CEO do Grupo DAN (Dentsu Aegis Network) para a América Latina, Julio Castellanos ocupa essa função desde 2013, quando substituiu a ex-cliente Claudia Colaferro, que o contratou para a holding japonesa de comunicação para comandar outras atividades na empresa. Ele é filho de imigrantes cubanos, nascido em Miami e com a adolescência passada em São Paulo, onde fala que iniciou “relação carnal” com o Brasil.
Exilados nos Estados Unidos por causa da revolução de Fidel Castro, os pais de Castellanos chegaram ao novo país grávidos. Ficaram pouco em Miami, cidade onde Castellanos vive hoje e dirige o DAN Latam. Até os 12 anos, sua base foi Nova York, onde estudou, antes da transferência de emprego do pai. Mas seus pais decidiram que o ensino universitário teria de ser feito nos EUA, onde se formou na Yale University em psicologia e ciência política.
“Estudei a vida”, resumiu o executivo no encontro que teve com os jornalistas do PROPMARK. E a publicidade? Perguntou a editora-chefe Kelly Dores. “Fiz estágio na extinta Squire, do publicitário Lindoval de Oliveira, durante meu período de férias de Yale no Brasil. O bichinho da propaganda me mordeu, mesmo sem eu saber direito o que as pessoas faziam. Tive essa oportunidade e, mesmo sendo uma mosca na parede, gostei do ambiente e da curiosidade intelectual dos publicitários. Isso combinava comigo. Depois que me formei e voltei ao Brasil, trabalhei em uma empresa de engenharia nada a ver por três meses. Eu queria me matar, mas foi o que me trouxe de volta ao Rio”, respondeu Castellanos.
Foi nesse momento que se lembrou da propaganda. Mas não conhecia ninguém que habilitasse um QI (quem indica) eficiente. Ele recorreu ao cadastro da Câmara de Comércio America e ligou para todas as agências listadas, da McCann-Erickson à J. Walter Thompson. Ninguém o atendeu. E também caía na barreira das secretárias. Mas um dia foi surpreendido. Eduardo Domingues, que comandava a Caio Domingues & Associados, fundada por seu pai e referência no segmento, atendeu à ligação. “Contei minha história e disse que gostaria de trabalhar com publicidade. Ele agendou conversa para a segunda-feira, pela manhã. Durante uma hora conversamos e ele se identificou com meu papo vira-lata. Fui contratado e cheguei a trabalhar com a lenda Caio Domingues”, disse Castellanos, que guardou uma lição do encontro com Ed: não se recusar a atender telefonemas de profissionais interessados em trabalhar nas agências que comanda.
“Você se vê nele?”, abordou Leonardo Araujo. “Isso foi marcante. Fiz carreira graças a essa oportunidade. Pode não render uma contratação, mas recebo. Aliás, quando terminou a entrevista, perguntei ao Ed por que ele me atendeu. Ele disse que porque nunca se sabe de onde vai vir uma estrela, conceito que ele revelou ter aprendido com seu pai. Guardei para a vida como aula número 1. Se alguém tem a iniciativa e ir direto à fonte para uma entrevista, algo tem.”
Sua chegada ao DAN ocorreu quando a organização ainda era identificada com Aegis Media. Castellanos tinha recém-saído da presidência da Leo Burnett, no México. Sua ideia era retornar ao Brasil e “jogar a âncora” em um negócio próprio na área de marketing estratégico.
“Cheguei por intermédio da Claudia, que era diretora de marketing da Coca-Cola nos anos 2000. Eu atendia a conta na McCann. Ela queria uma indicação para o México. No dia seguinte, um headhunter me ligou dizendo que estava à frente da seleção para o grupo no México. Começamos a conversar e em dois dias ele me formalizou o convite para a Aegis do México. Um ano depois, virou DAN. Fiquei no México até o início de 2019. Atualmente moro em Miami, de onde comando a operação regional do grupo.”
