![]()
A ladeirinha das moules
Eu fui ao Festival de Cannes nove vezes. E foram nove experiências únicas.
A cada ano, um momento novo, descobertas para vida toda, um turbilhão de sentimentos. O deslumbramento da estreia nos auditórios do Palais, a avalanche de ideias nos três primeiros dias, a pressa de correr de sala em sala para não perder as categorias. Com sono, na pilha, de ressaca dos vinhos nacionais.
Foi-se o calouro de Palais. A pilha agora é outra. A adrenalina de ter peça no shortlist, a decepção de estar nele e não levar um mísero gatinho de bronze para a agência, e anos depois subir imodesto naquele palco com a alma a cheirar talco. Luzes que se acendem, luzes que se apagam, luzes que não se esquecem. E vamos em frente que atrás vem gente.
O tempo passou, eu mudei e o Festival também. A evolução, digo, a revolução tecnológica da propaganda fez do Palais uma imensa feira de comunicação, criação, inovação, conteúdo e business, onde flana-se com uma sacola na cabeça aberta para absorver tendências, mídias, estratégias, táticas, estilos, ferramentas, oportunidades, surpresas, palavras, imagens, conceitos, metáforas, pensamentos, sacadas, arte, traços, pistas, soluções, jeitos, expressões, bobagens e não bobagens, risadas e nós na garganta, enfim, toda sorte de razões e emoções que realimentam o mercado do mundo e da sua cidade, e alimentam um curioso voraz como eu.
A cada junho no festival, uma volta ao Brasil mais energizado, mais enriquecido. Não existe investimento melhor que uma viagem com esse volume de informações. É resultado certo. Não quebra com a Bolsa, ninguém rouba você, não pega fogo e, se cuidar, não sai de sua memória.
Mas apesar de todas essas riquezas profissionais que o festival provoca, nada melhor que subir a ladeirinha das moules e encontrar a gente querida que a propaganda nos apresenta, amigos de curta e longa data. E varar a noite falando da vida, jogando conversa fora e rindo de sei lá o quê.
*redator, diretor de criação e sócio da 11:21 Simplicidade Criativa