Enquanto produções recomeçam em países como Coreia do Sul, Austrália, Suécia e Nova Zelândia, e os Estados Unidos têm Hollywood estudando para retomar as gravações com segurança, os amantes de cinema no Brasil veem iniciativas para reencontrar as telonas.

Com as salas fechadas desde março e sem perspectiva de data para reabertura, o setor sofre um grande impacto que alcança desde ingressos a bomboniere, eventos e licenciamento, por exemplo.

Cine Autorama atua no formato há cerca de cinco anos; para Marco Costa, fundador do negócio, o crescimento do formato durante a pandemia é positivo

Diante desse cenário, a indústria busca alternativas para manter o negócio e a relação com público, e algumas iniciativas surgem moldadas em protocolos de segurança, especialmente o de evitar aglomerações. Uma das mais promissoras parece uma viagem no tempo: o cinema drive-in. Agora ele ganha força unindo o ar de atração vintage, tecnologia de última geração e integração de serviços.

Marco Costa é fundador do Cine Autorama e sócio da Brazucah Produções, e atua no segmento de drive-in há cinco anos. Ele explica que a tendência veio de fora, chegou ao país e agora falta um protocolo único de liberação. “Já atuávamos antes com essa atividade e estamos gostando da visibilidade que esse tipo de exibição está tendo. Antes, as pessoas conheciam pouco e tinham dificuldades para entender esse método. Então, vemos com bons olhos a retomada desse setor como um todo. A gente não fica pensando que é concorrência porque as iniciativas podem agregar uma à outra, reformando todo um mercado de cinema drive-in novamente.”

Pipocam ideias
Diversas cidades brasileiras já têm projetos em andamento. Em São Paulo, por exemplo, acaba de ser anunciado o Belas Artes Drive-In, iniciativa do Petra Belas Artes em parceria com o Memorial da América Latina e a Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo.

A previsão é iniciar as atividades em 16 de junho e já foram escolhidos filmes como Batman, o Cavaleiro da Noite, A Origem, Laranja Mecânica, O Iluminado e 2001 – Uma Odisseia no Espaço.

Em ajustes finais está o Arena Sessions, iniciativa dentro do Allianz Parque que estima receber até 300 veículos. A ideia é ter filmes, shows e palestras para os espectadores em seus veículos. Além dos telões da arena, o cinema a céu aberto terá tela de LED de alta definição. Serviços de alimentação serão entregues pela janela do carro, evitando qualquer contato.

André Sturm, curador do Belas Artes e do projeto, comenta o projeto. “Um dos cinemas mais queridos da cidade de São Paulo tem agora uma oportunidade de voltar a abrir suas portas, porém em formato de drivein. De uma forma criativa, que oferece filmes para todos os tipos de cinéfilos, com isolamento, segurança e o conforto de estar dentro de seu próprio carro”, diz.

A previsão é iniciar as atividades em 16 de junho E já foram escolhidos filmes como “Batman, O Cavaleiro da Noite”, “A Origem”, “Laranja Mecânica”, “O Iluminado”, “2001 – Uma Odisseia no Espaço” e “De Olhos Bem Fechados”.

Em fase de ajustes finais está o “Arena Sessions”, iniciativa dentro do Allianz Parque que estima receber até 300 veículos. A ideia é ter não apenas filmes, como shows e palestras para os espectadores em seus veículos. Além dos telões da arena, o cinema a céu aberto terá uma super tela de LED de alta definição. Serviços de alimentação serão entregues pela janela do carro, evitando qualquer contato.

Planeta Drive-In em Curitiba será na Pedreira Paulo Leminski

Em Curitiba (PR), o Planeta Drive-in vai transformar a Pedreira Paulo Leminski em um espaço multieventos. O projeto da Planeta Brasil Entretenimento trará sessões de cinema, shows, palestras e lives. Diante do telão de 162m², o público sintoniza uma estação de rádio que leva o som da tela para os veículos. Há previsão de até 117 carros, itens de alimentação e serviço por atendentes de aplicativo de entregas.

Segundo Patrik Cornelsen, diretor da empresa, o projeto foi desenhado para trazer de volta atrações culturais fora de casa à vida das pessoas, respeitando as principais orientações dos órgãos oficiais. “Assim, a Pedreira Paulo Leminski, cartão-postal de Curitiba, marcará a volta segura dos eventos à capital paranaense”, afirma. Para Helinho Pimentel, diretor do Parque das Pedreiras, essa iniciativa ajuda a cidade. “Alinhada às principais tendências do entretenimento na atualidade, a maior arena natural do mundo possui as condições ideais para realizar grandes eventos reunindo apenas 2% de sua capacidade de público total.”

