Em meio à crise causada pela Covid-19, o mercado publicitário tem enfrentado problemas diversos. Grandes grupos já anunciaram demissões e cortes de salários (relembre aqui). Neste contexto, os freelas também estão tendo que se mexer para sobreviver ao cenário atual. PROPMARK conversou com alguns deles para saber do momento e colher dicas para profissionais com o mesmo perfil.

“Como produtora de conteúdo, com a crise causada pelo coronavírus tive alguns jobs cancelados e outros adiados. Eu tinha um cliente da área de turismo, por exemplo, que está sofrendo bastante e teve que cancelar os trabalhos por tempo indeterminado. No entanto, ainda tenho alguns clientes fixos e demandas pontuais que chegam semana a semana. Mesmo assim, não está fácil prospectar neste momento”, explica a conteudista e escritora Bruna Cosenza.

Bruna Cosenza: jobs cancelados e outros adiados (Divulgação)

Assim como Bruna, grande parte dos entrevistados está enfrentando mudanças neste momento. Muitos estavam trabalhando para agências. “Estou terminando meu contrato agora dia 30, e não vai ser renovado. Já tô correndo atrás”, revela o diretor de arte Luiz Ernani.

Muitas vezes, a mudança agrega. O publicitário Leonardo Sorreano, por exemplo, começou um novo trabalho justamente por causa da pandemia. Ele está freelando para uma empresa de marmitinhas, chamada Marmitinhas da Nana, como social media e designer. Parceria que teve seu início de forma voluntária.

“Através de uma iniciativa que tive após esse período de pandemia, e hoje negociamos um formato de pagamento revertido em produtos”, explica o profissional que também trabalha como business intelligence freelancer na agência TPNQ e designer para um personal trainer.

Mercados e atividades aquecidas

Com o novo coronavírus, há algum tipo de trabalho mais procurado? Há algum nicho aquecido? Segundo Ernani, geração de conteúdo é uma das atividades em voga no momento. “Planejamento social media, UI, UX… escrita e design vão ter uma relevância muito maior daqui pra frente, mais do que o normal”, opina o diretor de arte.

Sorreano também percebeu aumento nas áreas citadas pelo colega de profissão. “Os nichos de designer e social media estão sendo solicitados ainda mais dentro dos planejamentos das empresas, já que os maiores resultados estão passando diretamente pela produção de conteúdo. Porém, como heavy user do LinkedIn, tenho visto muitos anúncios de vagas para profissionais especializados em user experience, como ux designers e afins”, afirma.

A saúde mental vem se destacando entre as áreas, conforme revela Bruna. “Tenho um cliente, a Vittude, que está voando neste momento. Trata-se de uma startup que tem como objetivo democratizar o acesso aos cuidados com saúde mental, conectando psicólogos aos pacientes (seja para consultas presenciais ou online). Em um momento em que estamos todos vivendo o isolamento social, a busca por cuidados com a saúde mental está crescendo muito. A própria Vittude está fechando mais contratos com empresas que desejam oferecer a terapia como benefício corporativo”, diz.

Bel Bonotto: área da saúde mental está aquecida (Divulgação)

“Na área da saúde mental vejo bastante procura por psicólogos e psiquiatras, tem bastante chance de gerar jobs para clínicas e profissionais que trabalham nessa área e têm presença digital ou buscam um espaço em meio à pandemia”, opina a publicitária Bel Bonotto. 

“O marketing de influência com certeza”, afirma o publicitário Thiago Sales. “As empresas estão investindo alto, os budgets superaram consideravelmente as verbas utilizadas para influenciadores nos meses anteriores”, complementa.

Dicas de freela para freela

Para os entrevistados, este é o momento de estimular a rede de contatos. “Fortalecer o networking e focar muito. Começar por relacionamentos próximos (quem já trabalhou com você) e depois por contatos mais distantes”, comenta Utymo Oliveira, publicitário que no momento está freelando para agências estrangeiras.

Para Utymo Oliveira, momento é ideal para fortalecer networking (Divulgação)

“Neste momento acho fundamental nutrir contatos. Linkedin, grupo de Facebook, Whatsapp, boca-a-boca (agora só a distância) … Seja entre amigos ou profissionais, uma rede entre quem precisa de um emprego com aqueles que precisam de um colaborador pode surgir de onde menos se espera”, afirma Thomaz Wellausen, diretor de arte.

Dicas de agência para freela

Daniel Cecconello, sócio e VP de Operações da Mutato (Créditos: Daniela Toviansky)

Perguntamos para o pessoal da Mutato quais seriam as orientações para os freelas. Daniel Cecconello, sócio e VP de operações da agência, explica que, provavelmente, não existe nenhuma grande dica salvadora que se encaixe para todas as pessoas.

“Uma das primeiras coisas extremamente marcantes para as empresas neste processo é a consolidação do home office como algo perene. Com essa mudança, e o aprendizado que todos estão tendo na marra, está caindo aquela percepção de que a presença física é mandatória para uma série de atividades e isso abre o horizonte geográfico de atuação de quem é freelancer. Se organizarem os portfólios e expandirem os contatos, acredito que eles aumentam as chances de conseguir trabalho fora da sua cidade, estado e mesmo fora do país. Vale lembrar que o cenário cambial é bastante favorável neste sentido, porque somos reconhecidos pela forte veia criativa e nos tornamos uma opção com um custo-benefício super atraente”, analisa o VP.

Questionado se os freelas podem oferecer seus serviços para outros tipos de empresa e não apenas agências, Cecconello diz que sim. “O número de empresas que vão ser digitalizadas e vão precisar aprender a comunicar neste ambiente será gigante. Já li previsões de que mudanças que levariam uma década ocorram, pela necessidade do contexto, em um ano. Isso deve abrir espaço para muita oportunidade para quem trabalha como freelancer, já que o conceito de trabalho ancorado em projetos e não em empresas/empregos era uma tendência bastante discutida antes da pandemia”, prevê.

Cuidem da mente

Saúde mental preocupa Thomaz Wellausen (Divulgação)

Entre os entrevistados, muitos alertaram para a relevância dos cuidados com a saúde mental neste momento. “Acho muito, muito importante que todo mundo que trabalhe de casa cuide da própria saúde mental. Que consiga encontrar espaços e momentos de desconexão do trabalho, real e simbolicamente. É desses contrastes e intervalos que encontramos energia para produzir, e no cenário de home office, por vezes, tendemos a emendar uma coisa na outra e esquecemos dessas pausas”, explica Cecconello.

“Neste momento acho fundamental ter cuidado com sua saúde mental. Pois pode ter certeza de que ninguém no mundo passará por isso imune. Ser humilde e exercitar o equilíbrio emocional para se adaptar a este momento atípico inclui também outras coisas além de trabalho e economia. Às vezes, sair da internet e desligar a TV por algumas horas para fazer algo que te traz prazer pode te fazer um bem danado. O que me tranquiliza é saber que isso irá passar, não é o fim do mundo”, opina Wellausen.

Luiz Ernani: “tenham, se puderem, um planinho B” (Divulgação)

“Seja organizado com suas finanças, evitem o caos. Tenham, se puderem, um planinho B, vende alguma coisa na net, algo do tipo, só pra pingar mais algum. Façam bem as contas antes de aceitar um freela alocado. Tem agência em que você paga quase R$ 1.000 pra trabalhar, entre rango, deslocamento, Uber ou táxi”, analisa Ernani, que em seguida dá um último conselho: “mantenham o portfólio atualizado”.