligeira melhora na economia, porque o Brasil é sempre maior que as suas crises, nosso país somente vai se solidificar como grande nação quando sua legislação sofrer um pente-fino, desde a Constituição até as leis menores, evitando abusos e benefícios indevidos em seus textos.
Sem se falar em alguns absurdos, como o que desde há muito vem atormentando o país, que se traduz na indicação pelo presidente da República dos cidadãos que ocuparão vagas deixadas no STF.
A partir daí, conspurcando o mais alto grau da Justiça em nosso país, tudo pode se complicar, como temos visto em demasia nos últimos tempos.
Vejam o caso do atual presidente do Supremo, o ministro Dias Toffoli, reprovado em dois concursos para ingressar na magistratura paulista, o que em qualquer país o inviabilizaria para alçar ao Supremo, tendo conseguido porém nele ingressar por indicação de um ex-presidente da República e até se tornar, como agora, presidente da mais alta Corte de Justiça do país.
Como ainda é muito moço, permanecerá por longo tempo ocupando uma cadeira no mais importante colegiado do Judiciário pátrio, mostrando na leitura dos seus votos e pareceres abertos as limitações do seu conhecimento jurídico.
É bom que se frise que ele não tem culpa disso. O culpado foi quem o indicou e bem o sabemos quem foi. Com essa esdrúxula possibilidade, perde o país e perdemos todos nós, submetidos a decisões nem sempre legais, ou, na pior das hipóteses, inadequadas para o que está em pauta.
Esses hábitos protecionistas de um Brasil antigo têm de ser revistos e eliminados, caso queiramos realmente não apenas ser a oitava economia do mundo, mas também junto com isso um país mais sério, cujas grandes decisões judiciais choquem menos a população e não porque esta quer o errado, mas exatamente porque deseja o contrário.
Embora as decisões judiciais sobre questões da vida política do país sejam sempre contraditórias, conforme a cor do cristal com que se as vê, há que se respeitar um mínimo de bom senso na prolatação das mesmas, deixando para trás aquele velho conceito de que se o cidadão soubesse como são feitas as leis e as salsichas ficaria muito mais pasmo.
Já evoluímos o suficiente para desatender a lógica não apenas na formulação das leis, como também e principalmente na sua aplicação. Elas e seus efeitos devem ser duradouros e não mudar constantemente de interpretação conforme o que está sendo julgado e por quem.
Apesar de um novembro repleto de feriados, sendo perfeitamente dispensável o do dia 15, a sua aproximação com as festas natalinas sempre injeta maior ânimo na população e no comércio, o que se traduz em maior produção na indústria.
Daqui até o Natal propriamente dito, teremos uma economia mais movimentada, com a ajuda da injeção no mercado do 13º salário, este sim criado por uma legislação em total acordo com a população e aplaudida até pelo empresariado, que enxergou muito rapidamente nela a condição de aumentar o faturamento das empresas em novembro e dezembro.
A questão então passa a ser como se comportará 2020, cabalístico pela repetição dos números e uma interrogação política quando se recorda que uma vez mais teremos eleições, desta feita para prefeitos e vereadores.
A política dita o comando do país e só por isso temos de nos sujeitar a esse incômodo que são as eleições ano sim, ano não.
Ainda estamos com as presidenciais na memória, com toda a luta travada na campanha e a surpresa para alguns da perda do poder pelo PT.
Logo ali adiante, porém, começaremos tudo de novo, com o debate ideológico voltando ao palco dos principais acontecimentos do país, separando irmãos muitas vezes mocinhos e juntando outros, geralmente bandidos.
Mas, assim tem sido e assim será, em um país que consegue se manter no 8º lugar do ranking econômico do planeta, mas não sabe fazer dessa invejável posição um salto para o futuro, propiciando menos miséria e um pouco mais de ascensão para todos.
Curiosamente, a propaganda – a atividade publicitária – vem procurando fazer isso e com sucesso em nosso país. Antes chamada de a mais capitalista das atividades, aos poucos seus players, a partir dos próprios anunciantes, mas anabolizados por publicitários cuja grande maioria em nosso país veio das classes B e C (e agora chegando um bom contingente da D), foram percebendo o óbvio: aumentando o poder de compra da população, realidade estimulada pela atividade publicitária, valorizava-se e abria-se um caminho maior para a própria publicidade.
Essa equação que tem uma mistura de social, empresarial, profissional e para muitos até surpreendente, uma paixão publicitária inveterada do povo deste país, que apesar de tudo pode se considerar feliz, é sem dúvida uma das principais responsáveis pela excelente qualidade da nossa propaganda.
Mesmo os sete outros países que estão acima do nosso ranking econômico não possuem, em grande escala como aqui, uma publicidade tão criativa e pertinente (levando-se em conta o que é anunciado e para quem).
Permitimo-nos uma comparação que pode ser considerada até extravagante por alguns leitores, mas que para nós é a mais pura realidade: o nosso futebol muito se assemelha à nossa propaganda e até por isso costumam andar juntos, um apoiando o outro no caminho do sucesso e em busca de resultados.
São ambas atividades que não nasceram aqui, mas aprenderam com o nosso atrevimento a se desgarrarem das suas origens e adotarem a nossa nacionalidade.
Impossível encerrar estas linhas, sem cumprimentar o jornalista Fernão Lara Mesquita com o seu texto preciso Toffoli ainda não é a Constituição, na edição de 19/11 do Estadão.
Simplesmente imperdível e absolutamente verdadeiro.
Por derradeiro, elogios aos nossos colaboradores Madia de Souza (Arquitetura da Crença), Alexis Pagliarini (20 pontos em 2020), Stalimir Vieira (A neura da relevância) e Rafael Sampaio (Decisões incompreensíveis), lembrando em texto talentoso que estudo recente indica que os comerciais veiculados na TV tradicional atingem sete vezes mais audiência que no YouTube.
Armando Ferrentini é diretor-presidente e publisher do PROPMARK (aferrentini@editorareferencia.com.br)