O pior já passou? Difícil afirmar se a frase clichê de fato se aplica ao primeiro trimestre deste ano, especialmente diante de um evento repleto de incertezas como as eleições presidenciais, mas pode-se dizer que, na indústria da comunicação, “o humor melhorou”.
A expressão – usada pelo presidente da Abap (Associação Brasileira de Agências de Publicidade), Mario D’Andrea – permeia a visão dos executivos das principais agências de publicidade do mercado, muitos deles comemorando ótima performance nos primeiros três meses do ano.
“Não vemos tantos adiamentos de planos neste trimestre, como no ano passado. Vejo os setores de headhunting e treinamento aquecidos, o que é bom sinal. Ainda há um certo conservadorismo no ar, o desemprego ainda é alto, e nossa indústria passa por um redesenho de identidade e de modelo de negócios, mas sem dúvida estamos melhores neste trimestre do que no mesmo período do ano passado”, disse D’Andrea.
De uma maneira geral, há otimismo e bons resultados nos primeiros meses do ano. A Copa do Mundo também começa a movimentar anunciantes, o que contribuiu para que agências como a Y&R – a primeira no ranking, segundo o Ibope – comemorem um primeiro trimestre excelente, segundo seu presidente, David Laloum.
Segundo ele, houve movimentação mais densa de campanhas – especialmente da área de varejo – e também a chegada de novas contas, como a parte digital/performance da LG, Fila e Santander. “Desde outubro do ano passado enxergamos uma melhoria relativa e estamos confiantes no crescimento de dois dígitos este ano”.
Faz coro com Laloum Marcio Oliveira, copresidente da DM9DDB, que comemora, entre outras conquistas, a subida de três posições no ranking de agências, o lançamento da campanha de Itaú para a Copa do Mundo, o reposicionamento das marcas J&J e Walmart e a ação de Veja contra fake news. “Reformamos a agência, os processos, estamos cuidando das nossas pessoas e já estamos colhendo resultados excelentes”, afirmou o executivo.
Luiz Lara, chairman da Lew’LaraTBWA, fala que a agência teve o melhor primeiro trimestre dos últimos anos, com um crescimento de 18,5% em relação ao mesmo período do ano passado.
Os bons resultados também se devem à conquista de CVC, ao crescimento da Nissan, da boa performance de campanhas (como a de Páscoa para Cacau Show e de crédito de Dona Hermínia para o Banco do Brasil) e ainda ao crescimento no mercado de marcas do portfólio da agência como Monange, Paixão, Cenoura&Bronze e Bozzano.
Marcio Santoro, copresidente e CEO da Africa, destaca que eles brincaram em dizer que 2017 foi o melhor ano da história da Africa, mas que “2018 tem discordado”. A agência entrou o ano comemorando a conquista da conta da Marisa, e já colocou no ar mais de 70 campanhas, 32% a mais que no primeiro trimestre de 2017. Ações de Copa do Mundo já estão no ar, como da Brahma, entre diversas outras campanhas. “Pelo primeiro trimestre, o ano promete”.
Na AlmapBBDO, o crescimento este trimestre foi de 10%, em comparação a 2017, segundo Filipe Bartholomeu, managing director da agência. Houve crescimento de atividades, especialmente no digital. “Vemos um crescimento orgânico ainda tímido no investimento dos clientes, porém mais confiante com a retomada do consumo no país”, disse ele.
PERSPECTIVA
Marcio Toscani, co-CEO da Leo Burnett Tailor Made, também comemora crescimento da ordem de dois dígitos neste trimestre, e a conta de Bradesco tem muito a ver com isso, além do início de trabalhos para Extra, entre outras conquistas – junto a clientes como Bayer e Fiat, por exemplo. Diversas campanhas entraram no ar e a agência vive, ainda, a integração com a Neogama. “Para os próximos meses, esperamos continuar crescendo progressivamente. Nossas expectativas são bastante otimistas”, avaliou.
Edu Simon, CEO da DPZ&T, afirma que a agência começou bem 2018 e as tendências apontam para um ano que vai melhorar gradualmente em segmentos importantes da economia. “Nosso primeiro trimestre foi excelente e reflete o planejamento que fizemos desde o ano passado, um ano difícil para o mercado como um todo, mas que foi muito positivo para DPZ&T”, observou.
Miriam Shirley e Eduardo Lorenzi, copresidentes da Publicis, afirmam que este primeiro trimestre – o primeiro sob a coliderança – foi positivo. “Conquistamos recentemente a conta da PUIG, entrando no segmento de fragrâncias de alto luxo, e estamos participando atualmente de cinco concorrências. Além disso, estamos ampliando nossa atuação em três clientes em diferentes frentes: atendendo mais marcas, ampliando nossa atuação para outros países da América Latina e expandindo nosso escopo para outras disciplinas de comunicação”, comentou Lorenzi.
Rodolfo Medina, presidente da Artplan, declara que o crescimento da Artplan vem ocorrendo de forma consistente e mantendo sua constância. “Em fevereiro, por exemplo, recebemos a notícia sobre o nosso avanço no ranking consolidado de agências do Kantar Ibope Media. Saímos da 20ª posição, em 2016, para 11ª, no fim de 2017”, contou.
A agência conquistou diversas contas – como Electrolux e Grupo CRM – e criou unidades de negócio novas, como a área de gestão de conteúdo Artplan Now e a célula de consultoria estratégica Key.
Já João Livi, CEO da Talent Marcel, afirma que o Brasil ainda passa pela crise, a economia não deslanchou e o negócio da comunicação não se descola deste cenário, mas que a agência teve um primeiro trimestre estável, nem melhor nem pior do que o do ano passado.
“Perdemos um cliente, mas conquistamos outros importantes, como Eudora (marca do Grupo O Boticário), Odontoprev, A.C. Camargo e as contas digitais de Oreo e de Lacta Cookies (Mondelez). Pode parecer clichê, mas enxergo como o principal desafio continuar construindo um trabalho criativo, relevante e sólido para os nossos clientes”, conclui Livi.
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