Não importa onde, quando e nem como. Existe sempre alguém pronto para fazer parte da nossa história. A minha inspiração vem dessas pessoas que, sem muito desconforto, te fazem querer jogar tudo para cima em busca de uma aventura rumo ao inexplorado. Encontrei algumas assim na minha mais recente viagem com a Carla, minha mulher, com destino a Bali. Mais um capítulo inesquecível das nossas vidas.
Começando pelo sr. Wayan, um senhor de uns 60 anos, que descobri sem querer em um fórum na internet e trabalha como motorista na região de Ubud. Ele nos levou para conhecer os campos de arroz em Tegallalang, onde perdi meu telefone no meio da plantação. Já no hotel à noite, ainda inconformado de também ter perdido todas as fotos mais recentes da viagem (algumas entre as que ilustram esta página), liguei para ele e pedi que me levasse de volta. “Mr. André, é muito perigoso! O lugar é cercado e trancado esta hora, além de não haver iluminação!”, ele me disse.
No final, mais do que me levar de volta, o sr. Wayan pulou comigo a cerca de proteção e encarou a caminhada de 45 minutos no meio da lama e da escuridão, armados apenas com a lanterna do celular da Carla. No final, não apenas encontrei o aparelho, mas também outra dessas pessoas especiais. Meu iPhone não estava no ponto indicado pelo GPS e sim com uma senhora camponesa que o havia encontrado e levado para casa, ali perto. Poucas vezes vi alguém ficar tão feliz simplesmente por encontrar o dono de um objeto perdido e ter o prazer de devolvê-lo, ainda mais algo que poderia ter lhe rendido uma quantia interessante. A mim, certamente valeu infinitamente mais do que aquilo que economizei com um aparelho novo.
Outro cara inspirador foi o Putu. Na cultura local, Putu é o nome dado ao primeiro filho de um casal. Ele também era motorista e foi indicado pelo Nano Nobrega, um irmão que a vida me deu e que conheci durante os cinco anos em que morei em Los Angeles, estudando e trabalhando. O Putu nos levava de uma região a outra de Bali. Entre elas estava o Tirta Empul, um lugar especial para os nativos, com águas sagradas. Foi o mesmo templo que ele frequentou todos os dias durante os nove meses de gestação da sua filha. Os médicos disseram que ela não seria saudável, então ele rezou diariamente por lá até ela nascer. Perfeita. Quando ele nos deixou no aeroporto ao fim da viagem, além de todas as memórias, nos deu dois braceletes que ele mesmo havia levado de volta ao templo para que fossem “benzidos” como presente em agradecimento por termos dados a ele a oportunidade de nos mostrar sua terra. Um preto para mim e um branco para a Carla, que juntos simbolizam o equilíbrio. Nos tornamos amigos, inclusive no Facebook, e eu o ensinei a usar o Instagram para atrair mais clientes (@putu.krishna.35).
Eu sei que, quando a gente fala de Bali, a maioria das pessoas quer ouvir histórias sobre o mar, a ioga, os corais e os surfistas inveterados. Mas neste caso, assim como em outra vez que estive lá com amigos para surfar, o que mais me impressionou não foram as ondas perfeitas, mas o empenho que as pessoas fazem para que você se sinta bem.
Na minha opinião, locais como Bali são paraísos naturais. Porém, sem as pessoas que moram ali, a ilha seria só mais um lugar bonito. O ponto dessa história toda é que cada uma delas, assim como tantas outras que não tive espaço para contar aqui, participaram da construção de uma viagem inesquecível. Provaram para mim, mais uma vez, que aquilo que chamamos de “extra mile” em cada job que trabalhamos é de fato o que faz a diferença para que nossos clientes queiram sempre voltar.
O Summit do Facebook, os cursos da Sungularity, Cannes, SXSW, palestras sobre empreendedorismo, VR, AI, o Carnaval na Sapucaí… tudo isso nos dá informações e referências muito legais. Mas, no fundo, o que faz a diferença na pancadaria do dia a dia, no meio dos prazos e das entregas, é nossa relação com pessoas. As que nos ensinaram nas experiências anteriores e as que estão do nosso lado naquele momento, cada uma trazendo a própria bagagem, para construir juntos algo que faça sentido além de só solucionar um briefing. É nessa hora que eu sinto que vem a inspiração.
André Machiaverni é sócio e diretor de planejamento da agência Meza
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