Amigo meu chega em casa com a mulher e, para sua enorme surpresa, encontra a filha e o namorado na sala de TV (home theater para os mais sofisticados) cada um no canto do sofá, discretíssimos, acompanhando interessados um jogo de futebol. Algo assim como Mônaco versus Linas Montlhery. Ou Reims versus Strasbourg. Um clássico imperdível desses, principalmente pela presença do gênio do futebol europeu, o brasileiro Felipe Saad, verdadeiro ídolo pela suas clássicas atuações na zaga esquerda.

Como este meu amigo é um importante diretor de marketing de uma multinacional fabricante de produtos populares, cogitou em chamar no dia seguinte sua equipe para discutir a nova coqueluche entre os jovens: o futebol europeu. “Mas como – dirá minha rara leitora e meu fugidio leitor – só por um exemplo o cara vai modificar todo o planejamento de mídia da empresa?” Pois saiba que isso é muito comum. O que de decisões de mídia são tomadas por idiossincrasias domésticas, não está no Gibi. Até porque não existem mais gibis. Pois bem, este meu amigo anotou mentalmente chamar sua equipe e mandar verificar a audiência das transmissões do futebol europeu.

E, uma vez que sua filha demonstrava o maior interesse na partida, seria uma boa pedir um estudo sobre a audiência feminina, sobretudo entre as jovens. Estavam os dois conversando sobre a extraordinária mudança no consumo de mídia desses novos tempos, quando ouviram a TV ser desligada e o silêncio descer sobre a sala, depois que a filha passou – sozinha – rumo ao seu quarto, após um beijo apressado de boa noite. Um pouco depois, o meu amigo e a mulher resolveram assistir um filmezinho pelo pay-per-view para tomarem juntos uma tacinha de vinho.

Foi só entrar no canal de filmes pagos que pintou o maior sexo explícito, daqueles com dupla penetração anal, 18 mulheres, cinco anões, quatro jumentos e um senador, coisa da maior baixaria, tudo aos gritos de yes, yes, yes, devidamente legendados. Aliás, eu nunca entendi para que legenda em filme de sacanagem. Mas que tem, tem. Ou seja: a filha e o namorado tinham alugado o tal filme e a chegada deles interrompeu o momento cultural. Na pressa em disfarçar, trocaram para qualquer outro canal, o que explicava o súbito e inexplicável interesse pelo futebol europeu.

Bem, pensou ele, depois em cogitar matar o futuro genro, “já que está pago, vamos ver no que isso vai dar…” como se ele e a mulher não soubessem. Minutos depois a investigação empírica começou a produzir efeitos e eles começaram a pensar bobagens não necessariamente cinematográficas. Evidente faltava a eles a competência dos profissionais na tela, tanto da parte dele como na dela, mas não faltou o necessário entusiasmo.

Estavam nessa e não repararam que o outro filho de 15 anos entrou na sala, acompanhado de uma galera de amigos que estavam em busca de algo para comer e ouviram o barulho na sala de cinema. Meu amigo confessa que diante da adolescente plateia abismada teve uma brochada tão fundamental que levou meses para se recuperar, embora até hoje fique meio sem graça quando se lembra de sua figura com as calças no joelho, segurando uma almofada na altura do sexo, perguntando se não era uma boa ideia pedir uma pizza. Segundo ele, o pior foi a tentativa de se explicar, que começou com uma frase ininteligível: “Sua irmã estava aqui vendo futebol…”

Mudando de história, mas continuando no tema, estávamos numa noite, no botequim, litros de caipirinhas consumidas, conversando sobre esses momentos vexatórios que acontecem na vida quando um dos amigos confessou que o pior vexame que tinha passado foi quando a mãe dele entrou sem avisar no quarto e o surpreendeu se masturbando. Eu, que tenho às vezes alminha de Madre Thereza de Calcutá, para consolá-lo, jurei que todo adolescente já tinha pagado esse mico. Daí ele, meio bêbado, confessou, quase chorando: “adolescente tudo bem, já aconteceu com todo mundo. Mas isso que eu contei foi ontem!”

Lula Vieira é publicitário, diretor do Grupo Mesa e da Approach Comunicação, radialista, escritor, editor e professor (lulavieira.luvi@gmail.com)