No próximo dia 4 de novembro, será realizado pela Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) o leilão do 5G, a nova geração de internet móvel. Segundo a Anatel, a licitação deve movimentar R$ 49,7 bilhões.

Desse total, R$ 10,6 bilhões deverão ser desembolsados pelas vencedoras do leilão para pagamento das outorgas, ou seja, pelo direito de explorar comercialmente o 5G, caso todos os lotes sejam arrematados.

Esse dinheiro vai para os cofres do governo. O restante – R$ 39,1 bilhões – terá de ser investido pelas operadoras para cumprir as contrapartidas previstas no edital. Serão oferecidas às operadoras de telefonia quatro faixas de frequência: 700 MHz; 2,3 GHz; 3,5 GHz; e 26 GHz. Essas faixas funcionam como “avenidas” no ar para transmissão de dados. É por meio das faixas que o serviço de internet de quinta geração será prestado.

A tecnologia 5G promete maiores transferências de dados em menor tempo, além de um número muito maior de conexões

A construção da rede privativa e a instalação de rede de fibra óptica ficarão a cargo das empresas vencedoras dos lotes nacionais da faixa de 3,5 GHz. Elas terão de formar uma Empresa Administradora da Faixa (EAF), uma entidade que vai executar essas duas obrigações, além da migração do sinal da TV parabólica. A EAF terá de ser criada em até 70 dias após a assinatura dos contratos. A previsão é que o 5G comece a ser ofertado até julho de 2022, inicialmente nas capitais dos estados.

Simon: transformação profunda no core da propaganda

Será mais um passo importante no aperfeiçoamento da tecnologia de uso dos celulares, ampliando em muito a capacidade de transmissão de dados e outros aplicativos móveis. Desde que o celular apareceu, nos anos 1980 – no formato de um tijolão totalmente incômodo de se carregar, com tarifa caríssima, que mais falhava do que funcionava -, a chamada banda móvel sem fio não parou de evoluir: a cada “G” (de geração) a velocidade de transmissão de dados aumenta.

O primeiro, 1G, surgiu nos anos 1980 e usava a velha tecnologia analógica. Em 1991, o 2G deu início à era digital. Em 1998, o 3G aperfeiçoou a velocidade de download passando de 200 kbites (Kbps) para megabits por segundo (Mbps). A rede atual, 4G, foi lançada em 2008 e funciona a uma velocidade média de conexão de cerca de 33 Mbps, cifra que, dependendo do número de usuários acessando o sistema ao mesmo tempo, traz problemas como lentidão e queda de sinal.

A tecnologia 5G promete maiores transferências de dados em menor tempo, além de um número muito maior de conexões simultâneas a uma velocidade que poderá ser de 50 a 100 vezes maior que a da 4G, com até 10 Gbps (“G” de giga). Além de velocidades de download mais rápidas, espera-se que o 5G facilite a implementação e adoção da internet das coisas (IoT), conectando à rede mundial de computadores, eletrodomésticos, carros autônomos, relógios inteligentes e smartphones, entre inúmeros outros itens de consumo. A carta na manga, contudo, continuará sendo a velocidade dos bites.

Renata: aposta em conteúdos mais interativos

Expectativa
O otimismo com a nova tecnologia já tomou conta do mercado publicitário. A expectativa é de uma nova revolução digital. “Acho que será o maior salto que este século nos apresentará”, entusiasma-se Raul Dória, sócio-diretor da produtora Cine.

Entre as novas possibilidades que se vislumbram, está o avanço exponencial da interatividade, que permitirá uma jornada do consumidor completa. É o que acredita Renata Bokel, CSO da WMcCann.

“O avanço da tecnologia vem nos proporcionando múltiplas oportunidades, fazendo com que as marcas estejam cada vez mais conectadas com seus consumidores, principalmente no ambiente digital. Nosso desafio é sempre o de atingir e interagir com o público no 360º, e a chegada do 5G vai possibilitar que isso ocorra de maneira muito mais rápida do que hoje. Acreditamos que a aposta será em conteúdos mais interativos, com um universo de novas possibilidades e tendências, como a internet das coisas finalmente virando realidade, por exemplo. Além disso, com a chegada do 5G veremos o consumidor e o shopper cada vez mais convergindo numa pessoa só já que o momento de engajamento pode – e deve – se confundir com o momento da compra. Nesse sentido, se hoje temos uma jornada do consumidor completa, ela ficará ainda mais complexa com a base de dados e informações que poderão ser coletadas com a tecnologia. Como agência, o desafio será usar essa infinidade de dados a serviço da criatividade e aproveitar as oportunidades que essas transformações tecnológicas nos oferecem para conectar marcas e consumidores de maneira personalizada e perene”.

Palma: possibilidades que se abrem são infinitas

O aumento da capacidade de trafegar dados, com uma latência mínima, será um salto gigante para os dispositivos móveis, afirma Fabio Palma, chief technology officer (CTO) da Africa:

“O 5G muda tudo. Apesar de parecer ser apenas uma sigla mais moderna do que a anterior, as possibilidades que se abrem são infinitas. O aumento da capacidade de trafegar dados, com uma latência mínima, faz do 5G um salto gigante. A evolução de machine learning, inteligência artificial, big data e computação quântica, entre muitas outras, permitiu um avanço imenso na capacidade dos computadores. Entretanto, antes do 5G muito deste avanço ficava restrito à nuvem e a computadores com conexões super-rápidas, não chegando de forma instantânea aos dispositivos móveis. O 5G aumenta o poder da rede, o que facilita e promove um maior desenvolvimento de celulares, robôs e veículos autônomos. O resultado são interações mais ricas e divertidas que passarão a fazer parte do nosso dia a dia, abrindo um portal de possibilidades para que as marcas falem com os consumidores de forma mais orgânica e sem fricções em qualquer lugar. Cada vez mais a Realidade Virtual, Aumentada ou Mista fará parte da conexão com o conteúdo das marcas, permitindo momentos de imersão. Campanhas interativas, com sistemas de inteligência artificial, estarão ao toque do celular – ou outros dispositivos – criando conteúdos muito mais ricos, interessantes e personalizados. Pensando mais longe, equipamentos inteligentes permitirão que as pessoas consumam mais conteúdo e interajam mais com as marcas enquanto as máquinas fazem o que antes era seu trabalho: de dirigir com carros autônomos a cozinhar com robôs conectados”.

