Sempre tive certa dificuldade de imaginar que o mundo já não existiu. A vida já não existiu. Como assim, “não existiu”? E também tenho dificuldade de imaginar que o mundo pode acabar de alguma forma e, a partir daí, não existir mais nada. Como “mais nada”?

Às vezes me pegava pensando nesse dia seguinte após o “fim da porra toda” e não conseguia construir nenhuma imagem. Mudava de assunto comigo mesmo e me resignava que a descrição desse fim era a não imagem. O vazio. O vácuo. Tipo o que diz o trecho do poema Prece de um mineiro no Rio, de Carlos Drummond de Andrade, que estampava a nota de 50 cruzados novos, em 1989: “Desprendido de imagens que se rompem a um capricho dos deuses, tu regressas ao que, fora do tempo, é tempo infindo, no secreto semblante da verdade”. Não parece uma ótima descrição, poética lógico, para “o fim da porra toda”?

Lembrei dessas minhas divagações porque, ultimamente, tenho achado que o mundo pode acabar, sim. Não por uma guerra nuclear, por uma espiral glacial ou por invasões alienígenas. Sabe o que eu acho que pode acabar com o mundo como conhecemos? O lixo plástico e as fake news. Parece corriqueiro? Exagero? Tomara que sim.

Apavora-me a quantidade de embalagens, disso e daquilo, que a minha casa produz num fim de semana. A área de serviço fica parecendo uma prainha no Rio Pinheiros! Que, aliás, andam dizendo, vai estar despoluído em 2022. Torço, mas duvido.

E se alguém aí já teve o desprazer de olhar de perto um lixão a céu aberto, sabe do que estou falando. Não tô falando de lixão da novela das 21h, da Carminha, da Nina e do Tufão, não. Lixão tipo o da Estrutural, que existia a 18km do Palácio do Planalto em Brasília e ficou ali por anos e anos. Ou algum outro entre os mais de três mil existentes pelo país. É assustador.

Eu sempre fico assombrado com aquelas fotos que mostram milhões de garrafas pets boiando por rios e mares pelo mundo afora. E a população global segue tomando Tubaína. Crescendo, tomando Tubaína e descartando a garrafa por aí. Algumas previsões mais catastróficas dizem que, em 2050, o mar terá mais plástico do que peixes. Vocês não acham que tá tudo certo pra dar errado?

As fakes news são o outro lixão que ameaça a nossa existência. Entre os inúmeros avanços que a internet e as redes sociais trouxeram para toda a sociedade, trouxeram junto um megafone para quem não tem escrúpulos.

Hoje, se alguém sem escrúpulos não gosta de você, desconfia de você, não comunga da sua religião ou não concorda com a sua opção sexual, ela consegue fazer um escarcéu! Que muitas vezes atrapalha a sua vida. Destrói sua vida. E, às vezes, acaba com ela. Literalmente. Casos arrepiantes já aconteceram. Em 2014, uma mulher inocente foi linchada até a morte no Guarujá, acusada numa página de Facebook de raptar crianças para realizar magia negra. Era fake. Esse caso está até na Wikipédia, de tão aterrorizante. Casos semelhantes se espalham pelo mundo. Na Índia, por exemplo, se tornou trivial.

Perto desses acontecimentos, eleger um político, denegrir uma reputação ou divulgar uma cura milagrosa por meio de fake news parece fichinha, né?

E o que é mais preocupante é que os fundadores, CEOs e presidentes dessas redes sociais que agregam bilhões de pessoas não sabem absolutamente como se livrar dessa praga. Tampouco os governos, as polícias ou o papa. Saiu de controle.

Tomara que não, mas se fôssemos dinossauros, o lixo plástico e as fake news seriam nossa bola de fogo.

Tomara que eu esteja exagerando, porque continuo sem conseguir imaginar o que viria depois.

Rodolfo Sampaio é sócio e CCO da Moma Propaganda (rodolfo@momapro.com.br).