“Tentar enganar o consumidor”, “negar e debochar”, “fingir que não está acontecendo nada”, “maquiar a situação”, “não se pronunciar”, “não reconhecer os danos”, “não assumir a responsabilidade”.
Esses foram alguns pontos levantados por profissionais de relações públicas sobre os erros que uma personalidade ou uma empresa podem cometer durante uma crise.
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Executivos das agências CDN, Edelman, InPress, Melina Tavares, MField, Mynd e RPMA, que lidam com marcas e/ou personalidades, foram consultados por PROPMARK para reportagem desta edição (leia aqui) que trata sobre o gerenciamento de crise na era das redes sociais e do cancelamento.
Confira abaixo seus depoimentos sobre os erros que “cancelados” não podem cometer caso queiram reverter a situação:
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Fernanda Dantas, head de digital e inteligência de dados da CDN Comunicação: “Negar. Fingir que não é com ela. Uma marca coerente com seu propósito saberá reagir com sensibilidade e agilidade à crise. O nível (de danos) está diretamente relacionado à reação da marca. Uma reação ágil, eficiente e sensível à crise é essencial.”
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Gabriel Guimarães, gerente de contas da Edelman Brasil: “Costumamos dizer que nenhuma pessoa, empresa ou instituição está imune a enfrentar uma crise. E nos arriscamos a ressaltar que para isso acontecer é uma questão de tempo. Entrar em estado pleno de negação é a pior coisa a se fazer. Por outro lado, o maior desafio quando se lida com uma onda de cancelamento é entender o momento certo de se posicionar, como se posicionar e com quem se posicionar. Alimentar os trolls nunca é uma boa opção.”
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Eraldo Carneiro, head de gestão de reputação e propósito na InPress Porter Novelli: “O pior a se fazer é ignorar a agitação social ou maquiar a situação. É preciso ser empático e verdadeiro. O discurso tem que estar em sintonia com suas ações; não fale algo só para ser ‘politicamente correto’ ou para aplacar a ira do grupo contestador. Seja claro, direto e – se possível – atue de forma personalizada. Antes disso, faça uma boa lição de casa. O cancelamento massivo não é uma ‘aversão gratuita’, ele deve ser encarado também como uma forma de chamar atenção das marcas. Fique atento porque fidelidade e apreço por seus produtos não lhe isentam desse turbilhão digital. Empresas com um propósito autêntico tendem a se sair melhor diante do olhar atento e crítico do consumidor. Quase três quartos (73%) assumem que têm menos probabilidade de cancelar uma empresa se ela for guiada por um propósito genuíno, segundo o estudo da Porter Novelli.”
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Melina Tavares: “Tentar enganar o cliente é uma das piores coisas que a marca pode fazer. Mentir, omitir, não se pronunciar. Os consumidores querem uma resposta, e eles sentem quando ela é verdadeira ou não, quando há mais naquela história do que está sendo contada. Mesmo se a omissão ou mentira passar despercebida naquele momento, ela pode vir à tona mais tarde, e as consequências nesse caso podem ser irremediáveis para uma marca, que perderá sua credibilidade no mercado.”
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Flávio Santos, CEO da MField: “Negar e debochar. Não dá pra ser cancelado e fingir que nada está acontecendo e que todas as pessoas são doidas, muito menos debochar da situação que causou isso. A cura do cancelamento é a empatia, e essa regra vale para todos os lados e situações. A cultura do cancelamento pode encerrar carreiras, encurtar sonhos e deixar marcas psicológicas incalculáveis. Ter profissionalismo, jogo de cintura e cabeça no lugar conta muito.”
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Fátima Pissarra, CEO da Mynd: “Sair bancando todo mundo e falando que é assim mesmo. Não. Quando ocorre um cancelamento ou início de cancelamento, o influenciador precisa analisar o que ele fez, como as pessoas entenderam, e explicar a razão pelo qual falou aquilo, de que forma, e se foi um aprendizado ou não foi. Sempre é complicado, porque as vezes mesmo a pessoa se arrependendo, o julgamento e o cancelamento parecem que aumentam ao invés de diminuir. Hoje está praticamente como se a pessoa não tivesse uma segunda chance. Várias vezes a gente aconselha a realmente permanecer em silêncio após o primeiro posicionamento, e esperar tudo passar, porque cada vez que a pessoa fala parece que só aumenta. Acho que o principal é não soar fake e dar uma resposta rápida.”
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Adriane Ahlers, diretora de novos negócios e marketing e gestora do Comitê de Crise da RPMA Comunicação: “Não reconhecer os danos causados e não reagir e esperar passar, sem assumir a responsabilidade. A negação dos fatos e seus impactos, reações inflamadas às críticas, falta de posicionamento, intolerância com as demandas que a crise aponta podem colocar toda a estratégia a perder. Neste sentido, o preparo e a prevenção de cenários e seus desdobramentos são passos essenciais a serem tratados.”