Pobre país que tem líderes que apoiam as fake news, tão nocivas à sociedade. Mais pobre ainda quando grandes empresas não estão preparadas para enfrentar e driblar a desinformação ou a informação distorcida.

Para sorte do mercado, a maioria não acredita e não compactua com a afirmação “Fake news fazem parte da nossa vida”, dita recentemente pelo presidente Jair Bolsonaro.

Luiz Chinan, coordenador do Comitê de Relacionamento com a Mídia da Aberje (Associação Brasileira de Comunicação Empesarial) e líder do projeto Aliança Aberje de Combate às Fake News, afirma que não é só a entidade que vê com preocupação o despreparo das companhias para lidar com as notícias falsas.

Segundo ele, os próprios gestores de comunicação nas empresas veem com preocupação a falta de preparo, uma vez que a “maior parte das organizações reconhece que a ameaça de ocorrer uma crise provocada por fake news entre elas é consistente ou alta”. “Não contar com um programa de prevenção e administração para combater campanhas de desinformação é, portanto, algo grave”, dispara.

A Aberje revelou este mês o resultado de um levantamento junto à comunidade empresarial que aponta que 75% das grandes companhias brasileiras já sofreram algum tipo de fake news. Trocando em miúdos, a pesquisa, segundo Chinan, foi realizada entre 50 gestores de comunicação de 30 grandes empresas e agências de comunicação do Brasil, o que é bem representativo.

Ainda conforme dados citados por ele, as fake news prejudicam, e muito, a imagem das marcas. Ele revela que um estudo da Universidade de Baltimore, nos Estados Unidos, mostra que elas custam por ano US$ 78 bilhões.

Chinan declara que a Aberje acredita que a melhor estratégia para as empresas enfrentarem as fake news é “por meio da educação midiática”. “As organizações devem investir em workshops, palestras e treinamentos entre seus principais públicos, como empregados, fornecedores e formadores de opinião”, analisa.

Luiz Chinan: “maior parte das organizações reconhece que a ameaça de ocorrer uma crise provocada por fake news entre elas é consistente ou alta” (Divulgação)

A entidade oferece às associadas uma maneira de testarem suas resistências às fake news, ou seja, fazendo uma autoavaliação. “A Aberje preparou dez perguntas para que as organizações tenham noção de suas forças e fraquezas nessa área”, revela ele, acrescentando que as piores fake news, neste momento, estão relacionadas à pandemia da Covid-19, que afetam gravemente a saúde pública.

Chinan avalia que a melhor forma de combater as notícias sem fundamento é, sobretudo, com “a formação em leitura crítica e com investimentos em jornalismo profissional”.

O estudo da Aberje ouviu profissionais que trabalham ou atendem grandes empresas no Brasil, e mostra que 75% dessas organizações já foram ameaçadas por fake news, ou seja, por notícias falsas que poderiam macular a reputação das marcas no mercado.

Risco
Segundo a enquete, 67% dos comunicadores acreditam que é consistente ou alto o risco de a empresa na qual trabalham ou atendem ser acometida por uma grave crise de imagem em razão de futuras fake news. Apesar disso, 71% dos líderes consultados afirmam não ter um plano de contingência específico para enfrentar eventuais campanhas de desinformação.

O treinamento para enfrentar crises decorrentes de fake news também não entrou na agenda da maioria das empresas consultadas. Dos comunicadores que responderam ao levantamento, 82% garantiram que os altos executivos das organizações jamais fizeram uma preparação para enfrentar notícias falsas.

Mesmo no âmbito das áreas de comunicação e marketing, percebe-se uma falta de preparo sobre o tema. Só 12% desses profissionais confirmaram ter realizado um treinamento sobre desinformação e 53% declaram ter um baixo conhecimento sobre a Lei de Fake News recentemente aprovada no Brasil.

“Percebe-se que as empresas precisam preparar mais seus colaboradores para enfrentar os perigos e a urgência dessa questão”, afirma Hamilton dos Santos, diretor-geral da Aberje, acrescentando: “Nós acreditamos que é por essa razão que sentimos um forte comprometimento das lideranças de comunicação das grandes corporações brasileiras em apoiar nossa iniciativa para enfrentar o problema”.

A enquete da Aberje foi realizada no âmbito do seu Comitê de Relacionamento com a Mídia e Influenciadores Digitais, grupo de estudos constituído por associados da entidade, que reúne 50 profissionais seniores de comunicação de grandes empresas. Essas organizações somam US$ 1,8 trilhão de valor de mercado no mundo e abarcam os segmentos financeiro, farmacêutico, automobilístico, tecnológico e alimentar, entre outros.

Aliança
Denominada Aliança Aberje de Combate às Fake News – movimento empresarial contra a desinformação, a iniciativa é baseada no código de princípios do International Fack-cheking Network, do Poynter Institute, que prevê, conforme a instituição, compromissos com o não-partidarismo, com as fontes, com a prestação de contas, com a transparência e com a honestidade. “O objetivo é auxiliar e capacitar as organizações para combater a desinformação”.

O movimento lançou ainda uma newsletter mensal que traz informações sobre fake news no Brasil e no mundo. São conteúdos sobre desinformação que podem impactar os negócios, especialmente aqueles que ameaçam pautas como sustentabilidade, diversidade e democracia.

A medida provisória das fake news foi sepultada pelo STF no último dia 14 e representou uma derrota para o presidente Jair Bolsonaro, reacendendo o debate em torno do conteúdo das plataformas digitais.