Rugby: ciclo olímpico favorece patrocínios

 

Dois esportes muito distintos estão passando por uma transformação radical no Brasil. O golfe e o rúgbi, duas modalidades trazidas pelos ingleses para o país, até pouco tempo amargavam a falta de patrocinadores, tinham pouca atenção da mídia e dinheiro escasso para criar projetos. Até que, em 2009, retornaram aos Jogos Olímpicos por decisão do Comitê Olímpico Internacional e a expectativa com as Olimpíadas 2016 favoreceu os dois esportes.

A Confederação Brasileira de Rúgbi (CBRu), que conseguiu seu primeiro patrocinador em 2009 – a Topper foi pioneira em apostar no esporte –, hoje é a entidade de rúgbi mais patrocinada do mundo. São 18 marcas. Entre os maiores apoiadores estão Bradesco, Heineken, Unilever, Outback, JAC Motors e os recém-anunciados Dove Man+Care e Kibon, duas marcas da Unilever.

Victor Duarte, gerente de marketing da CBRu, diz que a realidade mudou totalmente para o esporte nos últimos anos. Os números da entidade mostram a dimensão da mudança. Em 2011, a CBRu captou R$ 3 milhões em patrocínio. Em 2012, R$ 6 milhões e, em 2013, esse valor saltou para R$ 15 milhões. “O esporte está em pleno desenvolvimento. Estamos na 36ª posição no ranking mundial na modalidade XV. Na VIIs, modalidade olímpica, o feminino está entre os melhores do mundo e o masculino, garantido nas Olimpíadas”, enumera.

O golfe também tem aproveitado bons ventos nos últimos anos. Desde 2012, o esporte conquistou o apoio de HSBC, Rolex e Credit Suisse. Só neste ano, BMW, YKT e Azeite 1492 anunciaram patrocínio. “Melhorou muito a situação do golfe após o anúncio do retorno aos Jogos Olímpicos”, indica Márcio Galvão, diretor-executivo da CBG. “Estar nas Olimpíadas atrai investidores”, completa Felipe Navarro, golfista de 22 anos e um dos jovens talentos do país.

Galvão diz quais aspectos beneficiam o esporte: o primeiro é a visibilidade com os Jogos, o que atrai interesse e novos praticantes; o segundo aspecto é físico, com a construção de um campo olímpico no país. “Haverá três campos de golfe no Rio de Janeiro, próximos um do outro. Isso cria o conceito de hub”, afirma.

Ter mais patrocinadores aumentou o capital da confederação, que pôde investir em grandes eventos a partir do Brasil, uma chance para jogadores brasileiros evoluírem no ranking mundial.

Nos últimos dois anos, a CBG aplicou R$ 12 milhões para criar uma escada: o primeiro degrau foi a criação do circuito nacional CBG ProTour, de cinco etapas, que viabiliza o acesso ao circuito do PGA Latino-Americano. O Aberto do Brasil foi o segundo e passou a fazer do próprio circuito PGA Latino-Americano um acesso ao  Web.com. O último degrau foi a criação do torneio Brasil Champions, que funciona como a etapa brasileira do circuito internacional Web.com, que, por sua vez, é a porta de entrada ao PGA Tour, o maior circuito profissional de golfe do mundo.

“Estruturamos as portas de entrada”, diz o presidente da CBG. “Esses jogadores são grandes artistas. Temos que criar o espetáculo e o palco”, afirma.

O impacto da gestão

Gestão impulsionou desempenho do rugbyNo caso do rúgbi, o salto registrado nos últimos anos não foi somente pelo retorno às Olimpíadas. O grande benefício veio da gestão. Em 2009, um grupo de apoio ao esporte, formado por empresários e ex-jogadores, começou a implantar uma gestão profissional, com a definição de indicadores de desempenho para patrocinadores.

Com o trabalho de assessoria de imprensa, a condeferação aumentou a exposição do esporte e atraiu a atenção da mídia. Neste ano, estão previstas 26 horas de transmissão de jogos de rúgbi no SporTV. “A guinada começou com o grupo de apoio. A gestão profissional, com pessoas do mercado, é importante porque mostra o que pode ser feito com o esporte”, afirma Duarte. Uma dessas pessoas é Eduardo Mufarrej, presidente do Conselho de Administração da CBRu e CEO do bilionário fundo de investimentos Tarpon.

Munida de indicadores de ROI, a CBRu começou a falar a língua dos patrocinadores. “O rúgbi aqui ainda é pequeno, mas o retorno que ele traz para nossa marca é bem vantajoso em termos de visibilidade. Quando combinamos a ampla exposição das transmissões com o número de pessoas que acompanham os grandes jogos nos estádios, nosso custo por impacto se torna vantajoso, tornando o retorno da parceria bem atrativo”, afirma Bernardo Spielmann, diretor de marketing da marca Heineken.

A cervejaria já patrocina o campeonato mundial de rúgbi e o Heineken Cup, torneio europeu, e é a cerveja oficial do “terceiro tempo”, quando duas equipes confraternizam, não importa o resultado do jogo.

Já a Unilever diz que o potencial de crescimento do esporte no Brasil chamou sua atenção. Estimativa da CBRu é de que, até 2030, ele seja o segundo mais praticado no país. “Em âmbito mundial, o rúgbi é um esporte muito popular. Embora seja um esporte ainda pouco difundido aqui, a Unilever aposta no crescimento da modalidade”, disse a empresa em entrevista por e-mail.

