Não é de hoje que os jargões corporativos já tão desgastados, B2B (Business to Business) e B2C (Business to Consumers) pararam de fazer sentido nas organizações. Estas começaram a perceber que seus negócios carregam características tão humanas, que definir isso como “business” se tornou ultrapassado, pois todos os seus esforços são centralizados em pessoas.
Surge então o H2H (Human to Human) ou P2P (pessoas para pessoas), não apenas como mais uma sigla corporativa, mas como resposta a um esforço coletivo que envolve responsabilidade social e cuidado com os “de dentro”. E, a pandemia do COVID-19, que tem levado o mundo a uma grave crise sanitária e humanitária, que ainda está longe do fim, tem feito organizações de diversos setores que não conseguiam se enxergar dessa forma a mudar a rota, pois não há mais espaço para o ego corporativo no mundo em que o olhar humanizado sobre as relações sociais que envolvem todos os acionistas é obrigação.
Com isso, boas práticas começam a surgir em direção ao H2H (Human to Human), e independentemente da indústria em que atua, a empresa começa a ter como propósito trabalhar a empatia, respeito e a consideração pela diversidade. Além de focar em seus resultados, elas começam a entender que é preciso se doar e o give back nunca fez tanto sentido. Agora é preciso devolver para a sociedade parte dos seus lucros em cuidado e bem-estar social.
Surge a tendência mais efetiva, que veio para ficar em um caminho sem volta, ESG, que vem do inglês Environmental, Social and Governance, ou seja, Ambiental, Social e Governança (ASG, em português), é apontada pelo mercado como uma das principais tendências para 2021 e fazem referência aos principais fatores que medem o índice de sustentabilidade e impacto social de uma empresa, é possível determinar como ela se posiciona em relação à sociedade e ao planeta, o ESG é como um selo de qualidade para a empresa. E, mais do que nunca, o conceito precisa ser aprendido e empregado nas organizações que pretendem manter competitividade e alinhamento com seu público, por meio do resultado da análise ambiental, social e de governança,inclusive oferecendo mais transparência ao investidor.
Mas o ser humano, H2H na sua essência, está fazendo e fará a diferença. Já vemos executivos de todo o Brasil comprometidos em fazer o bem, ultrapassam os muros empresariais e chegam aos que mais necessitam. Neste último ano, vem lutando contra os impactos da COVID-19 nas esferas mais afetadas da sociedade, compartilham ações diversas, como o apoio a pequenas empresárias que receberam aporte financeiro para manter seus negócios vivos; crianças de comunidades, que isoladas por conta da pandemia receberam alimentação, mas também afeto, como de festa de aniversário, e devices para acessar aulas on-line. Esses são alguns exemplos de ações que buscam minimizar os impactos da crise econômica que, segundo o Banco Mundial, pode ser a quarta pior dos últimos 150 anos.
No entanto, para ser humanizada, além de considerar os consumidores, acionistas e a sociedade, uma empresa deve considerarar o zelo pela sua força de trabalho. E nesse momento de vulnerabilidades e incertezas, um olhar empático para o colaborador pode fazer toda a diferença – afinal, ele não é apenas um número.
Lições que começam dentro de casa
Para empresas que estão estudando a retomada das suas operações e não sabem por onde começar, uma forma de tornar esse retorno mais human centric é alinhando a comunicação entre líderes de negócios e de RH para garantir segurança, respeito e empatia. E, dentro da estratégia de retorno, além das regras sanitárias, é preciso considerar a diversidade, inclusão, e determinar como a empresa responderá aos colaboradores que têm medo de retornar ao trabalho; considerar a implementação (ou extensão) de programas voltados à saúde emocional que abordam temas como estresse, ansiedade e outras consequências da pandemia à saúde mental dos trabalhadores.
Também é preciso ser empático, e definir como a empresa lidará com funcionários que precisarão permanecer em casa para cuidar de familiares doentes, crianças ou dependentes cujas escolas ou creches que estão fechadas. E, dentro desse “novo normal”, também é indicado revisar a cobertura de benefícios para cuidados virtuais, como telemedicina e consultas à distância com profissionais de cuidados básicos da saúde física e mental.
Quando se fala em H2H, é importante considerar que as relações de trabalho são mais humanas que trabalhistas, pois vão muito além de uma carteira assinada ou um contrato de trabalho. Criar a sensação de pertencimento e orgulho é importante também para a retenção de talentos, porque trabalhar para empresas conscientes e justas é motivo de orgulho. Tudo isso acaba refletindo de forma muito positiva nos resutados da empresa, pois já é confirmado que os consumidores de hoje, preferem marcas socialmente conscientes. Uma pesquisa do Grupo Cone Communications concluiu que 89% dos millennials (nascidos de 1995 a 2010) prefere marcas comprometidas com o ser humano.
Portanto, se já não existia espaço para empresas que não tinham pessoas como o centro da sua estratégia, durante e após a pandemia, as organizações que só focam no lucro, sem devolver uma parte para a sociedade, estarão entregues a própria sorte. Afinal, são empresas compreensivas em entender que se não estiver bom para todos, não estará bom para ninguém, e que conta com seres humanos comprometidos em fazer a diferença, liderar mudanças e fazer história que vão se destacar no “novo normal”.
Carmela Borst é VP de marketing na Aon Latin America e empreendedora social