Apesar de caótico, o trânsito de São Paulo também pode ser fonte de inspiração. Para se ter uma ideia, duas startups que hoje contribuem para o desenvolvimento da mobilidade surgiram na cidade: 99 e Loggi, a primeira de táxis e veículos particulares; a segunda, de motofrete. Como a maioria, elas também precisaram de investidores-anjo e, depois, de parceiros maiores, que constituem a base para o desenvolvimento de muitos negócios.
No caso da 99, que no início se chamava 99Taxis, a ideia do negócio veio há aproximadamente quatro anos de três politécnicos da USP (Paulo Veras, Ariel Lambrecht e Renato Freitas), que investiram valores pessoais e conquistaram, em um ano, apenas 300 taxistas na base. Com aportes ao longo do tempo, a empresa se desenvolveu e hoje tem em sua base 140 mil motoristas. “A gente é uma empresa de pouco mais de quatro anos, começamos como qualquer startup, daquelas bem de filme, com um dos fundadores morando dentro da empresa. O início é sempre difícil, com dinheiro próprio, de parente. No primeiro ano, foram 200 motoristas cadastrados. No segundo, milhares. E aí no terceiro ano veio o investimento”, lembra Matheus Moraes, diretor de política e comunicação da 99. “Começamos o negócio na cidade mais competitiva do Brasil. O trabalho é uma escola, é desafiador e te ajuda a entender outros mercados. Começamos apenas com táxis e hoje somos uma empresa de mobilidade. Esse é um mercado extremamente competitivo e, para crescer, a gente precisa de capital”, acrescenta.
Atualmente, a 99 tem investidores-anjo e outras categorias de investimento. No ano passado, por exemplo, a empresa conquistou aportes estratégicos da Riverwood Capital, acelerador global em tecnologia de alto crescimento, e da Didi Chuxing, que é a maior plataforma de transporte móvel do mundo. O valor ultrapassou os US$ 100 milhões.
“Esses parceiros trazem capital e nos ajudam em algumas frentes. A Didi, por exemplo, é a maior empresa de mobilidade do mundo. Só na China ela faz três vezes mais corridas que a Uber no mundo. Eles, inclusive, compraram a operação do Uber na China. E eles olharam para o mercado brasileiro e viram que era importante investir aqui, acreditaram em nós. Além do capital, agora a gente vai conseguir usar e compartilhar da tecnologia deles”, destaca Moraes.
CRESCIMENTO
Com o investimento, a 99 deve dobrar o tamanho de seu time no primeiro semestre do ano e passar de 250 para 500 colaboradores, sendo a maioria alocada em São Paulo. O objetivo é, ainda neste ano, ser a líder no mercado de carros privados – projeto que teve início, no segundo semestre de 2016, com o lançamento da categoria 99Pop.
História de sucesso parecida tem a Loggi, idealizada pelo francês Fabien Mendez, que vive no Brasil há seis anos. Criada há quase quatro anos, a sturtup surgiu quando Mendez, parado no trânsito de São Paulo, notou a quantidade de motoboys na cidade – algo incomum na Europa. Assim, hoje a empresa atua com três produtos que transformaram o mercado de entregas.
“O primeiro produto criado foi focado em entregas via motoboy para o mercado corporativo. Depois criamos o Pro, que é um serviço inédito de entregas expressas para e-commerce. E em 2016 lançamos o Presto, que revoluciona o mercado de delivery ao unir serviço de motoboy “on-demand” com meio de pagamento”, explica Mendez.
Em 2013, a startup recebeu R$ 2,6 milhões de dez investidores-anjo. De lá para cá, foram mais duas rodadas: em setembro de 2014, um aporte de R$ 10 milhões da Monashees Capital e da Qualcomm Ventures (series A, voltado para empresas que, entre outras características, já faturam), e o mais recente, de agosto de 2015, de R$ 50 milhões de três fundos de capital de risco – Dragoneer Investment Group, Monashees Capital e Qualcomm Ventures (series B, voltado para expansão de mercado).
“Consegui captar a confiança de dois investidores, com uma boa apresentação da minha ideia no PowerPoint. Aí os dois investidores convidaram mais sete conhecidos e amigos para a rodada. Cada um colocou valores entre R$ 50 mil e R$ 500 mil. Com isso conseguimos captar um total R$ 2,5 milhões, o que foi suficiente para iniciar a Loggi”, lembra Mendez. “Um bom investidor-anjo pode fazer a diferença entre sucesso e fracasso nos primeiros meses da empresa. No nosso caso, tivemos sorte e nossos investidores-anjo se enquadraram no conceito de smart money: não somente trouxeram capital, mas também experiência e conexões no mercado, o que nos ajudou a adquirir clientes ou captar nossas futuras rodadas de investimento”, acrescenta.
Mendez ressalta a importância destes investimentos para a expansão do negócio, que hoje atua também no Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Curitiba e Porto Alegre.
“Sem dúvida, a cada rodada de investimento a empresa dá um salto qualitativo e evolui com muito mais agilidade e capacidade de expansão. No nosso caso, foi possível ampliar o portfólio de produtos e também expandir para outras cidades”, afirma.
ANJOS
Considerada um dos principais nomes do investimento-anjo no Brasil, Camila Farani é uma das investidoras da versão brasileira do reality Shark Tank Brasil – Negociando com Tubarões, exibido pelo Canal Sony desde outubro passado. Na atração, a executiva – que divide a atração com outros investidores, como o cantor, compositor e empresário Sorocaba e o fundador da Polishop, João Appolinário – é colocada frente a frente com empreendedores que apresentam suas ideias para tentar conquistar um investimento.
Desde que está no ar, a atração, somando os aportes de todos os investidores, já tem mais de R$ 6 milhões investidos em 22 empresas, sendo que 64 se apresentaram.
“Para mim, no programa, uma das coisas primordiais é entender a postura do empreendedor, o quanto ele é dedicado, sabe do negócio dele e apresenta isso de forma concisa. E isso vale para a vida real”, comenta.
Na opinião da executiva, que já investiu em mais de 15 startups diretamente, além de outras dez como parte de uma aceleradora, o investidor-anjo é uma das melhores formas de desenvolver uma empresa.
“O investidor-anjo agrega à sua rede de relacionamento, com expertise e networking. Ele alavanca uma startup a partir do momento que entende que pode ser mais ativo. Mas também tem o investidor passivo, que só entra mesmo com o capital”, difere Camila. “O investidor-anjo, e aqui falo como investidora e como shark no programa, tem um papel social muito grande, pois contribui para a geração de empregos e para a economia. E isso, para a nação, é muito relevante. Grandes empresas, como Facebook, Instagram e Pinterest, tiveram anjo, com capital e inteligência”, ressalta.
Nessa mesma linha do programa, São Paulo foi escolhida para sediar o evento Ebulição Instantânea (realizado entre os dias 20 e 22), que pela primeira vez trouxe para o Brasil o empresário global e um dos tubarões originais da versão americana do Shark Tank, Kevin Harrington. O executivo já movimentou mais de US$ 5 bilhões com o lançamento de mais de 500 produtos em todo o mundo e, por aqui, foi apresentado a 15 projetos com potencial para receber até R$ 1 milhão em investimento.
“O objetivo do evento Ebulição Instantânea é mostrar como pessoas podem sair do zero e se tornarem bem-sucedidas. Mais de 50% dos bilionários da Forbes são self made people, por isso acredito na cultura do sucesso”, diz Rafa Prado, influencer do mundo business e idealizador do evento.