Fórum Mundial de Sustentabilidade acontece pela terceira vez em Manaus

 

Diante das atenções internacionais já voltadas ao Brasil, em função da Rio+20, conferência da ONU (Organização das Nações Unidas) que será realizada no próximo mês de junho, a terceira edição do Fórum Mundial de Sustentabilidade, que acontece em Manaus, nesta semana, entre os dias 22 e 24, está programada para funcionar como uma artéria auxiliar do encontro da entidade no Brasil, uma estratégica prévia dos principais assuntos ambientais que estarão em discussão no cenário carioca.

Iniciativa do Lide, Grupo de Líderes Empresariais, com realização da XYZ Live, o Fórum de Manaus traz em sua programação uma série de debates e apresentações de temas com políticos, empresários e especialistas ambientais. “Um dos  objetivos é ajudar a pautar melhor a presença do Brasil na Rio+20 e também exigir da Rio+20 comprometimentos maiores com o tema ambiental”, diz João Doria Jr., presidente do Lide e um dos idealizadores do Fórum Mundial de Sustentabilidade.

Entre “maiores comprometimentos”, Doria Jr. destaca a necessidade de uma compensação financeira para as nações, como o Brasil, que têm grandes reservas ambientais nos mais diferentes níveis, sejam eles em florestas ou água em abundância. “Esses países precisam de uma compensação que vai além da sua obrigação de preservar. Eles precisam de crédito para manter essas áreas, para desenvolver uma maior integração ambiental à realidade social”, diz o presidente do Lide, explicando que famílias que vivem em áreas ambientais, por exemplo, precisam ser devidamente conscientizadas sobre sua importância para se tornarem “guardiãs das florestas, das águas fluviais ou das praias”.

Polêmicas

O Fórum de Manaus também acontece em meio a polêmicas. Uma delas está ligada ao novo Código Florestal Brasileiro, cuja votação, prevista para esta semana, pode ficar para o segundo semestre de 2012,  já que o Palácio do Planalto prioriza proposta com um maior número de debates, inclusive os da Rio+20. O novo código é cheio de divergências entre ambientalistas e os defensores do agronegócio.

Outra polêmica remete à série de críticas que líderes ambientalistas vêm fazendo à política ambiental do governo Dilma Rousseff. No último dia 6, por exemplo, representantes de 13 entidades ligadas ao meio ambiente assinaram um documento no qual escrevem que “o  primeiro ano do governo da Presidente Dilma Rousseff foi marcado pelo maior retrocesso da agenda socioambiental desde o final da ditadura militar”. Na visão dos ambientalistas, o atual governo teria invertido uma “tendência de aprimoramento da agenda de desenvolvimento sustentável”.

Sobre o atual momento da política ambiental brasileira, João Doria Jr. discorda que seja “o pior governo na temática ambiental e no debate ambiental”. Para ele, “todos os governos, sobretudo os de Fernando Henrique Cardoso, Lula e Dilma, têm tido bom comportamento na questão ambiental”. Doria ressalta, porém, que o meio ambiente não é um tema fácil. “Não é unanimidade”, sintetiza. Ainda na opinião do presidente do Lide, os governos vêm cometendo erros diante do desgaste para buscar um equilíbrio entre os prós e os contras da questão ambiental. “Faltam uma comunicação mais clara e um debate mais claro”, ele diz. “O Código Florestal, por exemplo, é um tema bastante discutido, mas mal comunicado. Isso deixou os ambientalistas e simpatizantes mais nervosos. A unanimidade é impossível no tema ambiental, mas certos temas precisam de uma comunicação melhor e de um debate mais claro com a sociedade civil através de ONGs dedicadas ao tema ambiental”.

Na visão de Doria Jr., o Fórum de Manaus pode ajudar nas discussões: “É uma  grande plataforma de debates com todos os segmentos representados, os mais radicais, os mais moderados, ONGs pequenas, grandes, nacionais e internacionais. É um fórum de opiniões divergentes, mas temos avanço por não termos pré-definições. Há um debate saudável e positivo”.

Marcas e natureza

Com patrocínio da Ambev, Bradesco e Coca-Cola, o Fórum Mundial de Sustentabilidade será realizado com apoio da Goodyear, Natura, Sabesp e Videolar. Outras 28 marcas estão associadas ao encontro como participantes e colaboradoras. João Doria Jr. diz que o envolvimento das marcas no Brasil com as credenciais de sustentabilidade “tem melhorado muito”. “Há um trabalho consistente por parte de marcas, produtos e serviços apresentados pelo setor privado. Há um longo caminho a percorrer, mas já evoluiu bastante, de  uma maneira muito positiva”.

