O home office foi a saída da grande maioria das empresas para enfrentar a Covid-19. Também para muitos trabalhar em casa tem sido uma novidade. Atender aos inúmeros compromissos e ainda conviver no ambiente doméstico não é tarefa fácil. Muitos nesta reportagem relatam suas experiências em dividir espaço com crianças, cachorro, pássaros e outros que fazem parte da vida cotidiana de uma casa.

A grande curiosidade fica por conta dos videocalls, que têm sido embalados por trilhas nada convencionais: choro de criança e latidos são os mais frequentes. Mas todos estão se virando. Os negócios dos clientes não foram deixados de lado e todos tentam manter a rotina dos clientes e preparar estratégias para quando tudo voltar ao seu devido lugar.

Os profissionais da Lew’Lara\TBWA, por exemplo, relatam que a nova rotina tem sido desafiadora. Wilson Negrini, chief growth and business officer, disse que a agência inteira está operando a partir de casa, que “o mais incrível e gratificante é viver a experiência de união”. “Apesar da distância, estamos mais unidos e comprometidos do que nunca em fazer com que as nossas marcas, parceiros e agência tenham o mínimo impacto possível, e com que a agência continue operando”. Para ele, o problema é quando a equipe toda precisa estar em vídeos: “todos falam ao mesmo tempo e áudios de crianças chorando, passarinhos e cachorros vazam”.

Martin Montoya, da Cheil: família trabalha em casa para fugir do contágio

Cumprir os compromissos é o maior desafio em home office, segundo Negrini, pois é preciso todos os calls internos e apresentações aos clientes e os inúmeros grupos de WhatsApp. “Por enquanto, estou conseguindo cumprir os compromissos. Sempre que possível, nos dividimos e decidimos em times quem deve participar da reunião y ou call x”, declarou. Para ele, um dos segredos para fazer a coisa funcionar como se deve é tocar a rotina como qualquer dia normal de trabalho.

Para Sleyman Khodor, executive creative director, também
da Lew’Lara\TBWA, o home office tem sido bastante curioso, porque, segundo ele, não é só uma experiência de trabalho, mas de vida. “E posso dizer que a lacuna do trabalho está bem mais organizada que a da vida”. Ele tira um lado positivo de tudo isso, pois disse que se diverte em ver os “filhos dos outros pipocando nos videocalls”. Ele disse ainda que, curiosamente, tem conseguido cumprir os compromissos. “Isso não tem sido um problema. Posso até dizer que a produtividade aumentou. Acho que muitos vão dizer isso porque o foco aumenta”.

Já Renata Bokel, CSO da WMcCann, disse que é um mundo novo, sem precedentes. “Nunca vivemos nada parecido. Ao mesmo tempo em que tudo muda o tempo todo, o mundo pede calma. É um momento de reflexão e revisão total do nosso papel na sociedade. Tenho procurado entender essa crise como um restart de relações como um todo e buscar no trabalho uma forma de nossas marcas terem um papel realmente significativo na vida das pessoas”, argumentou.

Renata Bokel, também da WMcCann

Ela disse que está se adaptando ainda, tentando administrar o tempo de um jeito diferente e com muito mais tarefas para fazer. “Ao mesmo tempo, ter a família por perto o dia todo é uma coisa interessante e desafiadora, porque, apesar de juntos, estamos cada um fazendo as suas tarefas, com horários diferentes, e tentando encaixar o tempo de ficarmos juntos. O home office, apesar de flexível, é bem desafiador na hora de conciliar trabalho, família, tempo livre (este último é uma ilusão)”.

Também da WMcCann, a diretora de criação Renata Leão falou que a sua experiência tem sido bem produtiva. “Em casa, sem correr o risco de ser interrompida o dia todo, consigo focar mais nas entregas e produzir melhor”. O dia dela começa com reuniões e, segundo ela, é um momento importante no mesmo tempo/espaço. “A gente começa o dia se encontrando, conversando como serão as próximas oito horas de trabalho. Renata afirmou que tem conseguido cumprir os seus compromissos. “Como todos estão em frente aos seus computadores, a agilidade aumentou bastante. Tanto o contato entre os integrantes da equipe, quanto com os clientes”.

