Em 12 de dezembro de 2020, Silvio Santos vai completar 90 anos. Mas qual Silvio? O Homem do Baú? O dono do SBT? O empresário multifacetado? O animador considerado por muitos o melhor de todos os tempos? O candidato a presidente? Na verdade, todos eles.
Suas inesgotáveis histórias são conhecidas por milhões de brasileiros. Silvio Santos é quase uma unanimidade entre os comunicadores. Prova disso é que seus principais concorrentes na televisão brasileira fizeram questão de reconhecer sua grandiosidade ao PROPMARK.
Roberto Irineu Marinho, presidente do conselho de administração do Grupo Globo, afirma que o dono do SBT faz parte da memória afetiva da televisão brasileira. “Participou do início da TV no Brasil já como animador de programas de auditório e, a partir de 1965, quando a Globo ainda dava os primeiros passos, ocupou boa parte da grade de programação dos domingos”, relembra. Segundo Irineu, foram mais de 10 anos de convivência harmoniosa e amistosa entre Silvio Santos e seu pai, Roberto Marinho.
“Eu era jovem quando o conheci, mas já admirava o seu carisma e capacidade de comunicação. Sempre com o mesmo sorriso e seu microfone, Silvio alegrava o domingo dos brasileiros (e alegra até hoje). Em 1976, deixou a Globo mas a admiração mútua se manteve intacta. Quando mais tarde decidiu fundar a própria emissora, ainda que concorrentes, sempre estivemos juntos em ações que contribuam para a valorização dos meios de comunicação no Brasil. Aos 90 anos, ele mantém o mesmo carisma e talento como comunicador”, celebra o executivo.
Seu irmão, João Roberto Marinho, vice-presidente do conselho de administração do Grupo Globo, classifica Silvio como um ícone da TV brasileira. “Lembro-me de como alegrava os domingos com seu programa de auditório que ia ao ar na Globo. E não me esqueço de nosso pai, Roberto Marinho, comentando, orgulhoso, uma matéria publicada pela revista Realidade que comparava a audiência do programa dele na Globo à transmissão da chegada do homem à lua. Aliás, os dois sempre tiveram uma relação muito amistosa. Nas datas de aniversário, trocavam cartões de cumprimentos e manifestavam admiração um pelo outro. Nesses anos todos, como empresários do setor de comunicação, compartilhamos da crença de que nossos veículos têm como missão informar, entreter e contribuir para a democracia e o bem-estar social”, reflete.
Além da Globo, o Programa Silvio Santos também foi transmitido pela Record TV em meados da década de 1970. Aliás, Silvio chegou a ser dono de 50% da emissora naquele período, vendendo o canal no fim dos anos 1980. Walter Zagari, vice-presidente comercial do Grupo Record, classifica Silvio como sinônimo de apresentador de sucesso da TV brasileira. “Eu tive a oportunidade e o privilégio de conhecer o Silvio Santos de duas formas: como apresentador, da mesma forma que a maioria das pessoas, e como empresário, durante os meus 20 anos no comando das áreas Comercial e Marketing do SBT. E como executivo do SBT a minha relação com o Silvio Santos foi muito cordial e profissional”, destaca.
Johnny Saad, presidente do Grupo Bandeirantes, fala que Silvio não é só um campeão de audiência, ele é também um campeão de permanência. “Não vejo maior consagração do que essa para um comunicador. Certamente um dos maiores de todos os tempos”, afirma. “Com Silvio, a rua e o vídeo se encontraram. Ele deu continuidade na TV a um trabalho que havia iniciado, quando jovem, no contato direto com as pessoas nas esquinas e nas praças. Seu gênio soube transformar isso em imagens que produzem encantamento no público. Talento demais. É emocionante ver, por exemplo, como ele cria lazer e entretenimento para as pessoas mais velhas e necessitadas. Ele valoriza e dá mais sentido à vida dessas pessoas – que, obviamente, têm por ele um sentimento de gratidão e amor”.
José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, outra lenda da TV brasileira e atual sócio da Rede Vanguarda, afiliada da Globo, classifica Silvio Santos como “um dos maiores comunicadores do Brasil e, certamente, recordista mundial de permanência no ar”. “Vi o Silvio Santos várias vezes no auditório da Rádio Nacional de São Paulo, onde ele lia os comerciais no programa Manoel de Nóbrega. Como todo mundo sabe, ele ficava vermelho e ganhou o apelido de ‘O peru que fala’. O que ninguém esperava é que ele dominaria os auditórios no futuro e nem que peru voasse. E o Silvio atingiu alturas inimagináveis”, reflete Boni.
O apresentador Geraldo Luis, da Record TV, celebra o nonagenário com entusiasmo. “Silvio Santos fazia, e faz ainda, todo brasileiro sonhar, realizando um sonho na Porta da Esperança, ou arrumando um namorado no Em Nome do Amor, apenas para citar alguns dos programas que fizeram parte da vida do nosso povo. Todo domingo ele trazia alegria para minha casa, um lugar muito pobre e humilde, onde não havia alegria alguma. Para mim, essa é a grande importância dele, o comunicador que leva esperança para povo. O homem que criou uma grande fábrica de sonhos”, recorda.
“Eu sempre sonhei em conhecer o Silvio Santos, mas nunca poderia imaginar que aconteceria como aconteceu. Um dia, ele me ligou e disse: ‘Sou seu fã’. E me pediu para ir a sua casa para conversar. Nunca pensei que teria essa honra de ter esse encontro profissional, com um convite para trabalhar com ele. Ele me recebeu de bermuda e camisa florida, me serviu um café. Veja a simplicidade deste homem”, revela Geraldo Luis.
Para o apresentador da Record TV, Silvio Santos nunca deixou de ser um camelô. “Ele é um comunicador vendedor. Teve a sensibilidade de transferir para a comunicação o mesmo poder de venda que o fez deixar de ser um vendedor de canetas para se tornar dono de uma emissora. É história única. Nunca mais vai acontecer nada igual a isso”, afirma.
Aliás, quando vendia canetas, Silvio usava a criatividade. Uma das estratégias era dizer: “Comprem, pois essa é a última”. Enquanto escondia outras no bolso. Se há uma certeza na vida, é que um dia ela vai terminar. Porém, a cada ano, Silvio Santos segue trabalhando, ainda que com menos frequência (como em 2020).
Como no caso das canetas, o público segue consumindo Silvio Santos com medo do ano vigente ser o derradeiro. “E este ano? Será o último?”, questiona a audiência. Não há resposta para tal questionamento. Mas há a certeza de que Silvio Santos será eterno para a comunicação brasileira.