1. São Paulo é uma das cidades mais caras do mundo para se viver, o que parece não preocupar nosso governo municipal, que insistiu em um aumento absurdo para o IPTU de 2014, sob a alegação de que só os ricos seriam afetados.
Dramatizou o prefeito ao ameaçar cortes drásticos nas verbas de educação e saúde com a majoração pretendida no tributo impedida pelo Poder Judiciário, que já se manifestou em definitivo por meio de decisão do STF na última sexta-feira (20), indeferindo o recurso da Prefeitura de SP.
É necessário explicar ao alcaide que os ricos que ele queria atingir possuem mecanismos de transferência dos seus aumentos de custos, sobrecarregando através deles os menos favorecidos.
O demagógico recurso de jogar pobres contra ricos, na tentativa de vender a ilusão de justiça social, não cola mais em centros avançados como a capital paulista.
Ideal seria se o prefeito, precisando de mais verbas para implantar seus projetos que ambicionam melhorar a qualidade de vida dos seus governados, combatesse para valer a corrupção que campeia na administração pública de São Paulo, como os jornais têm noticiado nas últimas semanas.
Aumentar brutalmente o IPTU, imaginando que somente os proprietários (e, portanto, os ricos alvos da sua mira) seriam atingidos, é desconhecer a realidade das locações residenciais e comerciais, onde os locatários, além do aluguel, respondem pelos tributos que recaem sobre os imóveis que ocupam.
O Brasil que queremos e que ficou claro nas manifestações de junho não comporta mais o aumento escorchante dos impostos, mesmo que mascarado por alegações de melhor distribuição de rendas e outras balelas que há décadas estamos cansados de ouvir.
Quanto mais eles dizem que lutam pelos pobres, mais pobres temos não só em São Paulo, como em todo o país. Sabemos todos, ademais, que não conseguindo nivelar a população por cima, resulta o nivelamento por baixo, com o aumento considerável dos mais necessitados.
Se a visão estreita dos nossos governantes os impede de melhor olhar ao redor, que pelo menos olhem o que se fez (e se faz) lá fora com idênticas políticas, que a nada levam a não ser gerar mais miséria.
2. Dentro desse contexto, embora sob outro viés, é bom que se atente para a balbúrdia instalada no trânsito em São Paulo, com o prefeito lembrando em muito seu antecessor mais famoso e que chegou à Presidência da República, onde pouco durou.
Sim, estamos nos referindo a Jânio Quadros, que virou um terror para os munícipes paulistanos, quando prefeito, ao se entregar à prática de proibições absurdas (mais tarde repetidas em Brasília, como a que o tornou alvo de toda sorte de gozações, ao proibir rinhas de galos).
Havia quem dele gostasse – isso sempre ocorre –, tanto que chegou ao mais alto cargo do Executivo do país. Mas, por sua obra e graça, ou falta de graça, o país viveu momentos turbulentos com a sua renúncia, que acabou desaguando no golpe militar de 1964.
O atual prefeito de São Paulo não chega a tanto, até acreditamos ser melhor intencionado que Quadros, mas falta-lhe uma visão de conjunto mais ampla, principalmente no que se refere aos transtornos da mobilidade urbana.
Seu governo deve operar para todos e não apenas para quem anda de ônibus. Se estamos numa democracia e isso me permite não só ter (sendo possível) como desfrutar de um automóvel, cujo movimento de vendas aumentou consideravelmente após os favorecimentos do governo federal sobre o IPI, que logo mais serão extintos, devo merecer estudos por parte das autoridades para evitar restrições ao meu direito de ir e vir.
A contradição é tão grande que escapamos por um triz nestes últimos dias de ser autorizada a continuação do fabrico dos veículos automotores sem airbag e freios ABS a partir de 2014, com destaque para a histórica e cinquentenária Kombi, que até carta de despedida “assinou” em forma de testamento, em uma jogada de mestre do seu fabricante e da agência de propaganda que há décadas lhe presta bons serviços.
A história é curta: sabedores que funcionários da linha de produção sem airbag e freios ABS seriam despedidos a partir do próximo ano, dirigentes sindicais se movimentaram no sentido de ser tolerada por mais tempo a ausência desses itens de segurança nesses veículos.
Após muitas discussões, prevaleceram o bom senso e a obrigatoriedade de todos os veículos saídos de fábrica a partir de 1º de janeiro serem portadores dos tais itens de segurança. Nada mais certo, mas foi por um triz.
O que tem a ver uma coisa com outra? Tudo. Mostra o descompasso entre movimentos de uma mesma linha de pensamento.
3. Para piorar, persegue-se agora o táxi, ameaçado de não mais poder circular nos corredores criados exclusivamente para os coletivos (táxis com dois ou mais passageiros também não poderão…). A ideia dessa proibição, naturalmente, prende-se ao fato de julgarem que pobre não anda de táxi, o que é, isto sim, um pensamento elitista. Pode não andar com frequência, mas ao surgir uma urgência torna-se necessário.
Estabelecida mais essa confusão, aparecem os profetas do caos propondo, como noticiaram os jornais dos últimos dias, dois corredores exclusivos nas principais avenidas e ruas de São Paulo: à direita, somente para táxis; à esquerda, somente para ônibus. No meio, que se virem os carros, vans e outros meios de transporte que não são fabricados para “uso coletivo”.
O grande benefício para esses profetas reside no fato de que falar bobagem não paga (ainda) impostos.
4. Em um país que adora venerar infratores, noticiou-se com alarde a morte de Ronald Biggs, um dos autores do roubo ao trem postal do Reino Unido, que rendeu à quadrilha (15 delinquentes) uma fortuna estimada em 2,6 milhões de libras esterlinas.
O que pouco se falou a respeito do roubo na época e nunca mais depois é que foi assassinado pela quadrilha um funcionário do trem que fazia a sua guarda. Biggs fugiu para o Brasil, casou com uma brasileira, teve um filho idem e aqui virou celebridade, sendo a sua presença disputada durante três décadas em muitos importantes eventos sociais.
Que país é este?
5. Boas Festas e um grandioso 2014 aos nossos leitores, anunciantes, parceiros e amigos.