Débora Falabella como Mel em O Clone

Que a TV Globo é expert em produzir telenovelas isso ninguém duvida. Pelo contrário, a emissora é referência mundial quando o assunto é teledramaturgia. Mas, além de prender a atenção dos telespectadores por aproximadamente oito meses (tempo de vida útil de uma novela) seis dias por semana (de segunda-feira a sábado) durante mais ou menos 55 minutos por capítulo, a TV Globo faz muito mais do que entreter. Através de suas tramas, ela dita moda, discute polêmicas e apresenta questões de responsabilidade social.

Atualmente, a novela Passione, do autor Silvio de Abreu, mostra a deprimente história do jovem Danilo, interpretado pelo ator Cauã Raymond, um viciado em drogas. A novela chama a atenção para esse sério problema presente na sociedade. Mas não é só durante a trama que o assunto vem à tona. Durante as chamadas comerciais das novelas, a TV Globo tem enfatizado os problemas sociais reais encenados por personagens em sua vasta dramaturgia.

Outro exemplo é a novela O Clone,  grande sucesso da novelista Glória Perez, que será reprisado em janeiro de 2011 em Vale a Pena Ver de Novo. As diversas chamadas da novela, veiculadas pela  emissora, mostram os principais temas da trama: cultura muçulmana, clonagem humana e dependência química.  A abordagem das drogas neste folhetim mostra um contraponto entre os personagens Mel (Débora Falabella), Nando (Thiago Fragoso) e Lobato (Osmar Prado). Enquanto os jovens se iniciam na experiência e vivem a fase de deslumbramento que caracteriza esse começo, Lobato – alcoólatra que também faz uso da cocaína – vive o desespero de quem perdeu emprego e família por causa da dependência. Mesmo sendo uma reprise, a questão continua mais atual do que nunca e certamente entrará para a pauta de discussão dos telespectadores.

Não é de hoje que a Rede Globo aposta nas responsabilidades sociais inseridas em seus produtos. Ela começou a veicular esse tipo de campanha em 1995, na novela História de Amor, de autoria de Manoel Carlos, em que o personagem Edgar, interpretado por Nuno Leal Maia, ficava paraplégico e, mesmo assim, praticava esportes. O assunto foi tão debatido na época que o autor convidou Pelé, que na época era Ministro do Esporte e Turismo, para fazer uma participação na trama. A experiência se repetiu no ano seguinte, na novela Explode Coração (Glória Perez, 1996, TV Globo), em que foi abordado o problema das crianças desaparecidas.
Daquela época em diante, a maioria dos autores concedeu generosos espaços a esse tipo de sensibilização. Os casos mais lembrados são aqueles que abordaram a doação de órgãos – Laços de Família (Manoel Carlos, 2000, TV Globo); a questão dos idosos – Mulheres Apaixonadas (Manoel Carlos, 2003, TV Globo) , o mal de Alzheimer – Senhora do Destino (Aguinaldo Silva, 2004, TV Globo) – os deficientes visuais – América (Glória Perez, 2005, TV Globo), que deu origem até a um programa fictício – É Preciso Saber Viver -, apresentado por Dudu Braga, filho do cantor Roberto Carlos. Em 2009, Manoel Carlos voltou ao horário das oito com a trama Viver a Vida, na qual a protagonista Helena (Thais Araújo) perdeu espaço para a personagem Luciana (Alinne Moraes), que ficou paraplégica após acidente de carro.

Não há dúvida que esse tipo de iniciativa, por parte dos autores, é extremamente válida. Abordar assuntos importantes e de interesse da sociedade gera mudanças e adoção de novos comportamentos. Pois é, além de saber fazer muito bem suas novelas, a TV Globo também sabe muito bem divulgá-las em seus intervalos comerciais, principalmente enfatizando as questões sociais contidas nas histórias. E se é para o bem, que mal tem?

por Adriana Silvestrini