Gustavo Mayrink, diretor de conteúdo da Talent Marcel (Divulgação)

Como se sente como cidadão?
No último ano transitamos intensamente pelos mais diversos sentimentos. Fomos do medo à solidariedade, do pânico à esperança, da indignação à empatia. Seguimos nos equilibrando por esses polos. Certamente mais exaustos, invariavelmente mais indignados e brasileiramente mais resilientes. Falando em esperança, recentemente vi um vídeo do violoncelista Yo-Yo Ma tocando em uma sala de espera de uma escola americana enquanto aguardava sua liberação após tomar a segunda dose da vacina. Os acordes de “Ave Maria”, de Godou, e a primeira Suíte de Bach criaram uma camada de conforto e acolhimento, uma espécie de orquestra do Titanic ao contrário em que cada nota emergia como um sublime suspiro para a vida.

Como se sente como publicitário?
Tradicionalmente trabalhamos no módulo da intensidade e do limite. 2020 colocou tudo em xeque e acelerou a urgente necessidade de repensarmos nosso modelo de trabalho e relações profissionais. Passamos a olhar com mais cuidado para questões internas e oferecer diversas frentes de apoio. Avançamos digitalmente. Por outro lado, nunca trabalhamos tanto, já que nossa noção de tempo e espaço se expandiu desorganizadamente com o trabalho remoto, especialmente nos primeiros meses – e nunca nos sentimos sob tanta pressão. Aprendemos a ser mais ágeis e versáteis às necessidades de nossos clientes, igualmente impactados pelas mesmas apreensões. Em muitas vezes conseguimos colocar no chão uma bola que tradicionalmente seria lançada na área. Também acho que algumas barreiras até então intransponíveis foram rompidas e criaram uma relação mais próxima e leal, guiadas por um sentimento mútuo de resiliência e empatia. Ainda estamos em um momento extremamente preocupante. Ao sair dessa, haverá marcas profundas em todos nós, assim como grandes aprendizados. Que esse balanço seja o mais positivo possível.

O que pretende fazer para contribuir com o Brasil neste momento?
Uma das mais admiráveis qualidades da nossa profissão é transformar pequenos fragmentos do cotidiano em algo grandioso. É conseguir chamar a atenção para onde ninguém estava olhando e mostrar a importância daquilo. É criar peças memoráveis que estarão na boca do povo e na cabeça das pessoas. Mais do que nunca, devemos imprimir essa dinâmica a favor de movimentos e causas sociais que possam transformar a realidade que está se devastando ao nosso redor. É hora de usarmos nossas redes e conexões para criar e divulgar a campanha mais importante que temos atualmente, a da vida. E temos todas as ferramentas para isso.