Como alguém já disse, o único índice que permanece igual ao índice oficial da inflação no Brasil, é ele mesmo. De resto, nenhum segmento de produtos ou serviços ficou abaixo dos 6% de aumento para o consumidor em 31 de dezembro de 2013, em relação a 1º de janeiro do mesmo ano.
A exceção são os reajustes salariais, que em sua grande maioria obedece aos níveis oficiais e é aí que reside a grande falácia.
Quem vai à feira, ao armazém, aos supermercados, quem compra uma roupa ou outro bem de consumo, quem necessita de um medicamento, sabe que a versão oficial não passa de um arranjo.
Estamos falando desse grande inimigo que deve ser combatido sem tréguas chamado inflação, o tributo mais elevado que incide sobre o bolso de quem vive de salário.
O Plano Real conseguiu a estabilidade econômica por alguns anos, mas como os nossos governos, em todos os níveis, gastam mais do que podem, aos poucos o dragão foi voltando e aí está ele, ainda disfarçado de menor de idade, com 5,9% de atuação em 2013.
Não devemos nos iludir com esse número que é seguramente maior, mas o mais importante é evitar a sua expansão. O aperfeiçoamento da cidadania também comporta exigir mais dos poderes públicos e uma das principais exigências é a contenção de gastos, pois são os excessos nesse sentido que alimentam de forma vigorosa o bicho que ainda cabe numa vala comum.
Quem viveu os anos 60, 70 e 80, sabe perfeitamente o que significa a corrosão diária da moeda, a corrida aos bancos para se aplicar no overnight um cheque, por menor que fosse, recebido naquele momento e antes que os bancos fechassem. Porque no dia seguinte o valor nominal daquele cheque estaria defasado em cerca de 1%, diminuindo o seu poder aquisitivo.
Poucos acreditam hoje, a não ser consultando os jornais e revistas da época, ou dando uma busca no Google, que quando José Sarney entregou o governo a Collor de Mello, a inflação do mês atingiu cerca de 84%.
O país, que ainda hoje tem muitos bolsões de miséria a serem enfrentados, há um quarto de século, com pouco menos de 100 milhões de habitantes (contra os 204 milhões de hoje), vivia o drama então insuperável da mortalidade infantil crescente.
O Brasil mudou muito rapidamente e a mola propulsora dessa mudança residiu no sucesso do Plano Real, que corrigiu décadas de rumos mal traçados.
Para que a história não se repita – o que pode, sim, ocorrer e não como farsa – é necessário que a opinião pública brasileira volte a sua preocupação para o Brasil que queremos.
Será o da ingovernabilidade, onde o sentimento que aflora é o de que somos uma enorme nau sem comando, que mesmo assim tem sustentação graças aos esforços de muitos abnegados?
Ou nossa vontade é a de que o Brasil, com todos os seus blefes e espalhafatos, conquiste definitivamente um olhar de grandeza sobre o seu destino, repartindo melhor o PIB, mas cobrando seriedade dos seus governantes para que isso de fato ocorra o mais rápido possível e sem amargas exceções?
Não há bom juiz sem o seu exemplo. Faça o que eu mando e não faça como eu faço é uma sentença de ordem superada, incabível nos dias que correm, por todas as transformações que custaram caro à civilização – e não apenas ao nosso país –, mas que aí estão em contraponto gritante com o passado.
Se o mundo melhorou – e de fato melhorou –, cabe-nos acompanhá-lo, pois é a única forma de também melhorarmos e ainda por cima com a vantagem de queimar etapas.
Enquanto o Brasil discute a bobagem do rolezinho, assistimos estáticos à sobrevida do nosso sistema de representação política totalmente superado.
Perdemos mais tempo discutindo o inútil, o desaforado, o sem sentido, e muito pouco desse tempo dedicamos à análise e julgamento do que realmente conta para a nossa melhoria de vida.
É bom salientar que avançamos muito, já não somos mais o país só dos coitadinhos, temos muitas parcelas da população que sabem pensar em várias direções, mas não conseguimos ainda atingir os diversos cernes da nossa questão principal, que reside em sairmos da Série B para a A com toda a urgência possível.
Temos condições, mas como o Dr. César da novela das 9 que está terminando, deixamos de enxergar o principal para sentir tão somente o acessório.
Que em 2014 se inicie uma nova era para este país, são os nossos votos.