Danet: barreiras geográficas são menos importantesEstudar história e geopolítica pode fazer profissionais de marketing melhores. A afirmação é de Jean-Baptiste Danet, CEO da consultoria francesa Dragon Rouge, que abriu oficialmente suas portas no Brasil na semana passada. “Se estudar cultura e história, entenderá como os negócios são feitos em cada país”, aponta o executivo, que esteve no país na última semana.

Apaixonado por arte e história, Danet acredita que os profissionais, para entenderem como será o marketing no futuro, precisam olhar para o passado. “Qual o papel do passado e da história na forma como marcas e negócios funcionam? Se olhar para o mundo e sua estrutura, pode entender facilmente porque os Estados Unidos lideram a indústria global, porque a China está se desenvolvendo rapidamente e porque, recentemente, as pessoas no Brasil estão pedindo mais crescimento”, disse o executivo.

Na visão de Danet, tal exercício ajudaria a entender, por exemplo, como a Suíça, sem recursos naturais, focou na indústria de alto valor agregado – como a relojoeira – e criou um modelo de negócio para o país baseado na previsibilidade do tempo; como a Inglaterra, onde a monarquia ainda é uma forte entidade social, criou marcas de status; como a França, ainda impregnada pelo seu passado aristocrata, criou uma indústria de luxo altamente exclusiva; e como os Estados Unidos, que há décadas decidiram investir em tecnologia e inovação, dominam a economia mundial há meio século.

A forma como Suíça, Inglaterra e França veem a si mesmas influencia na maneira como fazem negócio. “No passado, esses países definiram como queriam ser conhecidos ao redor do mundo. Houve, então, uma mudança de atitude”. Nessa análise, Danet aponta a singularidade e autenticidade da imagem brasileira, mas questiona a falta de uma marca nacional forte. “A imagem do Brasil no mercado internacional é ótima, mas o país ainda não tem uma marca. A discussão é como será o crescimento dessa imagem positiva”, afirmou. “Se não tomar decisões sobre seu destino, o mundo lhe dará a imagem que quiser e aí você terá que lutar contra ela”, alertou.

Geopolítica é outro fator crucial para os profissionais de marketing, afirma Danet. As barreiras geográficas importam menos na economia internacionalizada e o branding global terá menos espaço, ao mesmo tempo em que o local volta a ser valorizado. “Geopolítica agora é chave porque o mundo precisa de crescimento. Crescimento significa dinheiro, o que indica novas ofertas, novos produtos e consumidores. Crescimento e dinheiro é oportunidade para os marqueteiros. Como lidar com isso? Eles precisam entender como isso ocorre em diferentes partes do mundo”, afirma.

Danet destaca que os negócios hoje são operados de forma global e o marketing será o espelho que refletirá as oportunidades e as ameaças da economia. “Potencialmente, marqueteiros terão o poder de decidir onde e como as coisas acontecerão”. Oportunidades e ameaças virão casadas no futuro, aponta. Nos próximos 15 anos, enquanto uma grande porção de pessoas bem-educadas deverá ser o centro de uma guerra por talentos, uma leva de um bilhão de pessoas não terá acesso às mesmas oportunidades de saúde, educação e cultura. “Isso é um problema. Se não tivermos um pouco de fé na forma como fazemos as coisas, podemos esperar algum tipo de revolução profunda nos próximos 100 anos”, alerta.

Energia

Um dos cenários críticos para a indústria global nos próximos anos será a escassez de energia, aponta Danet. Há mais de uma década, a China consome metade da produção mundial de cimento e estima-se que somente os Estados Unidos usem um terço dos recursos naturais produzidos por ano. “Haverá uma mudança cultural sobre o uso de energia”, prevê.