Alê Oliveira

 

A matéria de capa desta edição do PROPMARK remonta-nos ao início dessa modalidade esportiva incluindo atletas mulheres. Ainda estávamos em uma época extremamente preconceituosa, mas já apresentando movimentos de lutas pela igualdade.

No futebol feminino, pelas características do jogo inventado pelo inglês Charles Müller, a integração foi mais difícil, não apenas pelo preconceito existente na própria torcida futebolística, na época maciçamente masculina, como também pela virilidade da disputa, embora curiosamente menos ríspida que hoje no território masculino.

A luta das mulheres pela oficialização da modalidade feminina foi extensa, mas vencedora contra os machões do futebol em todo o planeta, aqui incluídos os dirigentes aos quais cabia em um primeiro momento a aceitação de mulheres jogando bola e com o tempo a oficialização do futebol feminino pelas entidades dirigentes do esporte em todo o planeta, começando pela própria Fifa.

Em nosso país, um dos símbolos da vitoriosa participação feminina nesse esporte foi a jogadora Marta, que no auge da sua carreira jogava mais do que muito marmanjo consagrado pela imprensa esportiva e pelos torcedores também masculinos, que vibravam nos estádios com os tradicionais clássicos do tipo Fla x Flu, Palmeiras x Corinthians, Santos x São Paulo, Botafogo x Vasco, Atlético x Cruzeiro, Grêmio x Inter e tantos outros que foram se agigantando com a importância crescente do futebol.

Agora, as atenções também se voltam para as mulheres fazendo ou impedindo gols, provocando frisson na torcida e cada vez mais conquistando adeptos para a modalidade.

Tudo o que acima está dito terá valor redobrado a partir da próxima sexta-feira, dia 7, quando em Paris será dado o pontapé inicial da Copa do Mundo de Seleções Femininas, com a TV Globo pela primeira vez transmitindo e aumentando as possibilidades de mídia para o mercado anunciante.

Uma conquista a ser comemorada não apenas pelo público feminino, como pela mais feminina das profissões – afirmação cunhada por Roberto Duailibi em uma entrevista ao PROPMARK, em uma época em que a prática do futebol por mulheres era algo raríssimo e muito criticada pelos machistas de plantão.

Essa profissão era e prossegue sendo a propaganda que, se no passado assemelhava-se às mulheres na sua inteligente forma de se expressar e persuadir (talvez o que Duailibi tenha querido dizer com a sua consagrada definição), hoje tem muitos dos seus principais degraus por elas ocupados, com muitas outras jovens talentosas esforçando-se para alcançá-las.

A alguns pouquíssimos homens que ainda podem discordar destas palavras, recomendamos que leiam e releiam também nesta edição do PROPMARK a entrevista com Marcia Esteves, presidente da Grey Brasil, uma das líderes do nosso mercado publicitário.

 

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Nosso colaborador Lula Vieira, com seus textos imperdíveis desde há muito no PROPMARK, assinou na edição anterior a esta um artigo sob o título Angústia de redator, cujo lead já dava a entender o que vinha a seguir.

Criativo de arsenal potente e com uma bagagem profissional de décadas na assinatura de campanhas e peças isoladas vencedoras de muitos prêmios nacionais e internacionais, além do prêmio mais importante de fazer funcionar o caixa dos anunciantes, tem todo o direito de estranhar os novos tempos, cujo ponto de partida pode ter sido o uso do ferramental digital na comunicação publicitária.

Seu desencanto, na verdade um alerta para todos os criativos em plena atividade, tem muito a ver com a comparação já possível entre as duas épocas, analógica e digital, mas há também um misto de saudosismo de um tempo não muito distante em que os gols da publicidade, para não sairmos do tema, eram demoradamente comemorados.

A velocidade com que anúncios e campanhas se traduzem em gols é imensa, nestes abençoados dias de expurgos de preconceitos. Trabalhos criativos prosseguem sendo feitos e veiculados, mas os meios já não passam todos diante de nós. E não apenas a velocidade digital, como a multiplicação dos mesmos, inverteram praticamente o caminho tradicional deles para os públicos-alvo. Hoje, somos nós que temos de ir atrás dos meios, em uma frenética busca pelo melhor, que não cessa nunca, pois quando o achamos logo sabemos de outro que está mais vibrante.

Ficou difícil para a humanidade acima dos 40 anos adaptar-se facilmente a este novo universo de múltiplas escolhas, sabendo que qualquer uma que abracemos naquele momento estamos perdendo tantas outras que poderão não ser recuperadas dada à rápida perecividade dos seus conteúdos.

O Cannes Lions 2019, que está chegando, fará sem dúvida como tem feito ao longo das suas décadas de existência um resumo do que de melhor se fez na criação publicitária do planeta nos últimos 12 meses. Mas, quem em Cannes terá como ver tudo o que lá estará concorrendo, no curto período de duração do festival?

Foi Peter Bogdanovich quem disse certa feita que todos os grandes filmes já haviam sido feitos. Essa afirmação tem mais de quatro décadas. De lá para cá, muitos outros grandes filmes foram e prosseguem sendo feitos e ganhando Oscars e Palmas de Ouro em Hollywood e Cannes.

O grande problema, e aí podemos entender melhor a observação angustiada do nosso importante redator colaborador, é que o aumento da quantidade de meios e a facilidade de se postar na web facilitaram a exposição de milhões de bijuterias, que há três décadas seriam jogadas no lixo com um palavrão do diretor de criação.

 

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Uma vez mais consagrada por uma iniciativa pública assumida, desta feita sobre a reforma da Previdência, ouvindo e postando opiniões em áudio e vídeo, com manifestações de representantes da sociedade brasileira sobre o tema (a grande maioria a favor da reforma), a rádio Jovem Pan viu-se em meio a um vendaval, com o afastamento do professor Villa da sua equipe de radialistas, não se sabe se temporário ou definitivo.

Sob muitos protestos nas redes sociais, a emissora foi vítima, através de dois dos seus chamados repórteres de rua, de xingamentos na passeata de estudantes na última quinta (30), em São Paulo. Para agravar ainda mais o quadro, os jovens repórteres chegaram a ser agredidos, em uma ação covarde e inconcebível em uma democracia.

Anteriormente a essas agressões e logo após o afastamento do professor Villa, a direção da emissora divulgou um comunicado público, com 7 itens, publicado na íntegra no online do PROPMARK de quarta (29).

Dele destacamos três, a saber: “2. O Grupo Jovem Pan foi pioneiro na intensificação do debate político, com a contratação de comentaristas com diferentes pontos de vista, que sempre se manifestaram livremente. 3. O apreço do Grupo Jovem Pan pelo convívio dos contrários – sem o qual não existe democracia – é atestado diariamente pelo conteúdo da nossa programação. 7. O Grupo Jovem Pan entende que esse mesmo respeito ao público impõe aos seus comentaristas limites que separam a crítica substantiva da adjetivação grosseira. Quando tal barreira é ultrapassada, cabe à direção da empresa aplicar medidas que garantam a volta à normalidade”.

Estamos voltando ao “nós contra eles” e isso costuma não terminar bem, como a História registra.

Armando Ferrentini é publisher e diretor-presidente do PROPMARK (aferrentini@editorareferencia.com.br).