O ano começou com declarações preocupantes do novo presidente da República e da sua equipe, a respeito da nossa atividade. Ainda no ano passado, o vice-presidente, antes mesmo de tomar posse, fez uma avaliação simplista sobre a atividade de propaganda.
“O processo tradicional de propaganda, que gasta rios de dinheiro, deve ser abandonado”, afirmou. Segundo ele, as demandas de comunicação do governo podem
ser resolvidas via redes sociais e processos online.
De fato, a performance da campanha de Bolsonaro, baseada quase que tão somente nas redes sociais, deve ter encantado o general. Mas, infelizmente, nada é tão simples assim. Há de se considerar muitas outras variáveis e efeitos conjunturais antes de tirar conclusões simplistas.
Começando pela penetração da internet. Estima-se que um terço dos brasileiros não tenha acesso à internet. Esses não serão impactados pela comunicação do governo?!
Outra questão é o custo. Uma inserção em mídia de massa, na TV aberta, por exemplo, realmente tem um valor absoluto alto, mas se analisarmos o custo por mil é plenamente justificável. Fazer propaganda ou comunicação eficaz é coisa para especialistas e nossa esperança é que o novo governo não abra mão de agências qualificadas para fazer um trabalho competente.
E o governo pode ficar tranquilo: o Brasil é considerado um dos países mais avançados nessa área, estando entre os três mais premiados em festivais internacionais.
Propaganda é um dos raros setores econômicos brasileiros reverenciados mundo afora. Dias atrás, foi a vez do próprio presidente questionar o BV de agências. Como sabemos, os Programas de Incentivo (que ele chamou de BV) são instrumentos lícitos, existentes em diversas categorias, com total amparo legal.
Fenapro e Abap já se posicionaram e houve grande repercussão, exposta aqui mesmo, na última edição do PROPMARK.
Na edição anterior do PROPMARK, no seu Editorial, Armando Ferrentini apresenta uma carta aberta ao presidente, expondo, com muita propriedade, o valor da propaganda. Ferrentini deixou claro que o desempenho do setor não é algo de modismos, de agora, mas, isso sim, fruto de um trabalho histórico, de forte participação de todos os envolvidos ao longo de décadas.
O fato é que a nossa propaganda está sendo criticada e analisada de forma simplista, amadora e inusitada. Mais do que nunca, é necessária uma mobilização de todos do setor para gerar os esclarecimentos necessários e criar uma agenda com os líderes governamentais no sentido de alterar a percepção equivocada sobre a nossa importante atividade.
É preciso um esforço coletivo de esclarecimento público e de gestão junto aos dirigentes públicos.
O nosso setor é exemplar no sentido da autorregulação, tendo excelentes fóruns para discussão da nossa atividade, seja no estabelecimento de melhores práticas, seja na observação e controle de qualidade de comunicação. Tudo feito com transparência e com o envolvimento de todos os players. O setor tem também instituições maduras e representativas, capazes de conduzir discussões em alto nível.
Associações e entidades sindicais têm feito um excelente trabalho no sentido de garantir a mais alta qualidade do nosso setor, atestada internacionalmente, como frisei neste artigo, nos mais importantes concursos e festivais mundo afora. Puxando a brasa para minha sardinha, gostaria de usar este espaço para conclamar especialmente todas as agências de propaganda para uma união de esforços concentrada nesse importante momento.
Acreditem na representação setorial! Fortaleçam os sistemas de representação organizados! Devemos acreditar no bom senso e na intenção honesta dos governantes em melhorar o que estão encontrando na gestão pública.
De fato, essa revisão é necessária e todos esperamos isso. Mas devemos também estar atentos e unidos para garantir uma percepção verdadeira dos processos maduros que envolvem a propaganda brasileira. #Tamojunto!
Alexis Thuller Pagliarini é superintendente da Fenapro (Federação Nacional das Agências
de Propaganda) (alexis@fenapro.org.br)