É verdade que as marcas e os publicitários por trás das campanhas têm a capacidade de influenciar no comportamento dos consumidores. Porém, no atual momento, são os consumidores que estão influenciando mais o dia a dia dos publicitários por meio das mudanças de hábitos possibilitadas em grande parte pelo avanço tecnológico. Assim como houve transformações consideráveis no comportamento da geração Y em relação aos representantes da geração X, os sinais apontam para uma virada ainda mais revolucionária para a próxima geração de consumidores, apelidada por especialistas de geração Z. Uma virada que, inclusive, já está em pleno andamento.

Duas pesquisas recentes provam isso, tanto dentro como fora do Brasil. Um estudo divulgado em julho nos Estados pelo Miner & Co Estúdio, por exemplo, aponta que assistir TV virou castigo para as crianças. Hoje, mais da metade (56%) dos meninos e meninas entre 2 e 12 anos preferem assistir vídeos em dispositivos móveis. Quando os pais tentam disciplinar os filhos, escondem os smartphones e dizem que poderão somente assistir televisão, o que é interpretado como uma “punição” pela geração de consumidores do futuro.

Além disso, o Comitê Gestor da Internet no Brasil, por meio da pesquisa anual TIC Kids Online Brasil, também divulgou números interessantes que revelam o impacto da internet móvel entre os adolescentes. Segundo a pesquisa, feita com mais de 2 mil jovens de 9 e 17 anos, 81% dos jovens acessam a internet todos os dias. No entanto, enquanto o acesso por celulares atingiu 82%, a preferência por desktops na hora de navegar pela rede virtual despencou de 71% para 56% desde 2013.

“É um fenômeno absolutamente irreversível. Em termos práticos, essa mudança já vem causando um impacto imenso. Quando pensamos em estratégias de telas, na prática o mobile já é a primeira tela quase o tempo todo”, afirma Paulo Sanna, vice-presidente de criação da Wunderman no Brasil, uma das maiores redes de agências digitais do mundo.

 

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Para Sanna, em um país onde a grande parte dos investimentos publicitários ainda é direcionada à televisão, as necessidades do dia a dia engolem a elaboração de projetos mais inovadores que adiantem o futuro, mas é preciso observar as transformações para não ficar para trás. Na maioria dos casos, nosso trabalho está baseado no curto e no curtíssimo prazo. Porém, é preciso estar conectado com tudo isso para não perdermos o trem da história”, alerta. “O grande poder que a TV detém hoje ainda é a idolatria dos conteúdos. Por outro lado, os youtubers já são um fenômeno violentíssimo. Alguns chegam a obter mais audiência do que programas de TV”, diz.

O VP de criação da Wunderman também chama a atenção para a velocidade imposta pelos consumidores digitalmente nativos. “Tudo no mundo digital é instantâneo. As ações na internet costumam ter, em média, três dias de duração. Depois disso, ninguém mais quer saber daquilo. Precisamos estar preparados para criar conteúdo todos os dias”, observa Sanna. “O mercado está se movimentando tão rápido que o que fazemos hoje pode não funcionar mais daqui algum tempo. Há dois anos falávamos de Facebook. Hoje é Instagram, Periscope. Nosso mercado é uma montanha-russa que se transforma a cada dois anos”, conclui.