A Copa não conseguiu ainda galvanizar nossas multidões e os motivos são vários e sabidos. Em primeiro lugar, o custo imediato do evento para os cofres públicos, atingindo cifras astronômicas e decepcionando os milhões de necessitados deste país.

Entende-se que a contabilidade final da Copa para o Brasil poderá ser até favorável e, nesse aspecto, nem se cogita dos resultados futebolísticos da nossa Seleção.

Se tudo funcionar bem – do que muitos duvidam – teremos um ganho de imagem incalculável lá fora. Mas, para que isso ocorra, necessária se torna uma soma de fatos positivos que dependerão do conjunto da obra, até o seu final. E esse conjunto pouco ou quase nada estará nos gramados dos estádios onde se realizarão as partidas.

Como prever e impedir, por exemplo, que as manifestações populares de junho passado não ocorrerão com maior intensidade a partir do próximo mês – ou até antes – se a insatisfação popular aumentou nestes últimos doze meses?

A partir dessa resposta, outro fator de maior relevância tende a surgir no cenário da Copa, com proporções e consequências difíceis de serem agora avaliadas.

Um terceiro fator é a crise política, que tem se aguçado nestes últimos meses, com a sucessão de escândalos públicos abalando os alicerces desse prédio chamado governo.

A coincidência da Copa com as eleições majoritárias – inevitáveis porque ambas se realizam de quatro em quatro anos – põe mais lenha na fogueira dos embates partidários, aumentando o volume das críticas e de um clima nada favorável a um evento mundial que deveria ser precedido e se desenrolar em um ambiente de união e empolgação no país-sede.

Não é o que se vê no Brasil, hoje. Basta, para isso, comparar com 2010, quando nosso país foi escolhido para a sede do mundial. O momento político era mais favorável e a notícia trouxe uma esperança de benefícios para a maioria da população.

O quadro hoje se inverteu e o repúdio cresceu. A Copa, na verdade, não tem culpa. Os fatos ao seu entorno é que têm levado a essa rejeição ou no mínimo a uma apatia que está difícil de ser combatida, mesmo com a campanha publicitária oficial atraindo a atenção do grande público para a Copa e o aumento esperado do conteúdo da mídia sobre a mesma.

Gostaríamos que fosse tudo diferente, para o bem do país e do seu povo. O que se vê, porém, não nos anima a imaginar uma mudança drástica na opinião pública.

A bala de prata acaba sendo então o próprio desempenho da Seleção em campo. Se for bem, chegar à final e – torcemos por isso – sagrar-se campeã mais uma vez e a primeira na própria terra, por um bom tempo as agruras serão afastadas.

A influência positiva desse resultado sobre a opinião pública será tão forte, a ponto de provocar índices econômicos favoráveis e até aqui preocupantes.

Pode, até mesmo, decidir as eleições, o que para qualquer outro país acima da linha do Equador é impensável. Mas, estamos no Brasil e, lembrando Nelson Rodrigues, isso pode significar a pátria de chuteiras.

Este editorial foi publicado na edição impressa de Nº 2496 do jornal propmark, com data de capa desta segunda-feira, 5 de maio de 2014