Para algumas fontes, ainda é cedo para avaliar se o “novo” modelo veio para ficar ou se apenas atenderá o público de cinema enquanto as salas não reabrem. Para Costa, da Cine Autorama, o drive-in terá longevidade a partir desse cenário de pandemia, com diversos projetos, alguns permanecendo em médio prazo. “Por um tempo haverá essas restrições e o drive-in é uma atividade que pode se manter aberta nesse ‘vaivém’. E por que não acreditar que o drive-in retornou para ficar mesmo após a pandemia?”, opina.

Há ainda outros tipos de projetos que apostam na solidariedade e no digital. Um deles é o 180 Filmes, criado pelas distribuidoras Downtown Filmes e Paris Filmes. A ideia é disponibilizar 180 longas nacionais e internacionais de seus catálogos para serem exibidos em cinemas no país até que alcancem 80% da reabertura. O valor do ingresso será revertido para os exibidores, para ajudar a repor parte das perdas sofridas no período de portas fechadas.

Já aproveitando a força do streaming surgiu a Cinema Virtual. A plataforma foi desenvolvida em parceria com os cinemas para exibir filmes inéditos e exclusivos. A compra do “ingresso” é feita por site e o longa fica disponível por 72 horas para ser visto em até três telas simultâneas.

O retorno e a publicidade
Mesmo com renda 100% atingida, a Kinoplex mantém seus colaboradores e avalia que o impacto real ainda não pode ser definido, pois depende de fatores como datas de lançamento de filmes e de reabertura. Por enquanto, a empresa trabalha junto aos governos mostrando como funciona a operação de um cinema para assim desenvolver protocolos de segurança.

Patricia Cotta, gerente nacional de marketing do Kinoplex, comenta que a empresa segue trabalhando remotamente e dedicada a construir boas experiências que mantenham o mesmo nível de magia e emoção, mas dentro de um rígido controle de segurança para os espectadores e o time. “Temos interagido com nosso público via redes sociais, procurando desenvolver atividades lúdicas e divertidas que os mantenham conectados ao universo do cinema. A magia e a imersão que existem na sala escura, em frente à tela gigante, são exclusivas do cinema. As pessoas estão ansiosas para voltar a se divertir junto aos que amam e nós ansiosos para recebê-las”, acrescenta.

Diretora-geral e Latam da Flix Media, empresa que comercializa espaços publicitários nos cinemas, Adriana Cacace explica que, do ponto de vista de mídia, o digital ganhou protagonismo nesse período em duas frentes. Uma são os novos pacotes ofertando a mídia nos sites e apps dos exibidores e no portal Cineclick, principalmente com branded content. A outra é com games, uma vez que a publicidade digital in-app cresceu muito.

Mas o drive-in também deve ser um segmento de atuação para a empresa, que tem analisado vários projetos. A estratégia é focar nos que seus afiliados estão produzindo ou participando. “Já temos três projetos no mercado e a receptividade é incrível. Isso mostra que o hábito de consumo para filmes fora de casa não mudou. Existe a demanda, ainda que em um formato adaptado para esse momento que estamos vivendo”, conta Adriana.

Apesar do “tempo perdido” no primeiro semestre, as empresas estão otimistas para a segunda metade do ano, especialmente pela demanda reprimida e pela concentração de lançamentos estimados para o período. Entre as estreias há Mulan (julho) e Viúva Negra (outubro), da Disney; Wonder Woman 1984, da Warner Bros.; e Um Lugar Silencioso – parte II (setembro) e Top Gun: Maverick (dezembro), ambos da Paramount Pictures.

Por tudo isso, Adriana ressalta que o hábito de consumo para filmes não mudou. Mesmo em casa, as pessoas continuam consumindo filmes e promovendo discussões nas redes. “A demanda por projetos de longo prazo, mesmo em cinemas, não caiu, o que demonstra uma forte confiança em nossa mídia. Estamos tendo dias intensos de planejamento elaborando novos projetos específicos para a retomada, mantendo contato com agências e anunciantes para termos velocidade e participarmos de todos os planejamentos de mídia.”

Enquanto as salas seguem fechadas, as empresas planejam a retomada e criam protocolos para a reabertura