Tricampeão mundial anunciou, no começo da semana, que não participará das duas primeiras etapas do WSL

Tricampeão da World Surf League, Gabriel Medina surpreendeu os fãs ao anunciar uma pausa – à princípio, breve – na carreira. Com isso, um dos principais surfistas do mundo (e atual campeão) está fora das duas primeiras etapas da WSL – a de Pipeline, que tem início no próximo sábado (29), e a Sunset, em fevereiro. O atleta afirmou que precisa de um tempo para cuidar de sua saúde mental.

“No ano passado, vivi uma montanha russa de emoções dentro e fora da água, o que afetou muito minha saúde mental e física. Ao final da temporada, eu estava completamente esgotado”, escreveu no Instagram, na última segunda-feira (24).

Além disso, segundo informações veiculadas nesta quinta-feira (27), o surfista e a modelo Yasmin Brunet estariam separados.  

Um dos surfistas mais bem pagos do planeta pelo seu desempenho nas ondas, Medina também é um nome bastante requisitado para a publicidade, tanto que virou garoto-propaganda de marcas como Oi e Bradesco, além de ter protagonizado campanhas para outros anunciantes, tais quais Guaraná Antarctica, TCL e Audi.

No entanto, o episódio Gabriel Medina reacendeu a discussão sobre saúde mental – afinal, como as marcas devem se comportar diante de uma questão de saúde mental? Especialista em marketing esportivo e sócio da Sports Value Marketing, Amir Sommogi garante que o propósito de um anunciante deve ser sempre mais importante do que a simples visibilidade.

"O patrocinador precisa entender que a visibilidade que tem durante uma competição é pequena em relação a defender um propósito maior", afirma. "E no caso do Medina, por exemplo, (as marcas) poderiam aproveitar a oportunidade para se aprofundar no tema, de pedir ao atleta para participar desse momento", completa.

Fábio Wolff, sócio-diretor da Wolff Sports, também acredita que este momento pode ser oportuno para falar sobre um assunto sério e, assim, apostar em uma linha de comunicação ‘mais humana’.

Fábio Wolff: foco na comunicação humanizada (Divulgação)

“Uma marca pode entender que essa é uma situação humana e pode fazer uma comunicação por esse lado, dizendo: 'O Medina é o nosso campeão e, independentemente de qualquer situação, a gente tá junto', o que acaba sendo uma linha de comunicação independente e extremamente eficiente”, ressalta.

BILES E OSAKA: BONS EXEMPLOS
Infelizmente, Gabriel Medina não está sozinho quando o assunto é saúde mental dentro do mundo dos esportes. No ano passado, durante os Jogos Olímpicos de Tóquio, a ginasta Simone Biles desistiu de participar de algumas provas pelo mesmo motivo do surfista brasileiro.

À época, alguns dos patrocinadores de Biles se manifestaram. A Visa, por exemplo, chegou a divulgar um comunicado no qual classificou a ‘decisão incrivelmente corajosa’. Core Power, marca de proteína, disse que a ginasta mostrou ‘coragem e força’ na decisão.

Outra marca de peso, a aérea United Airlines afirmou que ter ‘uma grande admiração por Simone Biles – não apenas por seu talento de classe mundial no tatame, mas, mais importante, pelo indivíduo que ela é todos os dias. Temos orgulho de trabalhar com ela há anos e continuamos a apoiá-la’, informou.

A tenista japonesa Naomi Osaka também passou por situação semelhante e, assim como Biles, recebeu apoio dos patrocinadores, como a Netflix.

Professora de marketing na Universidade Presbiteriana Mackenzie de Campinas (SP), Mariana Munis diz que os consumidores querem atitudes das marcas como as que patrocinam tanto a tenista quanto a ginasta.

"Os consumidores esperam de uma marca que atua em pleno século 21 dê todo suporte necessário ao atleta, auxiliando-o em sua recuperação, assim como funciona o afastamento de um funcionário que lida com depressão ou ansiedade", afirma.

Três vezes campeão do mundo, Medina não disputará as duas primeiras etapas do WSL (WSL/ Divulgação)

E A SINERGIA?
Para o professor do curso de Publicidade da Universidade Anhembi Morumbi, Miguel Valione Junior, os patrocinadores e suas marcas estão intimamente ligados aos atletas. "Por isso, manifestando-se ou não, as marcas mantêm uma sinergia com os atletas. Foi graças à pressão dos patrocinadores que o Gabriel Medina aceitou tomar a vacina da Covid-19", lembra o especialista.

Em agosto do ano passado, Medina tinha anunciado que não iria participar da última etapa do mundial da categoria em Teahupoo, no Taiti, por ter se recusado se vacinar. No entanto, dias depois, ele admitiu o erro de não ter ‘conseguido encaixar a imunização na agenda’.

Fernando Trein, professor de marketing esportivo da ESPM Porto Alegre, vai mais além e diz que a publicidade deveria falar mais sobre saúde mental. "É um momento oportuno para que isso aconteça, lembrando que quem consome os produtos de diferentes marcas também passam pela mesma situação", diz. "Por que não envolver o público em assuntos como esse?", questiona o professor.

No caso do surfista brasileiro – até o fechamento desta matéria –, nenhum dos patrocinadores de Medina havia se manifestado publicamente sobre a decisão do atleta.