Outro profissional da WMcCann é Vitor Miguel, head de performance, que disse que, apesar de trabalhar com mídia digital, este período evidenciou como são importantes as relações interpessoais. “Todas as conversas de cinco minutos no canto da mesa precisaram se tornar reuniões de alinhamento entre as mais diversas áreas”. Ele contou que faz frente de trabalho com o cliente, entendendo as demandas e atualizações diárias que envolvem as decisões da conta. Miguel afirmou que tem cumprido seus compromissos. “O volume de reuniões de alinhamento entre clientes e agência aumentou bastante, mas, graças à facilidade de criar grupos de trabalho no WhatsApp e Microsoft Teams, entre outras ferramentas, tudo está sendo realizado dentro dos prazos estipulados e mantendo o nível de entrega”.

Fabio Brito, da Leo Burnett

SURREAL
Tatiana Uemura, head de estratégia da Mark Up, disse que fazia home office uma vez por semana, e o ganho de tempo e de produtividade sempre foi indiscutível. “Mas, agora, com todo mundo fazendo home office ao mesmo tempo, é um pouco surreal, pois há estímulos o tempo todo e de todo lado”. Para ela, o mais pitoresco disso tudo é o número de casas que visita sem sair do lugar. “Abrimos a câmera e estamos diante da intimidade dos colegas, de parceiros, de clientes. A coisa fica mais humana, sem verniz”.

Já Melina Romariz, chief strategy officer da Propeg, acredita que o momento é delicado, mas repleto de aprendizados. “O ritmo está intenso. Até porque, fora o volume normal de pauta, temos alguns extras, como gestão de crise real-time e oportunidades mil para marcas se posicionarem de forma empática, respeitosa e útil”. Ela, apesar de tudo ser novo e esquisito, tem sentido as equipes mais unidas, comprometidas”.
Os compromissos, segundo ela, estão sendo cumpridos. “Na rotina atual, algumas ações têm se intensificado, como gestão de pauta diária e com definição de prioridades day by day, e as reuniões via vídeo para discutir jobs, além de reuniões semanais com o time todo de planejamento e encontros via vídeo do board. Isso tem dado fluidez, proximidade e maior produtividade”.

Priscilla Ceruti, diretora-geral de planejamento da Dentsu Brasil, chairmom e presidente do MamaLab Brasil-Latam, acredita que todos terão muita história para contar. “Acho que vamos aprender muito sobre trabalho a distância e isso vai mudar nossa forma de encarar as rotinas”.

Fabio Meneghati, da Greenz: família em quarentena

Para ela, o distanciamento físico provocou um fenômeno que até então ela achava impossível: “estamos fazendo ainda mais reuniões. Em sete dias já experimentei todos os apps disponíveis de videoconferência e as horas de reuniões foram incontáveis”. Ela disse que repete diariamente “Eu dou conta” como um mantra.

Já Rodolpho Aguiar Eufrosino, diretor-geral de mídia da Dentsu Brasil, afirma que sua experiência está sendo inusitada, porque mudou a vida sem os deslocamentos, “o que é bom”. Por outro lado, o contato com os times é um complicador. “Ainda mais quando temos um time muito integrado, que extrapola a minha disciplina na agência, que é a mídia. A minha área, o atendimento, a criação e o planejamento são muito próximos, isso nos dá velocidade de movimentar a agência. Segundo ele, na medida do possível, está cumprindo os compromissos. “Na agência estamos tentando ir muito mais do que além do essencial, estamos trabalhando e entregando muito”, conclui.

