Vocês já ouviram falar? Vocês acham possível algum grupo de empresas intitular-se Grupo Sujinho?… Pior, ainda, você consideraria um dia batizar seu negócio com uma palavra que remetesse a uma sensação exatamente oposta àquela que gostaria que seus clientes sentissem e/ou tivessem quando acessassem seus serviços?
Pois bem, dois portugueses, Antonios, apelidados respectivamente de Careca e Cabeludo, um dia, no início dos anos 1960, decidiram montar um boteco na Rua da Consolação esquina com a Maceió. Boteco mesmo!
Naquele momento as putas mais desejadas da cidade faziam ponto nas imediações, entre o boteco e o auditório da TV Record onde, em todos os sábados, às cinco da tarde, acontecia o programa Jovem Guarda. Assim, Roberto, Erasmo e seus convidados frequentavam o boteco dos Antonios para beliscar, vez por outra, calma… Um delicioso bolinho de bacalhau. Como o boteco além de pequeno era malcuidado, e até de forma carinhosa, a freguesia passou a chamá-lo de Sujinho.
O boteco cresceu, hoje ocupa três das quatro esquinas da Maceió com a Consolação, e anos atrás os Antonios venderam a propriedade para os Afonsos – pai e filho –, e o boteco, agora próspero e poderoso, assumiu a designação de… Grupo Sujinho! E que alguém tente mudar o nome. Definitivamente, não vai dar certo.
O agora Grupo Sujinho, com três esquinas, é uma máquina de fazer dinheiro, com total merecimento pela qualidade de sua carne, embora as instalações e os serviços sejam uma espécie de Sujinho Melhorado. Enfim, um “case” que jamais nasceria a partir de um planejamento. Nasceu, expôs-se à sorte e à fortuna, deu certo, cresceu, prosperou, virou uma instituição. Uma espécie da exceção que justifica a regra. Um dos famosos “cases” produto das circunstâncias. Para terminar, um outro e curioso detalhe. Um folder meia-boca que entregam na entrada para toda a clientela.
Diz o folder: “Senhores clientes, não aceitamos nenhum tipo de cartão de crédito ou débito. Apenas dinheiro, Alelo Refeição, Sodexo Refeição e cheque (pessoa física e mediante consulta).”
E segue, dizendo o motivo: “Altas taxas cobradas pelas administradoras, aluguéis de máquinas, perda de capital de giro etc… No caso de aceitarmos, teremos de repassar em nossos cardápios, prejudicando você, cliente. Não achamos justo! Pedimos sua compreensão”.
E assina, atenciosamente, isso mesmo… Grupo Sujinho!.
Ou seja, de uma patetice supina, e a lamentável qualidade do folder, mais que dá consistência e legitimidade à denominação, Grupo Sujinho.
Pior ainda, duas ou três vezes percebi que clientes não atentaram para o aviso e só tinham cartão de crédito. E os garçons fizeram cara feia, mas, aceitaram, ou seja, não é de verdade. Sujinho tentando fazer charme… Constrangedor!
Parafraseando o que certa feita Antonio Carlos Brasileiro Jobim falou sobre o Brasil, O Sujinho é uma merda, mas é bom… E por isso, pela qualidade de sua carne, sobrevive e ganha muito dinheiro. Uma lição a ser analisada à exaustão por todos os malucos que alimentam o sonho de um dia ter um restaurante.
Quem sabe, considerem a denominação… Fedorento… Talvez e radicalizando, Pum Factory…
Francisco Alberto Madia de Souza é consultor de marketing (famadia@madiamm.com.br)