Começo com Alfredo, da música de Toquinho e Vinicius. “O meu vizinho do lado se matou de solidão. Abriu o gás, o coitado, o último gás do bujão. Porque ninguém o queria, ninguém lhe dava atenção. Porque ninguém mais lhe abria as portas do coração.” Depois, no meio da gravação, Vinicius declama, “coitado do seu Alfredo, me lembro tão bem dele… Vizinho do lado, como diz a canção. Omisso, humilde… Parecia não ter passado, nem presente, nem futuro. Uma dessas figuras com as quais a vida não teve nenhuma complacência. Um solitário total…”.
Continuo com o ator Adrien Brody. Oscar de Melhor Ator por “O Pianista” (2002), mais participações emblemáticas em “O Inventor de Ilusões”, “Além da Linha Vermelha”, “Meia-noite em Paris,” e, no ano que passou, “O Grande Hotel Budapeste”. E ainda, por sua discreta e impecável elegância, presença obrigatória em campanhas publicitárias de Ermenegildo Zegna, Prada, Lacoste e Bulgari.
Mesmo sem se manifestar, mesmo “omisso”, como o descreve o poeta, “seo” Alfredo deixou sua marca. Pessoas veem, ouvem, sentem, observam, registram. Até mesmo a luz da escuridão e o som do silêncio. A marca do “seo” Alfredo, solitário, humilde, coitado, vítima da vida e das circunstâncias.
Adrien não se descuida. Faz consigo o que Steve Jobs fazia com todas as suas apresentações. Em entrevista para QG Style, define-se: “Estilo pode ser tudo, o jeito de andar, posicionar a cabeça, responder a uma pergunta, dirigir na rua. Estilo é uma extensão de quem somos”. Corrijo a última frase: estilo é a foto revelada de como as pessoas nos percebem e, depois, reconhecem e reputam. Enfim, nossa marca.
Você e sua empresa, queiram ou não queiram, deixarão uma marca em todas as pessoas – stakeholders – com quem se relacionarem, direta ou indiretamente. É assim e ponto. Portanto, e diante do inevitável, cada uma faz suas escolhas. Ser Alfredo ou ser Adrien, com todo o respeito aos dois seres humanos. Um que se deixou levar ou foi levado pela vida e pelas circunstâncias; e o outro que se preocupa e mede todos os seus atos, gestos, movimentos. Preocupa-se com sua marca. Faz-se consequência, não decorrência.
Quando comecei a trabalhar com marketing, há 46 anos, falar em marca era um palavrão. Quando comecei a trabalhar com marketing, há 46 anos, tudo se resumia a propaganda. Hoje, marketing é o ambiente empresarial e corporativo por inteiro. Quando comecei a trabalhar com marketing, há 46 anos, vez por outra se consultava o mercado. Hoje, todos no mercado 24/24, 365. Quando comecei a trabalhar com marketing, há 46 anos, todos eram Alfredos. Hoje, todos se espelham – ou deveriam – em Adrien.
Quando comecei a trabalhar com marketing, há 46 anos, marca era uma das mais importantes propriedades de uma empresa. Hoje, marca é a única propriedade de uma empresa. Todo o resto é decorrência.
*Presidente do MadiaMundoMarketing