Recentemente, tivemos uma surpresa com a grade de palestrantes do Code Mobile, evento organizado pela Re/code, na Califórnia, e que abordou a revolução móvel que está acontecendo no mundo tecnológico e dos negócios. Entre os nomes que discutiram as recentes tendências em tecnologia estiveram Susan Wojcicki, CEO do YouTube, Kevin Systorm, CEO do Instagram, e Kim Kardashian… opa! Como assim?
Kim Kardashian é uma especialista em tecnologia agora? Sério? Muitos dos que estavam acompanhando a conferência no Twitter não estavam convencidos. Por isso, Kara Swisher, co-editora de Re/code, teve de dar o pontapé inicial da entrevista e mostrar seus resultados impressionantes nas redes: 20.5M seguidores do Instagram, 24.8M seguidores do Twitter e um jogo para IOS que conquistou milhões de downloads no ano passado e calcula chegar a 200 milhões nesse ano (e ela faz tudo isso através de um Blackberry – que ama!). Se isso não é uma potência experiente em tecnologia móvel, é o que?
Kim Kardashian é muito mais do que uma estrela de reality show neste momento. Mas seu sucesso e pioneirismo nas mídias sociais, de certa forma, está diretamente ligado ao motivo dela ter conseguido o primeiro lugar no famoso programa “Keeping Up with the Kardashians”. Atualmente, ela está por trás de tudo que é postado em suas redes. Fã deste contato, ela aposta nele como ferramenta de manutenção de seu público.
Assim como ela, estrelas de reality shows são bons exemplos de artistas que têm apelo enorme, grande reconhecimento de marca e (alguns) o talento para ter carreiras de sucesso após o show terminar. No entanto, quando eles são “apenas” novas celebridades e não possuem nenhuma influência sobre os produtores de televisão, seus potenciais podem ser descartados e escondidos em salas de edição, fazendo com que suas carreiras acabem antes mesmo de realmente começar. E é aí que entra o poder dos meios digitais de comunicação social. Eles são as chaves para estes artistas mostrarem seu melhor (ou não), permitindo a conexão direta com o público. Cada vez que Kim está online, ela pode se conectar com uma audiência duas vezes maior que o tamanho do público médio de um episódio do The Voice, na NBC. Facilitando assim não só este contato, como também a ramificação para outros empreendimentos, como a criação de seu aplicativo móvel, por exemplo.
Outro bom exemplo do que vimos fora do Brasil de grande força na mídia social é Ellen DeGeneres. Ellen tem cerca de 33M seguidores no Twitter e cerca de 100 milhões de visualizações no YouTube por mês. Ser uma estrela de TV, que tem seu próprio espaço de vídeo parece vital. Vendo esta brecha no caminho, Ellen lançou este mês o Ellentube – um site e um aplicativo móvel, por meio da plataforma da Kaltura, que permitem que os fãs vejam os destaques de seu programa, clipes adicionais e até que façam uploads de seus próprios vídeos caseiros.
Mas, qual o sentido disso? Se já tem sucesso no Facebook, Twitter e You Tube, qual a razão de uma celebridade construir seu canal próprio e ir além das redes?
Por meio de um lugar só dela, é possível ver a construção de uma comunidade. No caso de Ellen, por exemplo, os vídeos enviados para o Ellentube são moderados – o que não é uma tarefa simples e exige uma grande equipe por trás. Porém, esta criação de um ambiente seguro é fundamental para a marca de Ellen. Se ela vai colocar todo o peso de seu nome por trás do projeto, ela deve certificar-se de que seus fãs vão se sentir completamente em casa. Este sentimento vai incentivá-los a voltar e a participar também. O ambiente (que os comerciantes geralmente se referem como “segurança de marca”) é a chave para atrair grandes patrocinadores, os quais normalmente se preocupam com o conteúdo que virá posteriormente e precisam escolher muito bem com qual gatinho bonito ou criança fofinha querem aliar sua marca. Assim, se a receita de bolo oferece conforto tanto para o seu público, quanto para os seus anunciantes, este site tem um enorme potencial de dar certo.
Todas essas ações visam uma coisa muito simples e importante no marketing: obtenção de dados. Em sua entrevista durante o Re/code, Kim Kardashian chamou seus seguidores no Twitter de “um focus group incrível”. A capacidade de obter respostas, não filtradas, diretos dos fãs não têm preço. Kardashian muitas vezes consulta seus seguidores sobre restaurantes onde ir e, com isso, consegue também usá-los na tomada de decisões de negócios. O Netflix, por exemplo, está usando sua base de fãs e a HBO está planejando fazer o mesmo para novos projetos. No caso de Ellen, isso já pode ser colocado em prática até em coisas mais simples, como uma decisão calculada para colocar um vídeo no programa, com base no que muitas pessoas gostaram no Ellentube e que trará muita audiência para a TV.
Assim, a palavra-chave de tudo é independência. Todos os exemplos resumem a capacidade da celebridade decidir como tomar suas atitudes com base em fãs fiéis. Criar o seu próprio site de vídeo ou aplicativo de um jogo não é fácil; é preciso investimento, tempo e conhecimento. No entanto, se unir as pessoas certas, o upside potencial é enorme. As celebridades conhecem seu público melhor do que qualquer especialista de fora e podem ser boas fontes para negócios de sucesso. Então, se eles são independentes para criar a sua própria experiência – e ter um canal direto com seus fãs – suas possibilidades no espaço digital são infinitas. O que vale é reconhecer esse conhecimento e navegar nessas novas áreas.
*Diretor de marketing de produtos da Kaltura