Renata Leão, da WMcCann

MODELO
Fabio Meneghati, que lidera a Greenz, disse que o trabalho remoto para o mercado não é exatamente uma novidade. “Já estava em curso em diferentes segmentos. Pouco a pouco, empresas e colaboradores estavam trilhando esse caminho. Essa crise agiu como um catalisador, acelerando o processo. O fato é que, entre erros e acertos, estamos todos nos adaptando a essa nova realidade. Acredito que esse é um caminho sem volta, saíremos dessa crise diferentes”. Conforme ele, na Greenz alguns profissionais já trabalhavam no modelo de home office. Ele contou que tem dado conta dos compromissos, mas “o fato de estar todos em casa aumentou em muito o volume de trabalho”. Ele afirmou ainda que, neste momento, o modelo de aceleradora de negócios está bastante direcionado a parceria e agilidade.

Teca Vilaça, gerente de operações da NBS, fala que o home office mostra que o modelo de trabalho pode ser mudado. Para ela, também a forma como se encara a rotina. “É nessas horas que observamos quem de fato encara o trabalho com seriedade, quem tá brincando de férias ou quem se torna presente só pra mostrar serviço”. “Estamos no auge da revolução digital, cujos meios de conversas e conferencias digitais viraram a plataforma mais importante pra enfrentar este momento”.

Ela considera pitoresco o excesso de grupos, calls e mensagens, sem hora para começar e terminar, mas não consegue dar conta de todos os compromissos. “Às vezes, eu esqueço uns calls porque me enrolei com outro. Agora, preciso me adaptar à nova rotina, com o trabalho e com a casa”, declarou.

Ju Shtorache, supervisora de business intelligence, também da NBS, disse que home office não é novidade para ela. Por isso, o foco não está sendo um problema. “O que mais tem incomodado é a reclusão total, já que não podemos sair por causa da pandemia”, lamentou.

Juliana Lima, diretora de planejamento da Jüssi, analisou que a palavra da vez neste momento é intensidade e encontrar formas de se manter sã e calma tem sido essencial. Ela declarou que mesmo a distância tem tentando inspirar e dar apoio às equipes.

Jairo Soares, COO da Havas+, relatou que a agência se adaptou rapidamente ao contexto e dinâmica tanto na operação e no desenvolvimento dos trabalhos que já estavam ocorrendo, quanto nas novas demandas, e a “experiência está sendo intensa”. O contexto em que estamos vivendo exige nossa presença em diversas frentes de trabalhos para contribuirmos ainda mais com ações relevantes para os clientes, diante do atual cenário. Estamos atuando como consultores estratégicos, olhando para o curtíssimo, curto e médio prazo. Diversas conferências são realizadas diariamente”, contou.

Guilherme Jahara, da SunsetDDB

Para Guilherme Jahara, copresidente e CCO da SunsetDDB, o home office, às vezes, é produtivo; às vezes, complexo. “Quando há muitas plataformas diferentes de conexão, complica mais. Por outro lado, estamos ficando “craques” em plataformas de videoconferência. Ele disse que, mesmo no corre-corre, cumpre a maioria dos seus compromissos. “Mas tem existido um excesso de compromissos via call. A sensação de que, se não estamos lá, alguma coisa está acontecendo sem sabermos”.

Em meio ao turbilhão do momento ainda houve a fusão da Tribal pela Sunset (veja matéria na página 9), na semana passada. O anúncio foi via call e ele acredita que tenha sido a maior videoconferência que se tem notícia, pois começou com cerca de 100 pessoas e chegou a ter 170 no decorrer. Uma experiência e tanto para um home office.

Fabio Brito, VP de atendimento da Leo Burnett, disse que o time se adaptou bem rápido e o formato obriga a todos serem ainda mais eficientes e objetivos. “O uso de tech nos ajuda muito na gestão dos projetos. E o modelo também nos obriga a gerenciar melhor os projetos do ponto de vista de prioridades. Eu tenho certeza que vamos aprender muito com o modelo home office. E percebo que os times estão mais próximos. Existe um esforço real de todos se apoiarem”.

Ele comentou ainda que todos os dias os compromissos precisam ser muito bem planejados, “tanto para o que está programado, mas também criando espaço para o que não está programado”. “Estamos ajudando nossos clientes a navegar neste momento da melhor forma possível. Isso demanda alto nível de adaptação, mudança de rota e ajustes”.