Recentemente, o jornal The New York Times publicou um relatório intitulado “Innovation Report”, documento encomendado pela presidência do jornal com o objetivo de guiar suas decisões para sobreviver no ambiente hostil em que se transformou o do meio jornal – cheio de ameaças graves como perda de circulação e de anunciantes. O jornal – que vem dando a volta por cima e mantendo a relevância a partir de inúmeras transformações – ouviu leitores, jornalistas e concorrentes digitais.
Entre as conclusões está o fato de que os jornais não podem simplesmente se transformar em “redações digitais” ou “mobile”. O desafio está em recriar uma redação flexível o suficiente para se ajustar às várias necessidades que o cenário atual demanda e jogar em vários “times” ao mesmo tempo. O conceito de transformação é, portanto, relativizado pelo fato de que se vive vários cenários simultaneamente e deve-se encarar as oportunidades do mobile e das redes sociais – e outras tendências disruptivas – sem esquecer o modelo tradicional.
Segundo o relatório, as mudanças no comportamento do leitor e na tecnologia requerem um bocado de (re)imaginação e revisão do que funciona e do que não está funcionando.
Segundo Janine Gibson, editora-chefe do Guardian US e ouvida no relatório, ser jornalista na era digital significa correr atrás da audiência, diferente dos tempos da mídia impressa, em que se ganhava audiência automaticamente ao publicar uma notícia no papel. Para o Huffington Post, por exemplo, um artigo ou matéria apenas começa quando é publicado.
São muitos, portanto, os desafios do meio jornal: aprender a correr atrás de sua audiência certamente é um deles.
Relevância
Felipe Goron, diretor-executivo de mercado do jornal O Globo, diz que a mídia jornal precisa confirmar diariamente a relevância do conteúdo diante da imensa oferta à disposição das pessoas. Mas em sua visão, a capacidade e a qualidade de apuração e da análise das notícias é o que diferencia o jornal de outras mídias, não importando a plataforma.
O jornal O Globo vem lidando com as transformações focando no conteúdo. “O digital ampliou enormemente o tamanho da nossa audiência. E o impresso manteve seu prestígio e importância. Isto é fruto de investimento em jornalistas, colunistas, reportagens exclusivas e em novas tecnologias para apresentar a notícia por meio de infográficos e vídeos”, diz Goron.
Flávio Pestana, diretor de mercado anunciante do Estadão, diz que o jornal vem buscando investir na qualificação de seu público, tornando-se um curador de conteúdo altamente qualificado.
“Conteúdo sem curadoria não nos afeta. Estamos fazendo investimentos que fortalecem cada vez mais nosso propósito de qualificar as pessoas, gerar conhecimento, fazer curadoria de conteúdo, independentemente da plataforma. Esses investimentos, inclusive em tecnologia, nos possibilitam incorporar todas as novidades de interatividade e engajamento da audiência, mantendo a proposta do Estadão de uma curadoria de conteúdo qualificada. Prova disso é que acabamos de relançar o portal Estadão, projeto que está sendo desenvolvido há muitos meses e com investimento considerável”, diz Pestana
Mudanças
No último ano, o processo de produção do jornal O Globo mudou radicalmente: os editores agora se reúnem às 8h para a primeira reunião de pauta. “O resultado é um site mais quente e um jornal impresso mais rico e profundo”, diz Goron.
A nova editoria, “Sociedade”, apresenta as informações sob a ótica do que é mais interessante para o leitor. “Redesenhamos o site, expandindo a área de visualização, ampliando a oferta de vídeos e também aumentando a cobertura de notícias de interesse nacional”, descreve.
Com isso, o jornal impresso continua cumprindo a função de impactar a audiência com credibilidade e grande influência na venda de todo tipo de produtos e serviços. O site e o mobile ampliam estas possibilidades e atraem outro universo de anunciantes, especialmente aqueles que trabalham o mercado nacional. O jornal também ampliou significativamente o número de projetos especiais, ativando as marcas ao associar temas como Carnaval, Gastronomia, Design, Futebol e Verão aos maiores anunciantes do país.
“As novas plataformas requerem muito investimento em tecnologia, o que estamos fazendo. Mas o maior investimento é na qualidade e profundidade da apuração, na agilidade da publicação, nos desdobramentos e impactos da notícia. O investimento em jornalismo é percebido e valorizado em todas as plataformas”, diz Goron, para quem o futuro dos jornais passa por consolidar a relação com os leitores, diferenciando seu conteúdo.
“Os jornais precisarão usar a tecnologia a seu favor. Ter marcas fortes em todas as plataformas é o caminho para a necessária transformação dos jornais em empresas de conteúdo relevantes na era digital”, conclui.
Serviço
Pestana destaca os relançamentos do portal Estadão no dia 31 de maio e, no ano passado, do mobile site, além do site do Jornal do Carro, novos apps e eventos. “O Grupo lançou, ainda, o Broadcast Político, um serviço de informação inédito no país, e a Planeta Digital, uma agência que ajuda pequenos e médios empresários a se conectarem por meio e soluções digitais completas”, explica.
Pestana diz que para manter-se relevante para o mercado anunciante, é importante entregar soluções de mídia e de impacto das audiências que sejam adequadas aos objetivos de mar-
keting, vendas e comunicação dos anunciantes. Como seguir fazendo isso? Inovando, por exemplo, ao investir mais fortemente em branded content, oferecendo produção de conteúdo relevante desenvolvido especialmente para as marcas.
“O impresso tem e sempre terá seu papel e importância destacados no cotidiano dos leitores. Independentemente da plataforma, sempre haverá público em busca de análise, profundidade e opinião. A credibilidade do Estadão é o resultado de quase 140 anos de jornalismo sério e imparcial. Esse posicionamento transborda para todas as plataformas onde atuamos, inclusive as digitais”, conclui Pestana.