Como na famosa frase “Vocês vão ter que me engolir”, de Zagallo, ex-técnico da Seleção Brasileira de futebol, assim será o futuro do debate em torno da classe C, ou nova classe média. O certo é que a classe C veio para ficar, principalmente as mulheres, e as empresas precisam aprender e entender a correta comunicação, como afirma o sócio-diretor do instituto Data Popular, Renato Meirelles.

“Se é verdade que o poder mudou de mão no Brasil, é também verdade que as mulheres protagonizaram este processo”, afirmou durante evento promovido pelo instituto e a Abril Mídia para o lançamento da pesquisa “As poderosas da nova classe média brasileira”. As mulheres da classe C movimentam um montante de R$ 400 bilhões, respondendo por R$ 41 de cada R$ 100 da renda familiar.

Caberia também a enigmática: “Decifra-me ou devoro-te”, da obra Édipo Rei, de Sófocles. E é isso que o estudo procura fazer. “Não dá para pensar em ser líder de mercado sem conquistar as mulheres da nova classe C”, acrescenta Meirelles. Como exemplo, ele cita que 56% dos perfumes importados são comprados por este público, com um tícket médio de R$ 300. “Pode não caber no bolso o valor cheio, mas R$ 30 em 10 vezes dá”. O público da classe, pelo critério analisado, tem renda de R$ 326 a R$ 1.390.

As mulheres da nova classe C se destacam pela constante realização de sonhos. Desde a primeira viagem de avião ao “sonho consumado” de aquisição do primeiro carro. 39% querem emagrecer, mas não como as mulheres da classe A. “Elas se assumem como gostosas”, afirma Meirelles. Projetam curso de inglês (38%) e viajar para o exterior (20%), mas com o direito da “roupa justa, colorida e saia curta”, segundo a pesquisa. “Não pode confundir querer ser rico com ser como rico”, distingue o executivo. Para ele, o momento é de “opportunities of mind”, ao invés de “top of mind”, qual a classe C exigindo cada vez mais qualidade.

De acordo com a pesquisa, a importância dada às marcas é crescente. O segmento em que a marca é mais levado em conta é alimentação, seguido de personal care, eletrodomésticos, home care e maquiagem. Como consequência, também são mais fiéis às marcas. “Além da qualidade, a marca tangibiliza a ascensão dela nos últimos anos”, explica o executivo do Data Popular.

A nova mulher identificada na pesquisa é cada vez mais independente. 70% almejam uma carreira, e não um trabalho; e 56% afirmam não sacrificar o tempo com o família pelo trabalho. Ou seja, é uma mulher que sabe lidar com os mundos. 72% dizem ser cuidadosas com o dinheiro, enquanto 71% planejam antes de comprar. Outra característica é poupar para os momentos de urgência e só parcelar se o valor for alto.

Uma das explicações para o empoderamento feminino está no acesso à tecnologia: a penetração de jovens até 24 anos na internet é igual em todas as classes, aponta a pesquisa. Diferentemente dos homens, as mulheres da nova classe média perguntam antes de comprar, estão “doidas por um notebook”, 46% querem comprar um nos próximos meses, e 60% têm celular de dois ou quatro chips, além disso 50,8% pretendem comprar um novo aparelho no intervalo de um ano independente do número de chips. Afinal, para que gastar dinheiro pagando caro a uma só operadora? “Na classe C nome de operadora virou sobrenome”, explica o executivo.

O trunfo é a educação: “É a grande propulsora dessa mulher. A diferença de salário é maior na elite do que na classe C”, destacou Meirelles. O movimento é impulsionado pelo nível mais alto de estudos que as mulheres têm frente aos homens. São elas, inclusive, que os estimulam a voltar ou continuar os estudos – as mulheres representam 57% do total de universitários brasileiros.

E exatamente por essa melhora de nível de estudos que o executivo afirma que o crescimento da classe C não é uma bolha. “É a garantia de que vai continuar crescendo. Mulheres mais educadas terão filhos mais educados”, disse, apontando o aumento de filhos da classe C em escolas particulares.

O estudo compreende cinco mil pessoas presencialmente, além de 30,6 mil online, provenientes dos 26 estados brasileiros. Também estão contidas na pesquisa observações etnográficas com 12 famílias em três estados e entrevistas com especialistas.

por Marcos Bonfim