Parte importante da história da publicidade brasileira ganha um novo registro definitivo nesta quinta-feira (12), com o lançamento do livro “Não conformistas, dissidentes e rebeldes”. Idealizada e escrita por Luiz Cama, vice-presidente corporativo da Ogilvy e um dos mais longevos profissionais da agência, juntamente com o jornalista Pedro Cavalcanti, a obra reúne os principais acontecimentos históricos em que esteve envolvida desde a fundação da Standard, em 1933 – a qual deu origem à operação brasileira da rede pertencente ao WPP –, até a consagração de sua nova forma de atuação, baseada na criatividade e nos preceitos de David Ogilvy, coroada com o título de Agência do Ano do Cannes Lions 2013.
“É uma história fabulosa, que começou com um homem notável, Cícero Leuenroth, filho de um grande publicitário – Eugênio Leuenroth, fundador da Ecléctica. Ele rompeu com inúmeros paradigmas e colocou o Brasil na modernidade da propaganda quando, após voltar de seus estudos nos Estados Unidos, abriu sua própria agência, a Standard. Foi aí que tudo começou”, introduz Cama.
Daí para frente, são relatados – e ricamente ilustrados com imagens de anúncios e de época – atos como o crescimento da operação inicial, a evolução e o comportamento da mídia no Brasil, a criação de datas comerciais como o Dia das Mães e o Dia dos Namorados, a internacionalização do país, a entrada para a rede Ogilvy, os processos de sucessão e a reformulação de pensamento dos anos recentes, entre tantos outros – passando, é claro, pelas principais campanhas e grandes profissionais que foram parte integrante do processo.
Presidente do Grupo Ogilvy Brasil, Sergio Amado classifica o livro como “uma preciosidade histórica”. E ideia foi reconstruir a história da publicidade brasileira. Foram 80 anos de uma estabilidade que raramente se vê por aí”, acrescenta, lembrando outro dado interessante de destaque do livro: apenas quatro profissionais presidiram a agência durante todos esses anos – entre as gestões de Leuenroth e Amado, passaram Flávio Corrêa, o Faveco, e Ronald Assumpção.
Resgate
Foram cerca de dois anos desde o início da pesquisa e levantamento histórico junto do material da própria agência, de bibliotecas, da mídia, de acervos pessoais e de profissionais que vivenciaram o processo, até a finalização da obra. “Foi um processo intenso e doloroso, já que tivemos que deixar muita coisa de fora. Teríamos material para fazer um livro pelo menos cinco vezes maior que este. Foram mais de 40 entrevistas ao vivo ou por telefone, além de 70 depoimentos recebidos de pessoas que fizeram parte dessa história”, revela Cama.
Entre as histórias mais curiosas, o autor destaca o dia da venda da Standard para a Ogilvy, que por pouco não integrou outra famosa rede de agências. “Em algum dia do primeiro semestre de 1969, o Cícero foi para Nova York para assinar a venda da agência. Curiosamente, ela estava vendida não para a Ogilvy, mas sim para a Y&R! Um dia antes de assinar o contrato, o David Ogilvy ligou para ele e o convidou para um jantar. Ele questionou por que o Cícero não vendia a agência pra ele, e ouviu que seus executivos engravatados consideravam que o negócio não era viável, que havia muito risco, e por isso iria no dia seguinte, às 9h, assinar o contrato já preparado com a Young. Então o próprio David tomou a frente da negociação e, às 9h30 do dia seguinte, o Cícero estava ligando para a Y&R para se desculpar, pois a agência estava vendida para a Ogilvy”, revela Cama. “Se não fosse por esse jantar, provavelmente nenhum de nós estaria aqui agora!”, brincou.
Novos capítulos
As últimas 40 entre as 250 páginas do livro trazem a história recente da Ogilvy, com destaque ao resgate dos conceitos pregados por David Ogilvy – externados nos movimentos “Being more David”, de 2008, e “Divine Discontent”, de 2011. “Quando cheguei, em 2007, só o Luiz Cama falava sobre o David Ogilvy. E conversando com o Fernando Musa (CEO da Ogilvy & Mather Brasil), chegamos à conclusão de que, se quiséssemos mesmo realizar a transformação que estávamos planejando, todos aqui dentro tinham que conhecer seus ensinamentos e coloca-los no dia a dia. Esse foi nosso ponto de partida”, enfatizou Anselmo Ramos, vice-presidente nacional de criação da Ogilvy Brasil, um dos principais responsáveis pela virada criativa que levou a agência ao prêmio máximo de Cannes este ano.
Para os próximos anos, a pretensão da Ogilvy é repetir o que está acontecendo agora, ilustrado pelo sucesso mundial do case “Retratos da real beleza”, elaborado para a Dove, e que garantiu o primeiro Grand Prix brasileiro de Titanium no festival. “O que a gente faz, só tem relevância se as pessoas de fora do nosso mercado comentarem sobre isso. Nosso desejo para o futuro é entregar esse tipo de trabalho para o maior número de clientes possíveis”, acrescentou Musa.