O vexame proporcionado pelo presidente da Embratur, ao gravar um vídeo tosco na forma e simplório no conteúdo, “vendendo” o Brasil para turistas, é o retrato do que acontece onde e quando o marketing não tem nenhuma relevância.
Sem um comando estratégico competente, toda a comunicação fica exposta a riscos tremendos. Não apenas daquele padrão, escancarado pela Embratur (aliás, não é a primeira vez que a Embratur dá vexame no atual governo: lembram do “lançamento” da nova logomarca e da assinatura proposta?).
Sob profissionalismo de marketing com poder, o ex-quase-ministro Decotelli teria poupado a si e ao governo de mais um desastre, sobretudo de comunicação. Teria sido alertado sobre obviedades, com que a vaidade e a ansiedade costumam negligenciar. Por exemplo, o fato de que a sua vida seria profundamente escarafunchada pela mídia, assim que seu nome fosse posto em evidência.
Antes, portanto, de qualquer anúncio presidencial, o sujeito seria chamado numa sala denominada “departamento de marketing” e questionado: o senhor tem alguma coisa na sua história que possa desaboná-lo, alguma anotação no seu currículo que não possa ser confirmada?
Ou seja, exponha a sua capivara aqui e agora, porque senão, depois, o Jornal Nacional vai se encarregar disso com muita competência. Mas no governo Bolsonaro não funciona assim. Aliás, não funciona de jeito nenhum. Primeiro, porque há uma aversão ideológica a tudo que remeta à cultura, seja arte, seja marketing. Segundo, porque o exemplo de conduta que vem de cima é de ignorância e de arrogância. Isso encoraja as atitudes individuais, tomadas sob critério (ou falta dele) pessoal. E cada um age como bem entende.
Malandros escolados se comunicam como malandros escolados, doidos de pedra se comunicam como doidos de pedra, fanáticos fundamentalistas se comunicam como fanáticos fundamentalistas, milicos padrão se comunicam como milicos padrão… Em comum, apenas a falta de inteligência estratégica para a construção de uma imagem de governo.
Resida aí, talvez, a pouca urgência das cabeças dotadas de poder na oposição, pensantes e de bom senso, em trabalhar pelo impeachment. Suficientemente inteligentes, já sacaram que esse é, como se falava antigamente, um governo “leite Glória”, que “desmancha sem bater”. É um governo que não aprende com os erros porque é um governo que não conhece o certo. Pior: tem preconceito contra o certo.
A absoluta falta de responsabilidade com a comunicação demonstra claramente o receio de delegar o exercício de talento a alguém talentoso. Prevalece a escolha por simpatia ou afinidade. Também é verdade que existe uma dificuldade adicional e não menos relevante, a de que as melhores cabeças disponíveis não estarão dispostas a se somar a essa espécie de exército Brancaleone tupiniquim.
Devemos, portanto, admitir que a percepção de que o Brasil vive sob uma lona de circo vai levar mais algum tempo. Um pouco mais tensos, se Trump ganhar; um pouco mais relaxados, se Trump perder. A única diferença perceptível num futuro próximo.