“O anel que tu me destes era vidro e se quebrou, o amor que tu me tinhas era pouco e se acabou” - Cantigas de Roda

O mundo vive hoje uma espécie de dança universal das cadeiras, lembram?

Aquela brincadeira que se fazia nas casas de família, e nos programas de televisão, onde sempre tinha uma cadeira a menos do que o número de participantes. E quando a música parava de tocar todos tinham de sentar. O que permanecesse em pé, pela falta da cadeira, estava desclassificado.

De certa forma, hoje o mundo vive uma grande dança das cadeiras. A música começou em ritmo de valsa lenta, foi acelerando, hoje já está entre samba canção e bossa nova, e muito proximamente vai virar frevo. E o número das cadeiras nos territórios convencionais cada vez mais diminuindo.

Nos novos territórios infinitas cadeiras a serem descobertas e conquistadas, mas, nos tradicionais, as cadeiras estão terminando. É o que acontece hoje no mundo.

Um mundo velho encerrando suas atividades, o número de cadeiras – mercado – diminuindo, e muitas empresas descobrindo-se em pé e perdidas, e, retirando-se.

Essa dança já começou em nosso país e vai se acelerando. Das grandes e tradicionais empresas, três já não tinham mais cadeiras para sentarem-se, perderam mercado, relevância, competitividade e, como na canção de roda Ciranda, Cirandinha: “por isso, dona Chica, entre dentro dessa roda, diga um verso bem bonito, diga adeus e vá embora”. E assim partem Ford, Mercedes e Sony.

Foto: Kim Becker/Unsplash

Hoje, no Brasil, milhões de compradores dos produtos Sony muito preocupados. Como proceder em relação aos produtos que compraram nos últimos anos, meses, semanas, se der problema...
E aí, como era de se esperar, estabelece-se o conflito e multiplicam-se as opiniões.

Segundo alguns, lastreados no Código de Defesa do Consumidor, as empresas permanecerão responsáveis por seus produtos de acordo com a vida útil prevista para cada um deles. Pergunta: quem vai determinar qual era a vida útil prevista?

Já outros dizem que toda a cadeia de valor é responsável. E não apenas os fabricantes. Assim, em caso de questionamentos na Justiça, respondem não apenas os fabricantes como os revendedores de automóveis, o varejo de produtos, e outros agentes econômicos da cadeia de valor.

Tentando prevenir todas as contendas que certamente acontecerão nos próximos meses e anos, o Procon de São Paulo vem procurando compor-se com as empresas retirantes estabelecendo uma espécie de pacto de relacionamento com os consumidores de boa-fé que compraram seus produtos.

Com a Ford, por exemplo, o Procon-SP celebrou um acordo em que a Ford compromete-se ao fornecimento de peças enquanto seus automóveis seguirem rodando... E agora tenta fazer o mesmo com a Sony.

Ou seja, amigos, nas despedidas, vão se os vínculos emocionais, e exacerbam-se as dúvidas, inseguranças e questionamentos.

Quando uma empresa fecha, ou retira-se, todos perdem. Uma empresa, mais que propriedade de dono, donos ou acionistas, é um bem da sociedade.

“A Barata diz que tem sete saias de filó/É mentira da barata, ela tem é uma só/Ah ra ra, iá ro ró, ela tem é uma só!”

Francisco Alberto Madia de Souza é consultor de marketing (famadia@madiamm.com.br)