O assunto tem tomado conta de lives, redes sociais e de conversas corporativas. As sociedades de forma geral estão se preparando para assumir a condição de um “novo normal” ou “outro normal”. Mas o que isso significa?
Algumas correntes de pensamento apontam a necessidade de novos padrões para o sistema de produção em escala na indústria, inclusive em termos mundiais, para reduzir a dependência da China e fortalecer as suas próprias economias para eventuais novas crises globais. Mas também apontam para mudança na atual lógica de consumo, como um caminho inevitável para conter os efeitos devastadores das mudanças climáticas.
Da mesma forma, começa a ocupar espaço nas agendas das empresas, defensoras naturais do capitalismo e do livre mercado, o discurso de que os resultados do sistema devem ser compartilhados, buscando a assunção de um capitalismo de rosto mais humano, mais próximo às necessidades das pessoas – uma reinvenção ou modernização do próprio sistema capitalista.
Outros grupos sociais sugerem a ressignificação sobre as relações humanas, valorizando conceitos como empatia, solidariedade, caridade, acolhimento, a interdependência, entre outros valores, especialmente, associados à cultura de igualdade de oportunidades e tolerância.
São muitas as provocações e todas, realmente, importam.
Os desafios que a realidade nos impõe precisam ser avaliados e interpretados diariamente, independente da atual pandemia e de eventuais e necessárias agendas imediatistas. Os sinais das mudanças estão em todos os cantos – e há muito tempo, mas talvez sem merecer muita atenção. Toda empresa precisa se alinhar às novas tensões culturais, em uma sociedade em constante mudança.
As empresas precisam funcionar numa espécie de estado beta permanente!
Colocar as pessoas no centro das estratégias empresariais tem sido a mola propulsora de todo negócio, o que não chega a ser uma novidade. Com ela, vem também a forte demanda por investimentos no desenvolvimento tecnológico.
No setor de alimentação fora de casa, um dos mais atingidos pela crise, os efeitos ainda estão sendo bastante sentidos. Mesmo com a flexibilização de políticas de isolamento e abertura de bares e restaurante em muitas cidades, o que vemos são distorções como locais repletos de gente, descumprindo regras, e estabelecimentos cumpridores da lei, porém vazios, à espera do milagre de recuperação econômica.
Há, ainda, outra parte desses negócios operando em condições ainda mais restritas, que são os estabelecimentos localizados em shoppings centers.
Há muitos anos liderando o Marketing de uma importante rede de restaurantes do país, tenho dedicado grande parte de meu trabalho à leitura de pesquisas e tendências que revelem hábitos de consumo individuais e em grupos. E minha conclusão é que não há mágica para impulsionar o setor. O que sabemos é que a experiência do consumidor deve ser, cada vez mais, enriquecida. Agora, com muito mais segurança e bem-estar.
Em nossa rede, temos apostado na educação de nossos consumidores nos últimos anos, capacitando-os com informações de qualidade, instruindo-os para resistir a exageros, preparando-os para as escolhas e renúncias sobre àquilo que precisam colocar em seus pratos. Uma tarefa nada fácil, em meio a tantas novidades indulgentes e hábitos que pouco valorizam um estilo de vida saudável.
A ideia é que o consumidor ganhe todas as vezes que nos preocupamos em oferecer novos parâmetros para análise no momento das refeições. E ganham também as marcas que se preparam para vencer essa comparação.
O segmento da alimentação fora de casa talvez seja um dos mais sensíveis para a urgência de uma reinvenção, que passa, certamente, pela transformação digital, adequação de modelos e ofertas. Muitas das respostas para as novas situações virão do smartphone – ferramenta poderosa, que reforça o status de protagonismo dos consumidores.
Seja qual for o “próximo normal”, o consumidor sempre deve seguir no centro das estratégias. As lideranças de nosso mercado precisam entender que a paixão pelo que fazemos deve criar sabores e momentos de alegria para todos. Mais do que matar a fome, as pessoas continuarão buscando nas refeições uma experiência de confraternização e aproximação social.
As grandes refeições são aquelas que, ao mesmo tempo, são funcionais e geram prazer. Precisam estar carregadas de sabor e de alegria, satisfazer as exigências do corpo e do espírito.
A boa comida, bem preparada e saborosa sempre será uma tendência.
Por Luciana Morais, CMO da Rede Giraffas