Nada me inspira mais do que a simplicidade. Em um mundo cheio de tarefas complicadas e demandas sem propósito, a simplicidade é um bálsamo. A simplicidade das crianças me inspira.
Como neste diálogo com meu filho mais novo, de 7 anos:
– Filho, por que você jogou no meio de campo? Você não joga sempre no ataque?
– Ah, pai, eu pedi para jogar de volante. Você não tem tanta chance de fazer gol, mas fica mais com a bola. É mais divertido.
Afinal, é disso que se trata o futebol, não? Diversão.
A simplicidade da Apple me inspira.
Uma empresa que sempre perseguiu a simplicidade, como nenhuma outra na história. Do nome dos produtos ao logo da marca. Das embalagens às lojas. Do software ao hardware. Das apresentações do Steve Jobs às campanhas publicitárias. Tudo pensado para ser simples, intuitivo, direto ao ponto, amigável, plug and play.
Na embalagem do Apple II, o primeiro grande sucesso da marca, vinha um cartão com o seguinte texto: Simplicity is the ultimate sophistication. Introducing the Apple II, the personal computer.
A simplicidade da boa tipografia me inspira. Como a simplicidade da Helvetica, uma das mais populares famílias tipográficas do mundo, que faz parte do acervo do MoMA de Nova York e ganhou um documentário no seu cinquentenário.
Helvetica foi criada em 1957 por Max Miedinger e Eduard Hoffmann. A ideia é que fosse uma fonte neutra, sem nenhum significado, a fonte “sem face” – como alguns a definem.
Pela sua simplicidade e equilíbrio no desenho, com suas hastes terminando sempre na vertical ou na horizontal (nunca na diagonal), a Helvetica é uma das poucas fontes a manter sua legibilidade mesmo em movimento; por isso foi a escolhida por uma série de companhias aéreas mundo afora.
A simplicidade do design do Milton Glaser me inspira. Em 1977, Milton Glaser criou uma das imagens mais reproduzidas e copiadas mundo afora: o logo I LOVE NY.
Ele foi convidado pelo Departamento de Desenvolvimento Econômico de Nova York para fazer parte da campanha que estava sendo desenvolvida pela agência Wells Rich Greene. A campanha tinha como propósito resgatar o prestígio da cidade, que estava com sua imagem arranhada pela crise, e, principalmente, por ser uma cidade violenta. Durante a reunião, ele tirou do bolso o rascunho que tinha feito durante uma corrida de táxi. O curioso é que ele fez o trabalho de graça e, hoje em dia, o mesmo Departamento de Desenvolvimento Econômico da cidade fatura mais de 30 milhões de dólares por ano em produtos oficiais licenciados com a marca.
A simplicidade é encantadora e todo mundo concorda que quanto mais simples, melhor.
Mas nem todo mundo consegue praticar a simplicidade.
Isso porque, paradoxalmente, ser complicado é fácil.
A simplicidade é que requer mais esforço.
Ser simples é buscar a essência, é enxergar o mundo pelos olhos de uma criança, é ter clareza do que deve ser feito e, mais importante, ter clareza ainda maior do que não fazer.
Como disse Antoine de Saint-Exupéry: “A perfeição é alcançada não quando não há mais nada para adicionar, mas quando não há mais nada que se possa retirar”.
Romolo Megda é diretor de criação da Babel e professor de Criação da ESPM