David Gross, diretor de planejamento estratégico da AlmapBBDO, ressalta o aumento da capacidade de conexão do 5G. “Inteligência artificial, realidade aumentada e virtual, carteiras digitais, assistentes de voz, internet das coisas, open banking, muito mais streaming de áudio e vídeo, uploads e downloads da nuvem – é praticamente tudo isso, junto e misturado, que as pessoas terão cada vez mais acesso com a chegada do 5G. Combine com uma conexão mais estável, que carrega muito mais rápido e praticamente não trava e teremos nas mãos a chance de abrir uma conversa ainda mais poderosa entre pessoas e marcas. Nesse sentido, se conteúdo e personalização já eram a bola da vez, com a velocidade do 5G inicia-se uma verdadeira revolução digital para a publicidade explorar: mais imersiva, mais interativa, com mais entretenimento vindo de experiências transmitidas ao vivo e muito mais informação a nosso favor. Será apenas o (re)começo de uma nova era de criatividade, tecnologia e relevância a favor das pessoas”.

Reis: ecossistema gigantesco para a internet das coisas

Eduardo Simon, CEO e sócio-fundador da Galeria e vice-presidente da ABAP, também ressalta a estabilidade das conexões da nova tecnologia “O 5G promete uma revolução incrível para quem consome e produz conteúdo: internet 20 vezes mais rápida, rede estável e possibilidade de conexão simultânea de diversos dispositivos. Esse avanço não apenas reforça a ampliação de canais (seja TV, seja digital), já conduzida ao longo da pandemia, mas também acelera uma transformação profunda – e urgente – no core da propaganda tradicional, rumo à união de entretenimento, criatividade e performance”. Para ele, enquanto o 5G garante fluidez e ininterruptibilidade, torna-se vital na publicidade o desenvolvimento de soluções imersivas: “que engajem o espectador verdadeiramente, ao mesmo tempo em que saibam envolver com a agilidade que pede este novo momento”.

Telles: contexto ficará mais complexo e desafiador

Desafios
A nova tecnologia também trará novos desafios na busca pelo consumidor, acredita Luiz Telles, diretor nacional de storytelling e inovação da Artplan. “Com baixa latência e altíssima capacidade de banda, a comunicação vai ocorrer cada vez mais em tempo real, ubíqua e volumosa. Disputar a atenção das pessoas nesse contexto ficará muito mais complexo e desafiador. A publicidade vira conteúdo e o conteúdo vai se adaptar a tudo isso, buscando o entretenimento como forma de conectar as marcas de forma orgânica com a audiência. Conteúdo fragmentado, de altíssima qualidade, consistente, adaptável para a crescente diversidade de possibilidades de canais que seguem surgindo, mas sempre preocupado em contar uma história única. Com 5G cada smartphone vira uma estação individual de difusão de histórias, e esse é outro desdobramento. Essa evolução pode criar novas redes de transmissão de conteúdo independentes, potencializar ainda mais o alcance de influenciadores, e tudo isso vai exigir um novo modelo mental de publicidade. Mais conteúdo nativo, menos publicidade é o que deve acontecer com cada vez mais velocidade”.

Cavassani: transformação digital em aceleração

Ele complementa dizendo que “todos os aspectos da nossa vida pessoal sofrerão impacto do 5G, desde os dados que geramos com nosso corpo sendo processados em tempo real para definir ações, a nossa relação com o varejo físico, anabolizado com realidades imersivas e multiversos, realidade aumentada deve gerar experiências totalmente novas no ponto de venda por exemplo. O entretenimento ao vivo passa a ser contar também com essa capacidade ampliada de transmissão pelas pessoas. Com 5G será possível conectar com mais precisão todos os recursos disponíveis nas cidades, criando condições para gestão mais eficiente dos centros urbanos, com dashboards em tempo real de tudo o que está acontecendo”.

O 5G vai quebrar paradigmas comportamentais e mudar muita coisa para melhor, vislumbra Marcelo Reis, co-CEO e CCO da Leo Burnett Tailor Made. “O 5G vai gerar um ecossistema gigantesco para a internet das coisas, além da velocidade, é claro. Imagine: só no Brasil, milhões e milhões de devices conectados com mais rapidez ao seu produto, menor latência e menor custo”.

Varela: produção de conteúdo ficará mais democrática

Segundo Vicente Varela, chief data & media officer da Lew’Lara\TBWA, o mercado vai amadurecer em diversas frentes “como produção de conteúdo – que se tornará mais democrático e escalável, principalmente em formatos ricos como vídeo e streaming. Além disso, ganharemos também na profundidade de relacionamento com os consumidores, pois à medida que empresas captam mais dados, aprendem e se especializam, e isso faz com que as campanhas se tornem ainda mais contextuais e ricas”.

Ivan Carlos Cavassani, diretor da Nova CIN, sintetiza a expectativa dos profissionais ao afirmar que, “com a implantação da tecnologia 5G, a transformação digital terá um processo de aceleração e consolidação no mercado de comunicação, provocando uma maior presença e atenção no mundo corporativo, bem como na demanda e consumo do dia a dia das pessoas”.