Os filmes do Elvis. Ele não era o Elvis, era o Elvis fazendo papéis comuns em filmes rotineiros. A Hard Day’s Night. Beatles fazendo papel de Beatles. Músicas, cortes de cabelo, atitudes, roupas, piadas, tudo inédito. Brian Epstein era um gênio? O que fazer de diferente depois disso? Como se destacar? Marcus Mumford & Sons. O banjo fez a diferença na busca da sonoridade inconfundível.
Roger McGuinn (Byrds) já tinha feito isso misturando técnica de banjo com 12 cordas. A concorrência era grande, incrivelmente variada e competente. Jimi Hendrix, Pete Townshend, Eric Clapton…
Surfar o diferente sem copiar. A capa do Sargent Pepper’s leva à capa do Satanic Majesties? Tudo quanto é gente interessante da época e de antes da época está com o Sargent. Não faz muito tempo tinha um hit pop cuja letra era os nomes das celebridades que o letrista admirava. Woody Allen estava nessa letra. Humor mais verbal que gestual, seguidor de Marx Brothers. Complica quando depende de legenda. Domingo no Parque é uma música cinematográfica. Se fosse filmada, as imagens fariam o papel da legenda. Dar valor ao Oscar? Como, se não costuma premiar comédias! Não é mais difícil fazer rir do que fazer chorar? E Peter Sellers jamais ganhou! O General Ripper de Dr. Strangelove não é um possível protótipo de Donald Trump? Forrest Gump. Forrest Trump?
O personagem de James Stewart em Janela Indiscreta, obra-prima do minimalista Alfred Hitchcock, parece ter sido baseado em Robert Capa, o fotógrafo-aventureiro. O que clicou o revolucionário espanhol justo no momento em que era atingido por um tiro. Cartier Bresson tinha outro olhar. Nas Olimpíadas de Tóquio, na pista de atletismo, ele percebe os outros fotógrafos com as enormes teleobjetivas apontadas para o mesmo ponto. Clica. As fotos deles são documento, a dele é documento e arte. Imagens & façanhas. Abebe Bikila ganhando maratonas descalço. E fazendo flexões de solo para mostrar que estava inteiro após 42 km.
Estranho o senso de humor do destino, estragar as pernas dele e as de João do Pulo. E aquela maratonista suíça, Gabriela Andersen (www.youtube.com/watch?v=t2_Xu7AXAdY), que perde o controle da musculatura mas vai até o fim, sustentada pela força de vontade? Merecia uma medalha. Categoria “meu cérebro é quem manda”. Deviam ter dado uma de ouro na categoria estupidez sem barreiras para o ex-padre que prejudicou Vanderlei Cordeiro. Um empurrãozinho mixuruca e ouro vira bronze. Tem algo mais mixuruca que um prato de sopa de letrinhas?
“Ponho-me a escrever teu nome com letras de macarrão”. Tão genial que lágrimas apareceram no canto do olho a primeira vez que li (www.escritas.org/pt/t/10958/sentimental).
Porque Renoir se deu ao trabalho de pintar a mesma paisagem, uma aldeia, em dois momentos diferentes do dia? E por que isso me provoca tanta emoção que as lágrimas se impõem? National Gallery, Trafalgar Square. Estive lá depois, numa exposição de um daqueles fotógrafos ingleses top (David Bailey, acho) com John Hegarty, a convite dele. Honra. Sir John defende que quem fica olhando o smartphone o tempo todo está deixando de ver a vida em volta. Concordo. Um homem na beira de uma estrada. O vento leva seu chapéu. É ponto de partida suficiente para os irmãos Cohen criarem um longa.
Carlos Chiesa é presidente e diretor de criação da 440volts Inteligência em Comunicação