O apoio da multinacional inclui a construção de duas academias de rúgbi, chamadas Dove Men+Care e Kibon, para jovens entre 15 e 19 anos, nas cidades de São José dos Campos (SP) e São Paulo. Dove Men+Care já é parceira global das confederações de rúgbi do Reino Unido, e a Unilever é patrocinadora da Confederação de Rúgbi da Nova Zelândia.

Para quem se lembra dos bem-humorados comerciais da Topper, que satirizavam a modalidade no Brasil, a realidade é outra. “Hoje dizemos que o impossível aconteceu”, afirma Duarte. “O rúgbi virou uma coisa grande no Brasil.”

Cenário amador ficou para trás, diz jogador da seleção

Quando Fernando Portugal, capitão da seleção brasileira de rúgbi VIIs, começou a jogar, a ideia de atuar profissionalmente no Brasil “era um sonho”. Entre 2005 e 2007, o atleta passou duas temporadas jogando na Itália. Sem contrato no primeiro ano, trabalhou como pedreiro para conseguir jogar.

De volta ao Brasil em 2008, o jogador diz que o cenário amador havia mudado pouco. Até que veio o anúncio do rúgbi como modalidade olímpica. “Esse fato mudou tudo. O interesse de novos jogadores, de admiradores e, principalmente, dos investidores, aumentou muito. Hoje o rúgbi é uma realidade no Brasil e pode-se, sim, sonhar em ser um jogador profissional”, afirma.

O atleta conta que, por muitos anos, só os apaixonados conseguiam manter a prática regular do esporte. “Na maioria das vezes, até para jogar nas seleções brasileiras era preciso pagar. Comprávamos nosso próprio uniforme.” A chegada de grandes patrocinadores significou melhorias na estrutura das seleções, salários para os profissionais e acesso a conhecimento técnico de alto padrão.

O desafio atual é ajudar os clubes a evoluírem. São neles que despontam talentos e onde novos jogadores são formados. Outra dificuldade é reinar na terra do futebol, já que o esporte é praticado num gramado das mesmas proporções. “Não é tarefa fácil. Mesmo com o apelo olímpico e com muito mais espaço nos meios de comunicação, ainda ficamos à sombra do futebol.”

Ainda assim, Portugal é otimista quanto ao rúgbi brasileiro. “A realidade do rúgbi mudou tanto no Brasil e em tão pouco tempo que qualquer dificuldade que encontramos hoje não me parece algo impossível de ser ultrapassado ou vencido.”

Projeto foca estudos

Golfe alia treino à educação


Treinar crianças em idade escolar é uma das apostas da Confederação Brasileira de Golfe (CBG) para desenvolver o esporte no Brasil. A ideia é que, ao apresentar o esporte a crianças e jovens, uma nova geração de golfistas pode despontar no futuro.

Desde 2012, a entidade vem capacitando professores de escolas públicas e privadas, num projeto bancado pelo HSBC, o “Golfe para a vida”. De acordo com a CBG, 150 professores de educação física foram treinados desde então e 28 mil alunos de escolas públicas e privadas de Porto Alegre, Curitiba, Brasília e do Rio de Janeiro foram apresentados ao golfe até o momento.

“Basicamente, treinamos os professores para eles serem os introdutores do golfe aos alunos do ensino fundamental”, explica Márcio Galvão, diretor-executivo da CBG.

O projeto oferece aulas teóricas e os acessórios necessários. A CBG é responsável pelos kits e pela coordenação do projeto. Já o HSBC custeia a iniciativa, que tem valor estimado em R$ 1 milhão por ano.

O treino foi desenvolvido pelo inglês Tony Bennet, que formou os brasileiros Nico Barcellos e Reginaldo Coelho para tocarem o programa. A confederação teve orientação técnica e financeira da R&A (Royal & Ancient Golf Club de St. Andrews), entidade máxima do golfe mundial.

Neste ano, o projeto chega à cidade de São Paulo e ao interior paulista. Até 2016, a meta é atingir 250 mil crianças. De acordo com Renata Brasil, diretora de marketing, pessoa jurídica e patrocínio institucional do HSBC Brasil, o objetivo com o projeto é desenvolver o esporte na base. Globalmente, a instituição financeira é uma das maiores apoiadoras do golfe.

“Trabalhamos na base, na detecção de talentos e no desenvolvimento do esporte. Se conseguirmos ajudar uma nova geração e ter um brasileiro vitorioso no golfe, o esporte se tornará muito mais popular do que é hoje”, afirma. “Ter um golfista como um dos melhores do mundo é o sonho dos patrocinadores”, diz.

Renata explica que o coração do patrocínio do banco são os torneios internacionais pela visibilidade que esse tipo de evento traz, mas que há sinergia com o projeto “Golfe para a vida”. “Quanto mais o golfe se desenvolver, mais minha marca ganha. O projeto com a CBG empurra o esporte para cima. Todo mundo ganha.”

Nova geração

A nova geração do golfe vê uma oportunidade única com o retorno da modalidade às Olimpíadas após 112 anos fora. “Somos sortudos de ser a geração que vê o golfe voltar. Além dos Jogos de 2016, há ainda os de 2020”, aponta Daniel Stapff, paranaense de 24 anos, patrocinado por YKP e Azeite 1492.

O paulista Rafael Becker, de 22 anos, diz que tem se preparado para as Olimpíadas considerando torneio por torneio. Em 2014, há 20 para serem disputados. “Funciona não pensar no resultado e focar 100% na tacada que tenho na mão.”

Atualizado às 14h13