Não foi fácil encontrar um tema para comentar neste espaço. Todas as ideias que surgiram ao longo da semana passada e outras que pipocaram diante da tela em branco automaticamente se desfizeram enquanto despontavam toda sorte de escândalos em Brasília, gravações vazadas, panelaços, manifestações, plantões jornalísticos intermináveis na TV com jornalistas perplexos tentando dar algum sentido à sucessão de estranhas notícias e soar minimamente serenos diante das câmeras. Nas redes sociais, enxurradas de opiniões, relativizações, chutações de balde, jogações de merda no ventilador, formando um imenso deserto inconsistente e repleto de nada.
Mas algo não me saiu da cabeça o tempo todo: o papel do jornalismo em horas como essa. Sei que pode soar naïf, mas, enquanto assistia a canais de notícias na TV e lia as notícias na internet, só pensava em ler os jornais do dia seguinte, ver suas capas e conhecer o ponto de vista de alguns colunistas que admiro. No caos da enxurrada de informações, as pessoas tendem a, como eu, buscar marcas de jornalismo que lhes deem alguma segurança, daí a importância, para os veículos de informação, de cuidar muito bem delas.
Por coincidência, na semana passada chegou às minhas mãos o importante relatório da International News Media Association (veja reportagem nesta edição). Nele, em destaque, uma declaração de F. Scott Havens, presidente global da área digital da Bloomberg Media: “Há alguns anos as pessoas diziam que as marcas de veículos estavam mortas porque as redes sociais erradicavam a sua necessidade, mas a realidade mostrou que as marcas fazem diferença quando há uma enxurrada de informações difícil de consumir”. É nessa hora, e precisamente em momentos como esse que estamos vivendo no Brasil, que as pessoas buscam o auxílio de suas marcas (re)conhecidas.
Manter a força e a credibilidade das marcas na mídia noticiosa, como se sabe, não tem sido fácil, especialmente para empresas que, ao contrário de players como Bleacher Report, Complex Media e Vice Media, não nasceram digitais, e precisam lidar com o fato de que se fatura menos com o modelo digital do que sempre se faturou, historicamente, com o impresso. Em muitos casos, apesar dos ajustes, segue o descompasso entre o tamanho das redações e a rentabilidade do conteúdo que elas produzem.
A sobrevivência da maioria das empresas de jornalismo passa, primordialmente, pela intensidade da relação construída entre a(s) sua(s) marca(s) e as pessoas. Quão engajada é sua audiência com sua visão de mundo e a maneira com que você conta a história do mundo? A relação das pessoas com sua marca é emocional ou meramente transacional? Como fortalecer uma marca de jornalismo junto às audiências Z e outras letras desse complexo alfabeto do futuro que ainda virão?
O importante é que o valor que se dá ao conteúdo e à audiência num jornal é crucial para determinar o que o move para a frente (ou não). Um belo filme sobre a potência do bom jornalismo é, claro, Spotlight. Estão ali, quero crer, os fundamentos que ainda regem a vida nas (boas) redações há um bocado de tempo. Quero crer que alguns princípios, como a ética, são eternos. Earl Wilkinson, presidente da INMA e autor do relatório que traça o futuro das empresas de jornalismo no mundo, lembra que o bom jornalismo se sustenta pela chama questionadora e proativa da busca a verdade, como em Spotlight. Mas não só. O bom jornalismo hoje é parte de um “pacote” que envolve a marca que o sustenta, e inclui como as notícias são embaladas, com que anunciantes se associa, como engaja e interage com leitores. Segue o jogo.
Claudia Penteado é jornalista e repórter do PROPMARK