Depois que o general Mourão ameaçou entrar em campo para acabar com a bagunça brasileira e o seu chefe tentou minimizar dizendo que o general era um gauchão boa-praça, me lembrei de uma historinha ocorrida entre o grande Maurício Magalhães e um general, diretor da Itaipu. Foi poucos dias antes da inauguração da Itaipu Binacional. A MPM era dona da conta e o pau estava comendo. Se uma simples festinha de aniversário na casa da gente causa um problema de logística fenomenal, imagine um evento reunindo convidados importantes de dois países. Não países comuns, mas Brasil e Paraguai.

Para começo de conversa, dois presidentes-generais. Do país e, claro, da própria companhia. E a turma de ministros. Dois cardeais. Centenas de governadores, senadores, deputados e vereadores. E mais diplomatas, juízes, empresários e jornalistas. Se protocolo para festa de posse de síndico já é meio enjoadinho, imagine os cuidados para não ferir melindres diplomáticos envolvendo essa gente toda.

A MPM não era propriamente a encarregada de organizar a suruba das vaidades, mas, como sempre, tudo que pode dar merda sobra para a agência. Nas sábias palavras de Luiz Macedo, profundo conhecedor da profissão, se tudo der certo ninguém se lembra da agência de propaganda. Mas, se der errado, estamos sempre no topo da lista. Para se ter uma ideia, o texto do convite oficial foi refeito mais de 40 vezes, até desistirem de contar. Cada hora tinha um especialista em protocolo alterando a ordem de alguma coisa, mudando uma expressão, pedindo uma mudança.

Como sempre, em nome da diplomacia e do protocolo. E ainda a agência deveria fazer material para Edição Especial da Manchete (claro!), suplementos de uns 20 jornais, documentários e também programas de televisão. Para Itaipu e para os seus fornecedores. Muitos detalhes, muito trabalho e, com certeza, muita confusão. No olho do furacão, a figura impoluta de Maurício Magalhães, que ficou vários dias sem dormir e esteve o tempo todo prestes a ter um infarto, imaginando sempre que teria sido mil vezes preferível aceitar o emprego de pianista na zona de Londrina do que trabalhar naquele inferno.

Os telefones tocavam e Maurício atendia desde um diretor-comercial de rádio do interior, garantindo que sua emissora deveria ser a mídia básica para divulgação do evento, até dono de gráfica propondo descontos mirabolantes. Maurício, já meio fora de si, alternava a mais alambicada delicadeza com agressivas respostas de conotações sexuais. Ou seja, alternava do “pois não” ao brasileiríssimo “vá tomar no rabo”. Uma finura de pessoa. E corria assim a procissão, quando a secretária anuncia que estava na linha um general, diretor da Itaipu, segundo a moça “muito puto da vida”. Se hoje general puto da vida mete muito medo, imagine durante a ditadura, em que sargento meio aborrecido já era um desastre. O negócio era atender o puto do general. Não! Desculpe. O general puto da vida. Maurício se benzeu e pegou o telefone e ouviu:

– Aqui quem está falando é o sargento fulano de tal, vou colocar na linha o tenente fulanão de talzão.

– Alô! Aqui é o tenente fulanão. Aguarde na linha que o coronel pica grossa vai falar!

– Pronto! Coronel pica falando. Aguarde no local que estará na linha o general fodão de Almeida. Não desligue!

Dois minutos depois entra o general:

– Aqui general fodão. Quem está falando? Resposta do Maurício, na bucha:

– Aqui quem fala é o merda do Maurício Magalhães!

Para aqueles dias, ele estava certíssimo.

Lula Vieira é publicitário, diretor da Mesa Consultoria de Comunicação, radialista, escritor, editor e professor (lulavieira@grupomesa.com.br)