Ricardo Hoffmann, preso no último dia 10, em Brasília, por envolvimento em operações ilícitas

Especula-se que a recente divulgação do envolvimento das agências Borghi/Lowe e FCB Brasil em operações ilícitas ligadas às contas de governo é apenas o começo de um longo pesadelo de suspeitas e revelações. Preso desde o último dia 10, o ex-vice-presidente do escritório da Borghi/Lowe em Brasília, Ricardo Hoffmann, foi o estopim do processo ao tornar-se suspeito de pagar propina a LSI e Limiar, empresas fantasmas do ex-deputado André Vargas, em troca de contratos de publicidade com a Caixa e com o Ministério da Saúde.

Hoffmann decidiu fazer um acordo de delação premiada para atenuar sua pena. Da delação premiada devem surgir novas denúncias – e, segundo fontes do propmark, existem pelo menos meia dúzia de agências sendo investigadas no momento, além das já citadas publicamente.

“Se houver mesmo a deleção premiada, as coisas podem ficar muito ruins para a publicidade porque o fato é que poucos ganham concorrência por competência apenas. Os ‘agentes’ de concorrência vão ter nome a ação citados, o que pode ser um drama para a atividade”, disse uma das fontes do propmark.

André Vargas está na mira da operação Lava Jato, neste caso pelo envolvimento em um esquema de pagamento de propina através da bonificação por volume (BV) de 10% em cima de contratos de produção – verba transferida diretamente por produtoras para as contas do deputado. Em troca, haveria a influência na escolha da agência de publicidade para atender as contas públicas.

Ao depor, Hoffmann envolveu o presidente da Borghi/Lowe, José Henrique Borghi – que negou conhecer o deputado. A Justiça também determinou a quebra de sigilo bancário e fiscal das produtoras Conspiração Filmes, Sagaz Filmes e Zulu Filmes, além das produtoras de som E-noise e Attak – todas envolvidas em repasses para empresas de Vargas. Um dos pagamentos presentes na planilha  encontrada pela Polícia Federal envolve repasses da O2 Filmes por orientação da FCB Brasil.

Em comunicado, a agência afirmou que a transferência foi feita sem examinar adequadamente a propriedade da empresa, que o repasse foi solicitado por Hoffmann como remuneração devida a ele por um projeto de consultoria – uma vez que as agências pertencem ao mesmo grupo, o Interpublic.

Apuração

Em nota, a O2 Filmes afirmou que “tomou conhecimento pela imprensa de que seu nome consta em relação de empresas que fizeram depósitos à LSI – Solução em Serviços Empresariais, com a qual a O2 nunca manteve qualquer relação”. A produtora afirma ter apurado que o referido depósito se deu por conta e ordem da FCB Brasil “a qual, em razão da relação comercial que há muito mantém com a O2, era sua credora. Referido depósito, portanto, visou unicamente quitar o crédito que a FCB detinha contra a O2, a pedido e sob total responsabilidade da FCB”.

A operação Lava Jato desencadeou uma grande investigação envolvendo contas federais de publicidade. Especula-se que o pente-fino será caprichado: Ministério Público, Receita Federal, TCU, Controladoria Geral da União e Polícia Federal estão fazendo os seus levantamentos paralelamente. Enquanto isso, projetos de lei que prejudicam o mercado publicitário começaram a tramitar mais rapidamente, segundo fontes do mercado. A concessão de BV às agências que atendem às contas de publicidade do governo federal é um dos assuntos que deve entrar em pauta.

“O que a lei permite é participar de planos de incentivo de veículos, no caso de veiculação. Não tem como defender uma comissão sobre a produção que não beneficia, de alguma forma, o anunciante.

É uma questão ética a ser tratada”, opinou uma fonte do propmark. Espera-se também um movimento reativo por parte das multinacionais, cujos nomes vêm sendo envolvidos em irregularidades legais.

“As multinacionais envolvidas pertencem a grupos com ações em Bolsas e escândalos como estes causam desvalorização e perda de credibilidade junto ao mercado global. A legislação internacional é rígida contra a concessão de propina em contratos firmados com governos”, observou a fonte do propmark.