Sergio Gordilho: “Art Direction não é sobre print, é sobre talento”/Alê Oliveira

Presidente de júri em Art Direction no D&AD deste ano, Sergio Gordilho fala nesta entrevista sobre a importância da direção de arte para a propaganda e suas expectativas para o julgamento online que, para ele, perderá muito os detalhes. “Vão fazer falta as conversas acaloradas focada nas ideias entre um pint e outro, pois salas de Zoom não têm foco”. O copresidente e CCO da Africa é um ‘velho’ conhecido do festival e será jurado pela quinta vez. O criativo também destaca o potencial do Brasil: “Há um respeito enorme pela qualidade da nossa direção de arte e uma expectativa, idem, pelas nossas inscrições”. Os vencedores de Pencil do D&AD serão revelados em cerimônia virtual nos próximos dias 26 e 27.

Julgamento
O D&AD é globalmente reconhecido como o festival com o maior critério criativo. Tenho orgulho de dizer que o D&AD faz parte da minha trajetória. Quando estudava desenho gráfico em Londres, foi o D&AD que me trouxe de volta para a publicidade. Estou sendo jurado pela 5ª vez e, pela segunda, presidente de júri. O que é motivo de orgulho e também, neste momento, de muita curiosidade, pois é a primeira vez que estou julgando não presencialmente. Ao se julgar um festival, mais importante do que fazer a curadoria do que de melhor foi produzido no ano é a troca de experiências entre jurados e júris. Infelizmente, isso não vai acontecer. Vão fazer falta as conversas acaloradas focada nas ideias, entre um pint e outro, pois salas de Zoom não têm foco. O fundo fica todo borrado e, assim, quem perde são os detalhes e, possivelmente, vamos premiar os em cima do muro. Pois as grandes ideias ganham nos detalhes. Mas esse é o reflexo desse momento que o mundo vive.

Art Direction
Direção de arte é o core do D&AD. O AD significa Art Direction. Onde tudo começou. Então já mostra a responsabilidade que tenho em presidir essa categoria. E a relevância que o Brasil tem ao ver um brasileiro conduzindo a categoria mais importante do ponto de vista histórico do festival. E logo em Londres, onde heritage e tradição contam mais do que em qualquer outro lugar do mundo. Art direction não é sobre print, é sobre talento. Talento criativo em dirigir a arte para potencializar uma ideia. E nessa categoria entra tudo: games, vídeos, filmes, OOH e press, absolutamente tudo.

Print
O que é um print? É uma impressão de algo, no nosso caso de uma ideia em uma superfície. No passado, a mais consagrada era a ideia impressa no papel. Aliás, foi por aí que a ambição e a tradição criativa brasileira foram moldadas. Mas hoje, com tantas telas de papel, lona, plástico ou LED, as possibilidades também se tornaram infinitas. O print continua fundamental. O que difere um criativo de um grande criativo é a habilidade em simplificar a sua ideia e imprimi-la em qualquer superfície, sem precisar se esconder atrás de um vídeo case. O print sempre será válido sendo digital ou tradicional, desde que o material impresso seja uma grande ideia.

Brasil
O Brasil é um país de diretores de arte. Os redatores que me perdoem, mas com as cores, a natureza, a luz, o nosso mix de etnias, as manifestações culturais e, claro, com as dificuldades que encontramos, esse país se tornou o maior berçário dos melhores diretores de arte do mundo. Por isso o Brasil sempre entra grande. Somos uma das cinco potências mundiais em criatividade. E isso foi construído com muita inspiração e transpiração por várias gerações, inclusive a minha. Há um respeito enorme pela qualidade da nossa direção de arte e uma expectativa, idem, pelas nossas inscrições. Já entramos sempre com as casas de apostas nos colocando no alto. Este ano não será diferente.

Prêmios
A Africa é uma grande ganhadora, mas não é uma grande “inscrevedora” em festivais. Se for ver o número de peças e festivais que inscrevemos, é menor do que muitas outras agências. Isso, infelizmente, nos obriga a não participar de tudo e focar em três ou quatro premiações regionais e globais. Por um critério claro: dólar está alto pra burro. Mas D&AD e Cannes estão sempre no topo da nossa lista. Sei que falar de prêmio pega mal. Mas quem fala mal de premiação é quem nunca ganhou. Por falta de oportunidade, ou falta de talento. Premiar eleva o moral da turma, promove a experimentação/originalidade e, como resultado, potencializa o ambiente criativo. E ambiente criativo é ninho para ideias. Mas sempre com a crença de que prêmio não é final, é meio. Somos há dois anos a agência mais premiada da América Latina no D&AD. E no último ano a 9ª mais premiada do mundo. Queremos bater o recorde do ano passado quando ganhamos 11 Lápis. Pois não é o desafio que move a criatividade?