E a âncora? Relembrou Neusa Spaulucci. “Ficou para a história. Eu brinco que vendi a alma ao diabo de novo. Pensava que já tinha dado minha colaboração à propaganda e era hora de empreender. Muita gente afirma que sou visionário, mas, nesse caso, foi pura sorte. Eu estava feliz na minha startup, mas o custo Brasil não fazia sentido e o ambiente político estava esquisito. Portanto vendi meu passe. A Aegis era uma empresa de mídia com marcas como Carat e Vision”, disse Castellanos, que tem uma lembrança pontual da sua segunda passagem pelo México. “Foi o melhor momento da minha carreira profissional”.
Nessa oportunidade, Castellanos conseguiu usar toda a sua experiência como gestor de atendimento e planejamento de agência. Mas viu que estava ficando limitado. “Como comandava grandes contas, me sentia mais executivo dos clientes do que da agência. Eu queria estar mais próximo do negócio da publicidade, ou seja, estar em todas as fases da operação. Ficava cada vez mais sênior, mas com o horizonte mais restrito”, ele recordou.
O fator de mudança ocorreu quando recebeu uma dica do inglês John Hoyle, ex-presidente da Ogilvy & Mather no Rio de Janeiro. Eles se encontraram em Hong Kong, onde Castellanos estava trabalhando. “Ele comandava nessa época a Ogilvy de Singapura. Compartilhei esse desconforto e ele me disse que eu deveria buscar a posição de presidente, assim conseguiria estar em todos os níveis e ciclos do negócio.
“Acabei abrindo os olhos e comecei a procurar isso dentro da própria McCann. A primeira chance foi ser o número 2 da agência na Tailândia, mas já me preparando para ser gerente-geral. A partir do ano de 1993, comandei a McCann na República Dominicana, no Rio de Janeiro e em São Paulo. Fui copresidente, com a Adriana Cury, logo após a aposentadoria do Jens Olesen”, destacou.
Retornar ao México à frente do DAN, portanto, foi um desafio. “Tinha de começar um ecossistema do zero, em um mercado de 130 milhões de habitantes. Mas era um terreno fértil para quem tivesse olho aberto. Mesmo porque o México tem um jeito muito conservador. O DAN só tinha agência de mídia. Lá lancei a operação da mcgarrybowen com a compra da Arrechedera Claverol. Depois a Isobar, com a incorporação da Flock, que comparo a uma pequena Agência Click, uma joia, brilhante e visionária; e com a aquisição da Element lancei a iProspect. Isso foi espetacular para mim, um veterano da indústria da propaganda. Tive a oportunidade de conhecer empreendedores em início de carreira e nativos digitais. Todos absolutamente conectados com o mundo e capazes de fazer sucesso em qualquer mercado. Foi um processo de rejuvenescimento e reinvenção. Nesse instante, a terminologia de publicitário deixou de ser correta, pelo menos no meu caso. Quando defino o DAN, e eu me incluo, uso o termo acelerador de negócios. E não tanto de propaganda.”
O DAN tem 2.500 colaboradores na região Latam. Nos últimos cinco meses, Catellanos se concentrou no mercado brasileiro, onde ficou como CEO interino após a saída de Abel Reis. Ele conduziu a contratação de Eduardo Bicudo. “Demorou mais de um ano até concluirmos o processo. Agora retorno a Miami, para a gestão regional”, explicou. “Procurar um líder no Brasil é tão difícil como encontrar agulha no palheiro. É uma combinação de skills e conhecimento muito difícil de encontrar em uma pessoa só. Achar o Eduardo não foi simples. E, depois de identificado, foi uma luta convencê-lo. Afinal tinha de considerar uma mudança após apenas dois anos de Accenture. Entre os skills tem algo importante sobre o Eduardo: ele é multidisciplinar e o DAN não é só propaganda, apesar de ser a nossa origem. Mas hoje transcende isso. Apoiamos os clientes em toda a jornada do consumidor.”
Como é lidar com os profissionais para destacar a cultura do grupo e estar atento à diversidade e inclusão?, perguntou Danúbia Paraizo. “Esse é um tema enorme. E próximo ao meu coração. Cultura e talentos estão relacionados e são a base de uma marca de sucesso. E refletem a liderança, que são as referências de uma organização. Pode-se escrever o que quiser no papel, mas a tradução de uma cultura é: como as pessoas se comportam. A liderança tem de estar alinhada em termos de ambição, atributos e ações. Esse é meu foco. Por isso participo ativamente da contratação dos cargos mais seniores”, ele finalizou.