Na semana passada, ocupei este espaço para refletir sobre a busca dos sinais mais evidentes e relevantes dos nossos tempos. Qual é o nosso Zeitgeist – ou Genius Saeculli – do latim Espírito Guardião do Século? Retomo o tema em função de dois fatos: a repercussão do SXSW e alguns comentários de amigos que prezo muito sobre o tema. Primeiro, o SXSW. De tudo o que li ou ouvi, me restou uma conclusão marcante, decorrente do evento: os sinais dos nossos tempos são difusos e caóticos, de difícil identificação e interpretação. Quem esperava voltar com respostas do grande festival, se frustrou, trazendo novas questões, em vez de esclarecimentos.

Afinal, como encontrar um conjunto minimamente organizado de sinais em meio a tantas e multifacetadas manifestações? De uns tempos para cá, alguns espertos começaram a ocupar o vácuo deixado por essa dificuldade para criar alguns conceitos para satisfazer profissionais sequiosos por definições que os ajudassem a criar estratégias de marketing mais assertivas para seus planos.

Aí vieram os tais conceitos: Baby Boomers, a Geração X, a Y e a Z. Por falta de abecedário, passaram a cunhar expressões como millennials. E por trás de cada uma dessas expressões, uma tentativa de emoldurar toda uma geração. Mas há alguns fenômenos que variam muito de país a país, de estado a estado, de cidade a cidade, de bairro a bairro, de tribo a tribo (no sentido figurado).

Embora a gente encontre McDonald’s, Starbucks e outras redes internacionais por todo canto do mundo, o que nos dá a sensação de uniformidade internacional, basta nos aprofundarmos no tecido social para percebermos grandes diferenças. Apesar de frequentarem os mesmos Starbucks por aí, brasileiros e americanos se comportam de forma muito diferente.

Brasileiros, de uma maneira geral (olha eu caindo na tentação de definir todos os brasileiros…), ficam amigões íntimos rapidinho, abraçando e beijando pessoas que acabam de conhecer. Já os americanos ficam num discreto aperto de mão, mesmo depois de muita convivência.

Há jovens – millennials – que ficam mergulhados em telas, com pouco contato social (contato físico, olho no olho – não máquina a máquina). De fato, esse número é cada vez maior. Mas há outros grupos expressivos, que resistem a essa banalização dos contatos virtuais.

Há jovens totalmente focados na conquista de dinheiro, a qualquer custo. Há outros que já não querem carro ou roupas de grife. Ao contrário, preferem a simplicidade e os prazeres mais naturais da vida. Há os que se entopem de salgadinhos cheios de conservantes e aromatizantes e outros que aderem a uma comida mais natural, orgânica ou ao veganismo.

Crescem as redes de junk foods, mas crescem também as de opções mais naturais. Haja vista o crescimento exponencial da Whole Foods nos EUA, recentemente adquirida por Jeff “Amazon” Bezos. Com relação à idade, numa outra ponta da sociedade, há os mais velhos. Que incrível mudança ocorreu nas últimas décadas no comportamento da conhecida “terceira idade”! Na minha infância, essa classe era caracterizada pelo pijama e os chinelos.
O que observamos hoje são sessentões e setentões com muito mais disposição e atividade do que muitos jovens, que adotam uma vida mais caseira, focada em games e redes sociais. Estamos na era das contradições.

Por um lado, uma cruzada ferrenha pelos direitos humanos e de igualdade de raça, de gênero, de cor… Por outro, um recrudescimento nas limitações às migrações e na intolerância social e religiosa. Países antes amigáveis, agora mostram-se xenófobos e restritivos. Basta ver a obsessão do dirigente do maior país do mundo em “proteger” sua gente com muros (físicos e alfandegários). Minha conclusão neste segundo artigo dedicado ao mesmo tema só poderia confirmar o que já afirmei no primeiro.

Que dificuldade em ter o tal Zeitgeist desses nossos tempos, não?

Alexis Thuller Pagliarini é superintendente da Fenapro (Federação Nacional de Agências
de Propaganda) (alexis@fenapro.org.br)

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