Decidi ser publicitário muito cedo, devia ter uns 16 anos. Então, em 1995, com 22 e já alguns de propaganda, estava estressado, gordo e com muita vontade de mandar tudo pra aquele lugar que, obviamente, não ficava ao sul da França.

Fechei a mochila e a conta no banco, vendi o carro, tranquei a faculdade e pedi demissão da minha vida. Na época, fui pra não voltar. Coisa de gente moça, como diria minha querida sogra. E assim, em junho de 1996, já se ia quase um ano de muita vagabundagem europeia, quando bateu aquela saudade que definitivamente estabeleceria o que sempre quis ser: um publicitário.

Estando por ali, por que não ir a Cannes? Um trem a mais ou a menos não mudaria nada. Então, larguei uma vida sem regras na Espanha e me pirulitei pra Riviera uma semana antes de o evento começar: sem lenço, documento, crachá e dinheiro no bolso.

Provavelmente devo ter sido o único publicitário da história do festival a ir a Cannes e ficar em um albergue da juventude. E, lá chegando, caiu a minha ficha de que não bastava estar próximo do Palais: eu tinha que entrar, ver, ouvir e, obviamente, estar nele.

Por sorte, e eu acredito em sorte, o francês que limpava o nosso hostel tinha trabalhado na montagem do festival e possuía um poderoso crachá de serviços, daqueles com um STAFF preto bem grande.

E lá fui eu, com a foto 3×4 trocada e um nome francês esquisito, ver, ouvir e estar no festival. Além de ter sacramentado meu destino, foi a primeira vez que tive contato com a propaganda de grande porte e de nível internacional tão de perto. Em 1996, a internet só existia nas universidades americanas, então, Film, Press & Poster e Grand Prix ainda eram bacanas e cobiçados.

Foi a concretização de um sonho e também a certeza de que eu precisava voltar pra aquele mundo.

O Brasil fez bonito naquele ano com uma série de Leões em várias categorias, e muitas festas fizeram as minhas noites na Riviera, festas inesquecíveis e… Impublicáveis.

Meus amigos brasileiros me adotaram lá. Nunca vou me esquecer da reação do Jaques Lewkowicz quando me viu 18 quilos mais magro, barbudo, de brinco, bolsa de corda e Havaianas, perdido na porta do Palais: “Grynbeeeerg, você tá com fome?!”. Almocei e jantei com a turma dele quase todos os dias…

Enfim, ainda fiquei mais alguns meses perdido pela Europa, mas agora tinha certeza de que nada mais na minha vida faria sentido longe dessa profissão.

Tentei emprego em várias agências de Londres, cidade em que me estabeleci por mais tempo durante os anos em que fiquei fora. Consegui, por meio de amigos brasileiros, “estágios ilegais” em agências, afinal eu não tinha visto de trabalho; dediquei-me a alguns cursos, a melhorar o inglês e a entender tudo o que aquela experiência estava me proporcionando.

Até que voltei. Por causa da publicidade e pra publicidade.

Voltei direto pra agência da qual eu havia me demitido e que, mesmo assim, tinha me alimentado generosamente em Cannes.

E assim 17 anos se passaram.

No próximo mês de junho estarei de volta a Cannes pra comemorar com eles os 60 anos de festival, com algumas diferenças e outras nem tanto: em um hotel bacana, com um crachá com meu nome (não menos esquisito que o francês), mas sem brinco ou bolsa de corda e nem tão mais magro assim…

Porém, barbudo novamente e com a mesma vontade de continuar vendo, ouvindo e vivendo essa experiência. Que, da mesma forma que eu, mudou muito nos últimos anos, mas continua privilegiando o que de mais importante e essencial temos na nossa profissão: boas e originais ideias.

*Diretor de operações e atendimento da NBS em São Paulo