Alê Oliveira

Diz o dito popular: “É no chacoalhar do caminhão que as melancias se ajeitam”. E o nosso caminhão da macroeconomia vem chacoalhando e fazendo curvas perigosas pelas estradas de 2016. Mas, além de chacoalhar (e como chacoalha!), ele também freia. E, a cada freada mais brusca, provoca uma arrumação na sua frágil carga.

Mas o caminhão não para: aos trancos e barrancos, vai tocando a sua jornada épica para chegar a algum destino. Paro por aqui com a metáfora e parto para a realidade.

Na semana passada, acompanhei o evento Lacte 11, focado no segmento de viagens corporativas, incentivo e eventos. O evento é realizado pela Alagev (Associação Latino-Americana de Gestores de Eventos e Viagens Corporativas).

Como faz todo ano, a Alagev apresentou o seu IEVC (Indicadores Econômicos das Viagens Corporativas), baseado em estudo feito pela instituição, em parceria com o Senac.

Os números referem-se à movimentação econômica do setor no ano passado. Como se esperava, o caminhão do setor de viagens corporativas (lá vou eu com a metáfora outra vez…) pisou no freio em 2015.

Depois de acompanhar anos seguidos de crescimento, o setor apresentou uma redução de 3,6%, chegando a um total de receitas equivalente a R$ 38,73 bilhões, em comparação com os R$ 40,17 bilhões de 2014.

Consequentemente, o impacto direto na economia também diminuiu de R$ 75,93 bilhões em 2014 para R$ 70,57 bilhões em 2015. E, nesse dominó perverso, os empregos também sofreram: foram gerados 725.589 vagas diretas e indiretas, o que também representou queda em relação ao ano anterior, quando o setor gerou 752.921 postos de trabalho.

Olhando os números com mais atenção, porém, vemos que a “arrumação” acaba desfavorecendo alguns setores, mas o impacto é menor em outros. Por exemplo, o setor aéreo (o mais importante na composição da receita do setor), que representava 52,81% da receita em 2014, reduziu sua importância para 44,29%.

Enquanto que o de hospedagem – o segundo do ranking de receitas – subiu de 28,64% para 33,69%. Os subsetores de alimentação e de locação de carros também cresceram em importância. É esse tipo de arrumação que as freadas econômicas provocam.

Quem consegue se segurar e se adequar a cada chacoalhada vai sobrevivendo e até crescendo no meio da turbulência. Em um dos painéis do evento, vi Wilson Ferreira Junior, presidente da Ampro (Associação de Marketing Promocional) apresentar um quadro sobre o setor de eventos, constatando que as atividades continuam sendo realizadas, mesmo com a retração econômica.

Quem fazia evento de premiação em Paris, foi para Miami. Quem fazia em Miami, veio para um resort brasileiro. Quem fazia em resort sofisticado, foi para um hotel urbano. Quem fazia em hotéis 5 estrelas, foi para 4 estrelas. E assim por diante…

O importante é acompanharmos atentamente os movimentos de “arrumação”. No setor de propaganda, a recente pesquisa organizada pela Fenapro (Federação Nacional das Agências de Propaganda), no fim do ano passado, mostrou agências se adequando rapidamente.

No campo digital, por exemplo, depois de sofrer com perdas de receita advindas da mídia tradicional, aproximadamente 30% das agências incorporaram com sucesso esse tipo de serviço em seu portfólio. Os serviços digitais já representam, em media, 11% da receita das agências.

Outro movimento de arrumação no setor de agências de propaganda é a terceirização. Há claramente uma tendência de delegar a terceiros aquilo que não é estratégico. E assim vai se dando a arrumação. É muitas vezes dolorosa, mas necessária.

Em vez de ficarmos nos lamuriando pelos cantos, é hora de pensar nas adaptações. E rapidamente! Como ouvi alguém dizer no evento.

Nesses tempos de arrumação contínua, existirão apenas dois tipos de empresas: as rápidas e as mortas.

Alexis Thuller Pagliarini é superintendente da Fenapro (Federação Nacional de Agências de Propaganda)