Estava aqui lembrando que o primeiro texto que fiz para esta coluna foi sobre os encontros, tanto pessoais quanto profissionais, e como eles ajudam a moldar carreiras, personalidades, vidas. Naqueles idos, estávamos há incríveis cinco meses em home office e eu sentia falta das balbúrdias criativas do escritório, dos decibéis alcoólicos das happy hours, da mistura de perfumes nos elevadores do prédio.

Hoje, lá se vão 15 meses que estamos em casa. E, nessa prisão domiciliar que insiste em não acabar, sinto cada vez mais saudades da minha rotina, casa-trabalho-casa, muito mais animada do que a minha rotina atual, quarto-sala-quarto.

Todo dia, antes de sair para o escritório, eu dava uma olhada para a Marginal Pinheiros, para avaliar o trânsito, e ver se meu trajeto levaria 15 minutos ou duas horas e 15 minutos. Era a visão do inferno em forma de carros.

Durante os meses mais agudos da pandemia, esse engarrafamento praticamente desapareceu, símbolo de uma cidade parada, negócios parados, vidas paradas.

Aliás, bem simbolicamente, a parte da Marginal que eu vejo melhor é a curva onde ficava o Unimed Hall, ex-Credicard Hall, casa de espetáculos que, infelizmente, sucumbiu à Covid. Fechou em definitivo.

Outro dia, me vi com um sorriso distraído contemplando a fila de carros que volta a se formar naquela curva e me dei conta de que estou com saudades de um engarrafamentozinho! Não é que era um bom momento para colocar os pensamentos em ordem?

Tenho convicção de que o home office cumpriu bem o seu papel e não é o bicho de sete cabeças que eu imaginava. Sempre tive certo preconceito de trabalhar de casa, achava que não me concentrava direito, dispersava. Mas o que aconteceu foi justamente o contrário. Quando se tornou uma necessidade, foquei, sem os papos laterais dos grandes salões das agências e dos “me dá só dois minutinhos”, que ocupavam metade do meu dia.

Mas sinto saudades dos brainstorms. Do famoso “bora pra salinha”, que todo criativo conhece muito bem. Esse bate-bola coloca o sarrafo das ideias mais no alto. Uma ideia puxa outra, que puxa outra, que puxa outra. Já vi muito insight meia-boca se transformar em uma campanha genial. Nada melhor do que criar com uma equipe que sabe trabalhar em conjunto, gente que “sabe duplar”, no idioma dos criativos.

Uma outra coisa que rolou bem nesses tempos de quarentena foram as reuniões virtuais. Ficou escancarado diante dos nossos olhos como se perdia tempo em deslocamentos pra cá e pra lá, para fazer reuniões que se resolveriam em minutos pelos Teams e Zooms da vida. Que desperdício de tempo e de grana. Tenho vários clientes fora de São Paulo, e, hoje, consigo falar com eles todos os dias, quantas vezes for necessário. Tudo muito prático e rápido.

Mas sinto saudades das reuniões olho no olho, do contato pessoal que faz tanta diferença. Eu adoro fazer apresentações, me empolgo com as coisas, me emociono. E quando é olho no olho, você percebe o envolvimento das pessoas, os feedbacks são imediatos, através de um olhar, de um sorriso. As apresentações remotas perderam um pouco desse calor. Tipo futebol sem torcida. Show que se assiste do carro.

Dos aprendizados desses meses loucos, muito vai ficar. Muita coisa vai continuar remota. Mas sinto saudades do cafezinho lá da agência. O que a minha mulher faz de tarde aqui em casa é muito melhor, sem dúvida. Mas no caminho até a cozinha para encher mais uma xícara, ninguém me conta uma ideia nova. Ou um causo.

Rodolfo Sampaio é sócio e CCO da Moma (rodolfo@momapro.com.br)