Doria diz não poder comparar “com precisão” o envolvimento de marcas no Brasil com a realidade mercadológica de outros países, mas ressalta “evolução” com o trabalho de consciência ambiental que as marcas vêm desenvolvendo. “Há um grande conjunto de trabalho competente das marcas na questão ambiental”, ele afirma. Durante o Fórum de Manaus, será feita a entrega do Prêmio Lide Sustentabilidade 2012. As empresas premiadas neste ano são Bradesco, Coca-Cola, Natura, O Boticário e Unilever.

Menos midiático

Entre a primeira edição do Fórum Mundial de Sustentabilidade, realizada em 2010, e a deste ano, João Doria Jr. diz que o evento está “mais técnico e menos midiático”. “Em função da Rio+20, deixamos de lado o painel de personalidades para aprofundarmos o debate científico”, diz. Em 2010, o fórum contou com a presença de Al Gore, ex-vice-presidente dos Estados Unidos e ganhador do Prêmio Nobel da Paz, e do cineasta James Cameron (“Avatar”). No ano passado, a programação chamou a atenção pelas presenças de Bill Clinton, ex-presidente dos Estados Unidos e presidente da Clinton Global Initiative, e do ator Arnold Schwarzenegger, ex-governador da Califórnia, além do empresário Richard Branson, do grupo Virgin.

Neste ano, Doria Jr. ressalta na programação maior participação de cientistas e especialistas em temas ambientais, além da presença de “três estadistas”, que, segundo ele, deram grande atenção aos temas ambientais: o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso; Gro Harlem Brundtland, ex-primeira-ministra da Noruega; e Dominique De Villepin, ex-primeiro-ministro da França.

Carbono neutro

O Fórum Mundial de Sustentabilidade será realizado como um evento “carbono neutro”. De acordo com informações da organização do evento, todas as emissões de gases do efeito estufa ligadas ao fórum – das viagens de avião de todos os participantes ao uso de eletricidade, gás e combustíveis no local do evento – serão compensadas pela empresa Eccaplan através da compra de créditos de carbono de um projeto da Fundação Amazonas Sustentável.

ONU participa

A apresentação do francês Brice Lalonde, que já foi ministro do meio ambiente da França, é um dos destaques do primeiro dia da programação do Fórum Mundial de Sustentabilidade de Manaus. Lalonde é o diretor executivo da Rio+20, conferência da ONU sobre desenvolvimento sustentável, que será realizada em junho, no Rio de Janeiro, e vai apresentar a palestra “O que podemos esperar da Rio+20”.

Também no primeiro dia do fórum, haverá apresentação da ex-primeira-ministra da Noruega, Gro Harlem Brundtland. Ela vai falar sobre “O caminho de Estocolomo à Rio+20, e da Rio+20 ao ano de 2032”. Além das palestras de Gro e Lalonde, a programação do primeiro dia também conta com o painel “Pagamento por Serviços Ambientais (PSA)”, com a participação do senador Eduardo Braga e do deputdo federal Arnaldo Jardim, e de Steve Bass, cientista do International Institute for Environment and Development. Haverá ainda exibição do documentário “Shark loves the Amazon”, com Mark London.

Na sexta (23), a programação conta com cinco workshops com temas sobre saneamento, consumo sustentável, construção civil e produtos da floresta. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso vai apresentar palestra com o tema “O desafio do desenvolvimento sustentável” e o ex-primeiro-ministro francês, Dominique De Villepin, falará sobre “A economia verde na Europa”.

Filme questiona espaço

A experiência do escritor e jornalista norte-americano Mark London, que viveu e trabalhou durante 30 anos na Amazônia, está no documentário “Shark loves the Amazon”. O filme mostra a realidade de mais de 20 milhões de brasileiros que vivem na região amazônica e questiona a divisão do espaço das florestas com povoados e cidades.

“Shark loves the Amazon” também apresenta problemas e propostas de solução para questões sociais e ambientais. London, que participou do Projeto Juma, desenvolvido pela Fundação Amazonas Sustentável, sugere proposta de vida produtiva e sustentável na região. Ele é um dos idealizadores do Projeto Juma, desenvolvido na Reserva do Juma para redução de emissões por desmatamento e degradação. O projeto conta com apoio da rede de hotéis Marriott International.

O filme de Mark London será exibido no final do primeiro dia de programação do Fórum Mundial de Sustentabilidade de Manaus, na quinta-feira (22). O documentário é uma adaptação do livro “The last forest”, escrito por Mark London e Brian Kelly.