Vamos ser justos com o governo Bolsonaro: destruiu a possibilidade de se fazer crônicas semanais sobre acontecimentos políticos. O comentário sobre qualquer coisa que envolva decisões governamentais tem validade de horas, se tanto. Leis, alianças, decisões podem mudar num piscar de olhos. O que foi dito pela manhã, vira fake à tarde. E a furiosa indústria de postagens na internet tem a estabilidade de uma pipa na ventania. A mobilização permanente é uma estratégia. E, para que ela continue, é preciso que se tenha uma novidade a cada instante. Eu não imagino onde isso pode dar. Boa coisa, algo me diz, não é. Presidente fazendo teaser, será que funciona? “Semana que vem – diz ele – vai ter uma novidade!” O país para pra esperar. O negócio é esse? Expectativa permanente? Nos meus longos anos de vida nunca ouvi falar nisso, a não ser o Beto Carreiro, que ficou anos na televisão só montando um cavalo empinado. Mas, enquanto isso, ele construiu um parque de diversão. Seria esse o negócio do governo? Algo está se fazendo, que será revelado de uma hora para outra? Se for assim, tiro humildemente o chapéu e aplaudirei a prestidigitação. Dizem que o Jânio era assim. Proibia a briga de galo e o biquíni e, enquanto todo mundo ficava discutindo o assunto, criava a Sumoc.

Tomara que seja isso. No circo, os palhaços servem para preencher o vazio enquanto a jaula do domador é preparada ou se estende a rede para os trapezistas. Será que os palavrões do Olavo de Carvalho e as goiabeiras miraculosas da ministra servem apenas para distrair a plateia enquanto se prepara o cenário para uma nova atração? Sinceramente torço para isso. Torço mesmo para que, por trás desse espetáculo que estamos assistindo, um número realmente mágico esteja sendo preparado e exista algum roteiro sendo seguido. Mudando um pouco de assunto, mas ficando por aqui mesmo. Quando, há muitos anos, eu comecei a escrever para o PROPMARK, escrevi algumas palavras consideradas de baixo calão. Nada muito terrível, algo como merda, bunda e por aí vai. Foi considerado uma desfaçatez.

O Armando teve de segurar algumas críticas bastante duras, mas, como sempre fez, seja com vocabulário ou opinião, jamais interferiu. Nos dias de hoje, minhas colunas consideradas fesceninas naquele tempo parecem poesias infantis diante do que escreve e fala o grande pensador do governo. Não sei se considero propriamente uma evolução. O que era para mim uma tentativa de reproduzir uma linguagem coloquial, uma conversa entre íntimos, virou padrão na fala do guru governamental. Outra coisa. Desde que comecei a escrever por aqui, temos um revisor. Um cidadão que cuida para que, em nome do respeito ao idioma, ao leitor e à clareza do conteúdo, não deixa que erros de ortografia, ou mesmo imprecisão de linguagem, sejam publicados.

No governo não. Até o ministro da Educação escreve errado. E sai errado nas redes sociais. Isso para não falar nos barbarismos (entendido como vício de linguagem, por favor) cometidos pelo próprio presidente e toda sua corte de filhos deputados e seguidores fiéis. Temos de ser justos. Viver atualmente está emocionante. Antigamente uma notícia-bomba era divulgada a cada semana, incluindo catástrofes naturais e separação de famosos. Hoje várias bombas vêm a cada hora que passa.

A rádio Bandnews, que usava como slogan Em 20 minutos tudo pode mudar, descobriu que não só pode mudar, como muda. E 20 minutos é muito. Em 20 minutos o governo toma uma decisão, muda a decisão, põe a culpa da decisão no PT e depois põe a culpa da mudança da decisão nos comunistas que ainda não saíram do governo. E tuíta desesperadamente. E, antes que me esqueça, acho que o governo precisa resolver esse problema que tem com a Globo. É amor demais. Parece aqueles apaixonados(as) que ficam dançando de rostinho colado com outra(o) só para fazer ciúme. É muita bandeira. Paixão desesperada. Só falta dizer “pra mim você morreu”. O mais engraçado são as dezenas de mensagens que recebo no Face que contam alguma coisa e terminam: “isso a Globo não mostra”. Como eles sabem?

Lula Vieira é publicitário, diretor do Grupo Mesa e da Approach Comunicação, radialista, escritor, editor e professor (lulavieira.luvi@gmail.com)