Na liderança isolada do mercado de streaming brasileiro desde 2011, a Netflix vem ganhando competidores de peso: na última semana, tanto a Amazon quando a Apple TV+ detalharam estratégias de suas operações no país.

A Apple TV+ conta com elenco renomado para The Morning Show, uma das produções originais já anunciadas pela plataforma (Divulgação)

O Amazon Prime já está disponível por R$ 9,90 ao mês (ou R$ 89 no plano anual). Além da variedade de séries e filmes do Prime Video, os clientes também têm benefícios em jogos, músicas, eBooks e revistas), além de frete grátis em produtos do market place. Por sua vez, a Apple TV+ será lançada nos Estados Unidos e no Brasil simultaneamente, em 1º de novembro, e sua assinatura mensal também será de R$ 9,90.

Além disso, após ser disponibilizado ao mercado americano em 12 de novembro deste ano, o Disney+ deve chegar à América Latina em 2020. A plataforma vai reunir títulos de Disney, Pixar, Marvel, Star Wars e National Geographic. Outro conglomerado que atuará no segmento é a Warner Media: o HBO Max deve ser lançado no primeiro semestre de 2020, mas ainda não há informações sobre quando ele chega ao país; o objetivo é reunir produções de HBO, Warner Bros, New Line, DC Entertainment, CNN, TNT, TBS, truTV, The CW, Turner Classic Movies, Cartoon Network, Adult Swim, Crunchyroll, Rooster Teeth e Looney Tunes. Em meio às novidades, o YouTube também vem investindo no Premium, disponível no Brasil desde 2018, com o qual os consumidores podem baixar músicas e vídeos, contam com acesso a conteúdo exclusivo e não são impactados por anúncios.

Agora, especula-se sobre como será o comportamento do consumidor em meio a tantas opções. De acordo com Eric de Carvalho, professor de arquitetura e métricas da comunicação na ESPM, pesquisas indicam que as pessoas não estão dispostas a acumular diversos pacotes de serviços, e quem deve sofrer mais por conta disso é a Netflix. “Provavelmente essa relação de love brand que há com a Netflix deva ser alterada. As pessoas terão novos critérios, então será mais difícil para eles”, acredita.

A plataforma Amazon Prime já está disponível aos usuários brasileiros, que podem assistir a séries originais como Good Omens (Reprodução)

Outra possibilidade é a substituição da TV paga pela assinatura de múltiplas plataformas. Pesquisa da companhia de análise do mercado mobile App Annie aponta que o aumento do streaming no Brasil entre 2016 e 2018 foi de 130%. Ao mesmo tempo, de acordo com a Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações), o país apresenta diminuição média de 5% na base de assinantes da pay TV entre 2018 e 2019. “A TV a cabo já é cara, e vemos cada vez mais pessoas utilizando apenas o streaming. Mesmo o apelo das transmissões de grandes eventos esportivos já vem sendo revisto com a exibição de partidas via redes sociais. Será uma briga difícil na qual provavelmente a TV a cabo vai perder”, prevê o especialista.

Mais uma provável consequência da fragmentação do streaming é a pirataria. A possibilidade ganha ainda mais força quando se fala sobre serviços que serão lançados no mercado brasileiro apenas depois da estreia em outros países.

CONTEÚDO NACIONAL
Juntamente à presença de multinacionais do entretenimento no país, cresce a relevância de opções de conteúdo nacional. O Globoplay, por exemplo, lançado em 2015, mescla programas que fazem parte do dia a dia do brasileiro, como telejornais e novelas, a filmes e séries, inclusive estrangeiras. No entanto, vem chamando a atenção as produções com formatos que mais se aproximam dos concorrentes on demand e menos do que o público está acostumado a ver na emissora. É o caso de produções como Sessão de Terapia e Shippados, por exemplo.

A Record também vem investindo em seu Playplus, que oferece catálogo formado pelos conteúdos da emissora e também programas exclusivos de apresentadores. O título Terrores Urbanos, produzido pela Sentimental Filmes para a plataforma, é um dos exemplos de como as empresas vêm trabalhando para diferenciar os produtos que são entregues em suas diferentes plataformas.

Conteúdo original Globoplay aposta em formatos diferentes aos que o público está acostumado a ver na TV aberta (Divulgação)

DIFERENCIAÇÃO
Conteúdos exclusivos e originais não são fortalezas exploradas apenas pelas companhias nacionais. A estratégia é adotada por todos os players com o objetivo de ampliar sua base de assinantes. Tanto a Disney quanto a Warner vão retirar seus títulos da Netflix e concentrá-los apenas em suas plataformas, como forma de ampliar seu valor agregado.

Stranger Things, da Netflix, já faz parte da cultura pop atual (Reprodução)

No entanto, a pioneira do setor já vê suas produções originais (como Stranger Things, Orange is the New Black e Narcos, para citar algumas) como parte da cultura pop atual. É por isso que o Disney+ vai apostar em séries exclusivas de franquias consagradas, como Star Wars e Marvel. O Prime Video da Amazon aposta nas séries Good Omens, American Gods, Hanna, The Boys e Carnival Row. A Apple TV+ conta com nomes de peso para produzir, dirigir e estrelar seus conteúdos; dentre eles, Steven Spielberg, Oprah Winfrey, Jennifer Anniston, Reese Whisterspoon, Steve Carell e Jason Momoa.

Apesar dos projetos ambiciosos, é necessário que as empresas entreguem mais do que entretenimento. Tecnologia e navegabilidade são alguns dos atributos necessários para fidelizar o público. Isso evitaria problemas semelhantes ao que aconteceu com a HBO Go durante as transmissões da última temporada de Game of Thrones neste ano, quando diversos usuários relataram problemas ao acessar à plataforma e só conseguiram assistir aos episódios, que deveriam ser entregues simultaneamente à TV paga, muito tempo depois. “Com um baixo valor, se os assinantes não gostarem da experiência, haverá uma percepção de baixa qualidade. O momento de pensar nisso é agora”, orienta o professor.

Por fim, Carvalho reforça que mesmo em meio à hipersegmentação de conteúdo, os efeitos da consolidação de novos players devem ser benéficos. “Todo mercado que conta com a atuação de várias empresas é mais justo e oferece maior poder ao consumidor. Isso vai exigir um profissionalismo maior por parte das empresas, já que, assim como ocorre em setores como o da telefonia, o público poderá comparar, escolher e trocar de serviço caso não esteja satisfeito”.

The Mandalorian é um dos títulos de Star Wars que estarão disponíveis no Disney+ (Reprodução)